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Opinião

Publicado: Quinta, 30 de Janeiro de 2020, 18h45 | Última atualização em Quinta, 30 de Janeiro de 2020, 20h01 | Acessos: 2202

Zélia Amador de Deus, amiga emérita

Por Jane Felipe Beltrão Foto Alexandre de Moraes

Da amiga, não preciso falar, pois a Zélia é uma estrela e, como tal, se possui algum “não predicado”, eu confesso que olvidei. Aliás, ao falar de Zélia Amador, as/os amigas/os lembram bons feitos, como diz Rosani de Fatima Fernandes, emergem as múltiplas facetas “... professora, artista, atriz, diretora, pesquisadora, ativista e mulher negra em movimento na luta por direitos ...”, ou como Tadeu Oliver Gonçalves informa: “... me senti um privilegiado, pois conheço, há décadas, a Zelinha ou Pretinha, como eu a trato carinhosamente ...”.

Caso eu insistisse em solicitar outros depoimentos, os qualificativos viriam de forma abundante, a ponto de as linhas deste espaço não serem suficientes para conter as expressões de júbilo daqueles que veem Zélia transformada em Ananse – aranha da mitologia africana que negociou com Nyame – o Deus do Céu – o resgate das histórias da humanidade que estavam escondidas e espalhou-as pelo mundo. A Ananse das muitas teias incorporou-se na Zélia, e a amiga nos desafia diuturnamente a tecer as redes da resistência forjada na luta pela descolonização e pelo antirracismo.

Destemida, ela nos ensina com as suas muitas histórias a tornar positivos os direitos de povos, comunidades e pessoas etnicamente diferenciados e historicamente subalternizados no mundo. Com olhos de lince, ela vê o que nos escapa e ensina, de maneira firme, a lutar pelos/as excluídos/as. O fato lhe vale reconhecimento regional, nacional e internacional como liderança lúcida e incansável, como registra Tadeu.

Rosani afirma que ouvi-la e analisar a trajetória de vida de Zélia “... é renovar as forças e as esperanças diante das adversidades. É acreditar que a igualdade que respeita a diversidade é possível!”. E nos convoca: “... sejamos Zélia(s)!”. É urgente inspirar-se em Zélia e escrever nossas histórias, em tempos difíceis, na(s) Amazônia(s), pois temos a obrigação de nos apresentar ao mundo como pessoas, intelectuais e, sobretudo, como cidadãos/ãs que somos, com a utopia de abraçar o pluralismo e a diversidade neste espaço social de pertença e/ou acolhimento que chamamos Amazônia(s).

As loas que tecemos à amiga fizeram sentido aos/às demais colegas, pois recentemente nossa Zélia foi içada à condição de professora emérita da UFPA, aclamada pelos/as membros/as do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), em data inesquecível, 19 de novembro de 2019, às vésperas do Dia da Consciência Negra. Não houve uma premeditação quanto à data da concessão do título que lhe foi concedido, mas, ao içá-la por mérito, agitamos a “bandeira da esperança” e assinalamos aos/às demais o valor da nossa emérita colega.

A outorga de um título honorífico é o reconhecimento da capacidade, do compromisso, da responsabilidade e da dedicação às atividades acadêmicas. É um ritual que celebra situações ímpares, que, no caso das universidades, é o coroamento de uma carreira consistente. Creio que o dia da entrega da comenda à professora doutora Zélia Amador de Deus será uma data que marcará, de forma indelével, nossa instituição, pois a Universidade Federal do Pará não quer ser, apenas, uma grande instituição. A comunidade universitária tem por pleito ser democrática, plural e diversa, pois, só assim, ela cumpre com o compromisso que lhe atribuímos, qualidade e excelência dentro das Amazônia(s).

Zélia é a figura que mantém a chama da luta acesa. Preserva a tradição de professora qualificada, pois quem foi/é estudante em sua sala de aula não a esquece. Quem a escutou em eventos aqui ou em Durban, na África do Sul, reconhece-a como intelectual de peso. Aqueles/as que leram seus escritos, publicados ou não, sabem que as palavras são muitas, mas “não se amontoam”, uma vez que são tratadas com elegância. Quem é alvo de seus gestos conhece o acolhimento, que o digam os/as quilombolas, os/as indígenas, os/as refugiados/as e tantas outras pessoas a quem entrega o melhor de si.

Zélia é a professora que queremos laurear. Tê-la como colega é um regozijo. Quero expressar o meu agradecimento a todos/as os/as colegas que me ajudaram com seus depoimentos, tanto para a emissão do parecer ao Consepe como para a escrita deste texto. Agradeço, também, ao professor Dr. Emmanuel Zagury Tourinho pela sensibilidade de convocar a comunidade universitária a homenagear Zélia Amador de Deus.

Jane Felipe Beltrão – Professora titular da UFPA e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), nível 1C.
E-mail: janebeltrao@gmail.com

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