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Bactéria resistente a antibióticos contamina Região Metropolitana

Publicado: Segunda, 13 de Abril de 2020, 20h23 | Última atualização em Segunda, 27 de Abril de 2020, 21h38 | Acessos: 5293

Em Belém, foram analisadas águas do Rio Guamá, do lago Água Preta e das praias de Mosqueiro 

imagem sem descrição.

Por Gabriel Mansur Foto Alexandre de Moraes

A água é indispensável para a manutenção da vida dos organismos vivos. Além de consumi-la em sua forma potável, nós a utilizamos de várias maneiras: cozinhando os alimentos; lavando a louça, a roupa e o carro; tomando banho em casa ou na praia. Entretanto a ação do homem vem poluindo cada vez mais nossos reservatórios. A água contaminada causa problemas ambientais e compromete a saúde da população. Geralmente, a água é contaminada pelos esgotos ou pelo descarte irregular de resíduos sólidos.

Outra forma de poluição pouco discutida ocorre pelo descarte de medicamentos. A falta de tratamento dos esgotos hospitalares, local em que ocorre intenso uso de fármacos, e o descarte irregular por parte do consumidor, que despeja os medicamentos em lugar impróprio, são exemplos de poluição do ambiente hídrico. Entre as medicações descartadas, estão os antibióticos, que causam grande impacto ao meio ambiente.

Os antibióticos mais utilizados no ambiente hospitalar são os da classe dos betalactâmicos. Uma das suas utilidades é combater doenças causadas por bactérias que podem ser contraídas pelo consumo da água contaminada, como diarreia e febre tifoide, que ocorrem com frequência na região amazônica. Com base nesse quadro, a pesquisadora Roseane de Nazaré Moura Vieira procurou demonstrar em sua dissertação a ocorrência de Escherichia coli – bactéria presente no intestino dos seres humanos e dos animais homeotérmicos – resistente aos antibióticos betalactâmicos no ambiente hídrico.

A dissertação Ocorrência de Escherichia coli com perfil de resistência aos antibióticos betalactâmicos em ambiente hídrico urbano do município de Belém, Pará foi orientada pela professora Karla Tereza Silva Ribeiro e defendida no Programa de Pós-Graduação em Análises Clínicas (PPGAC/ICB). “Partindo do princípio que a saúde humana e animal está diretamente ligada às condições dos ecossistemas onde vivem, foi possível verificar que a presença da bactéria E. coli, com perfil de resistência aos betalactâmicos, constitui risco à saúde da população”, como explicou Roseane Moura.

As bactérias, para continuarem a existir, criam mecanismos de resistência e dificultam a te- rapia com medicação. Isso pode ocorrer pelo consumo incorreto de antibióticos ou pela contaminação da água por medicamentos e pelas bactérias Escherichia coli, que passam a estar presentes em ambiente propício para a troca de genes de resistência.

Bactéria está presente no intestino humano e animal

As bactérias da família Enterobacteriaceae são encontradas em todos os lugares: água, solo e vegetação. Estão presentes no intestino humano e no dos animais de sangue quente (aves e mamíferos), contribuindo para algumas funções fisiológicas importantes. Entretanto algumas bactérias dessa família podem estar envolvidas em processos infecciosos.

A contaminação do meio ambiente por bactérias deveria ser uma grande preocupação para os agentes da saúde pública. Na literatura, a Escherichia coli é considerada a principal indicadora de contaminação fecal da água e de alimentos. Existem seis categorias patogênicas de E.coli causadoras de infecções intestinais.

“As doenças causadas por E.coli podem ser desde uma diarreia leve até uma síndrome hemorrágica urêmica, que é uma condição grave ocasionada pela E.coli. As pessoas mais expostas a essas infecções são crianças, indivíduos com resistência baixa e os que viajam para locais em que as condições de saneamento básico são precárias e podem desenvolver o quadro chamado ‘diarreia do viajante’”, adverte a farmacêutica Roseane Moura.

Entre os medicamentos indicados para combater as infecções intestinais causadas pelas classes diarreiogênicas de E. coli, estão os antibióticos da classe betalactâmicos. Estes são amplamente prescritos para o tratamento de diversas infecções em virtude da baixa toxicidade para a célula do hospedeiro humano.

Para a pesquisa, foram coletadas mostras de água no lago Água Preta, localizado no Parque Ambiental do Utinga; nas praias do Murubira e do Farol, na Ilha do Mosqueiro; e no Rio Guamá. Após as etapas de isolamento e identificação, a E. coli foi submetida ao teste de sensibilidade aos antimicrobianos, no qual foram incluídos os betalactâmicos.

A farmacêutica Roseane Moura chegou à conclusão de que nenhum antibiótico teve 100% de resistência. Os antibióticos Meropenem e Piperacilina+Tazobactam foram os que apresentaram maior eficácia, porque 99% das testagens demonstraram sensibilidade da bactéria ao fármaco. O menor percentual de eficácia foi do antibiótico Cefazolina, com 71%.

35% das amostras de E. coli são resistentes

A resistência aos antibióticos variou de 0% a 21%. A Ampicilina foi o antibiótico que apresentou maior percentual. Na classe intermediária de resistência, houve variação de 0% a 24%, em que a Cefuroxima e a Cefoxitina tiveram taxa de 0%; e o antibiótico Imipenem, 24%.

Destaca-se que 35% das amostras de E. coli demonstraram resistência a pelo menos um dos antibióticos e no máximo sete, entre os doze testados. A maior taxa de resistência foi ao antibiótico Ampicilina e a maior frequência de testes resistentes ocorreu no Lago Água Preta (Parque Ambiental do Utinga), no qual 32% dos testes indicaram resistência. No Rio Guamá, apenas 12% dos testes indicaram resistência. Nas praias do Murubira e do Farol, na Ilha do Mosqueiro, o índice foi de 28% em cada uma delas.

A pesquisadora ainda alerta que, “no passado, a resistência aos antibióticos era restrita ao ambiente hospitalar. Hoje, ela foi expandida para a comunidade, para o meio ambiente em geral. Em se tratando de corpos hídricos, percebe-se que é um meio propício para a disseminação de genes de resistência entre as bactérias”.

É importante conscientizar os profissionais de saúde e a população sobre o descarte adequado de medicamentos. Roseane Moura ressalta, ainda, a necessidade do tratamento de esgoto, particularmente os das áreas urbanas e os próximos aos hospitais e aos outros serviços de saúde. A disseminação de resistência das bactérias aos medicamentos é um problema de saúde pública, podendo levar à falha do tratamento de pacientes e contribuir para a elevação dos indicadores de mortalidade.

Antibióticos X Escherichia coli

Nenhum antibiótico teve 100% de resistência.
Meropenem e Piperacilina+Tazobactam: 99% de eficácia.
Cefazolina: 71% de eficácia.
Ampicilina, Cefuroxima, Cefoxitina e Imipenem: apresentaram taxa de resistência.

Ed.154 - Abril e Maio de 2020

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