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Açaí cria oportunidades em Portel

Publicado: Quarta, 15 de Dezembro de 2021, 18h45 | Última atualização em Sexta, 17 de Dezembro de 2021, 20h13 | Acessos: 1976

Comunidade Santo Ezequiel Moreno investe em inovações sociais

Na imagem, a vista panorâmica da Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Portel/PA, onde foi realizada a pesquisa.
A fotografia apresenta uma visão geral da Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Portel/PA. O primeiro plano mostra, no canto inferior direito, uma placa com informações da localização da Comunidade. No segundo plano, à direita, dois barcos brancos e um terceiro, ainda em construção, estão ancorados. À esquerda, dois outros barcos estão ancorados na frente de duas casas de palafita. No terceiro plano, uma vegetação verde e densa compõe a imagem. Está de dia.
A fotografia apresenta uma visão geral da Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Portel/PA. O primeiro plano mostra, no canto inferior direito, uma placa com informações da localização da Comunidade. No segundo plano, à direita, dois barcos brancos e um terceiro, ainda em construção, estão ancorados. À esquerda, dois outros barcos estão ancorados na frente de duas casas de palafita. No terceiro plano, uma vegetação verde e densa compõe a imagem. Está de dia.

Por Adrielly Araújo, com edição de Rosyane Rodrigues Foto Acervo da Pesquisa

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o agroextrativismo é a união de práticas agrícolas sustentáveis, de baixo impacto ambiental e alto valor social, como a extração de produtos nativos de um espaço, de forma que garanta a independência, o sustento e o desenvolvimento da população local.

Uma das principais práticas de agroextrativismo no Pará é a do açaí. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 95% da produção nacional do fruto ocorre em solo paraense e corresponde a uma ocupação de quase 200 mil hectares de áreas destinadas para sua produção. Além disso, a conquista de novos mercados favoreceu o posicionamento do açaí para a exportação.

Como o agroextrativismo do açaí vem influenciando a consolidação de inovações sociais na Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Portel/PA? O engenheiro florestal Lucivando Barbosa de Moraes procurou responder à questão na sua dissertação Para além do alimento: inovações sociais em torno do açaí na comunidade ribeirinha Santo Ezequiel Moreno em Portel, Arquipélago do Marajó, Pará, defendida no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, da Universidade Federal do Pará.

“A pesquisa, orientada pelo professor William de Assis, teve o objetivo geral de identificar e analisar as principais inovações sociais decorrentes do agroextrativismo do açaí, na comunidade Santo Ezequiel Moreno, bem como suas inter-relações”, salienta o pesquisador. Lucivando Moraes explica que a abordagem do conceito “inovações sociais” se configurou como um grande desafio em sua trajetória profissional. “Sempre admirei a marcante pluriatividade desenvolvida pelas comunidades tradicionais. Como tenho formação básica em Engenharia Florestal, acreditei que a pesquisa proporcionaria uma visão mais abrangente da minha profissão, além de inúmeras lições de vida, como de fato ocorreu”, relata.

À mesa, nas principais refeições da comunidade

“O agroextrativismo do açaí apresenta-se como a principal prática tradicional da comunidade. O fruto é a essencial fonte de renda local, além de estar presente nas principais refeições feitas pelas famílias”, conta Lucivando Barbosa de Moraes. Com base nessa atividade, os moradores de Santo Ezequiel Moreno desenvolvem inovações sociais e avançam, de forma significativa, nas variadas dimensões da sustentabilidade.

O engenheiro explica que, em Santo Ezequiel, o manejo do açaí não se caracteriza apenas como extrativismo. É possível contemplarmos práticas conjuntas de atividades de agricultura (agrícolas) e extrativismo (não agrícolas). “Um grande exemplo disso é a Cozinha Agroextrativista Iaçá (CAI), local de onde surgem preparações alimentares que mesclam a produção dos roçados com coletas de frutos realizadas em florestas do respectivo território”, conta. A CAI é uma das inovações analisadas na pesquisa.

Além disso, o pesquisador também observou a inserção de alimentos ultraprocessados no cardápio da comunidade. “A introdução desses alimentos pode fragilizar a soberania alimentar em Santo Ezequiel Moreno. O acesso contínuo a estes alimentos pode tornar os moradores reféns desse mercado externo ao seu modo de vida tradicional”, avalia Lucivando Barbosa de Moraes.
Os resultados da pesquisa revelam certa resistência em relação aos ultraprocessados. “Em períodos da safra do açaí (e de maior renda), o agroextrativismo continua sendo mais presente nas refeições diárias, sendo identificados principalmente o açaí, os peixes e a farinha”, relata o engenheiro.

Soluções criativas para melhorar a qualidade de vida

A inovação basilar analisada durante o estudo foi o Fundo Solidário Açaí (FSA), um programa social de destaque na comunidade Santo Ezequiel Moreno, sendo o mais antigo e aquele que contribuiu para a construção de outras inovações estudadas.

Lucivando Moraes conta que o FSA é um fundo florestal comunitário constituído em um longo processo de organização social, que culminou com sua criação na safra de açaí de 2010. Na ocasião, a cada lata de açaí coletada e comercializada, o membro da comunidade doaria R$1,00, formando um fundo que custearia investimentos em bens e serviços para melhorar a qualidade de vida dos moradores. Ao longo dos anos seguintes, o valor tem sido reajustado e a nova taxa é decidida em consenso na comunidade.

Cozinha – A Cozinha Agroextrativista Iaçá (CAI) é outra inovação social identificada, esta liderada principalmente pelas mulheres da comunidade. No local, são criadas novidades alimentares que têm o açaí como ingrediente principal. “A CAI configura-se como um local de compartilhamento de conhecimentos. É onde se aprende a preparar coxinhas e pastéis de açaí, pão com cobertura de calda de açaí e castanha, pães de macaxeira, abóbora e açaí, entre outras receitas”, descreve Lucivando Moraes.

No estudo, o engenheiro também discorre sobre o Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos no Marajó (Manejaí), um projeto social que tem o objetivo de formar ribeirinhos no Manejo de Açaizais Nativos de Mínimo Impacto, priorizando técnicas de extrativismo sustentável.

“Por último, também analisamos a miniagroindústria que vem sendo construída, desde 2015, pelos comunitários e tem como objetivo agregar valor aos frutos, no seu território e em localidades próximas, com a produção de polpas para a venda”, conta o engenheiro.

“A concepção de Inovações Sociais utilizada na pesquisa considera que estas são resultados de conhecimentos aplicados às necessidades sociais com a participação e a cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral”, finaliza.

Inovações Sociais em Santo Ezequiel Moreno

Fundo Solidário Açaí (FSA) – trata-se de um programa social que reverte uma taxa para um fundo comunitário a cada lata de açaí coletada e comercializada. Os recursos custeiam bens e serviços para melhorar a qualidade de vida local.

Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos no Marajó (Manejaí) – projeto social que tem o objetivo de formar ribeirinhos no Manejo de Açaizais Nativos de Mínimo Impacto, priorizando técnicas de extrativismo sustentável.

Cozinha Agroextrativista Iaçá (CAI) – liderada por mulheres da comunidade, a CAI cria novas receitas que têm o açaí como ingrediente principal, como coxinhas e pastéis de açaí, pão com cobertura de calda de açaí e castanha, entre outras receitas.

Miniagroindústria – vem sendo construída desde 2015 e pretende agregar valor aos frutos, com a produção de polpas para a venda.

 Beira do Rio edição 161

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