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LAROYÊ, EXÚ!

Publicado: Segunda, 19 de Dezembro de 2022, 19h36 | Última atualização em Sexta, 09 de Fevereiro de 2024, 17h03 | Acessos: 105915

Pesquisa analisa o sincretismo religioso brasileiro

imagem sem descrição.

Por Rebeca Amaral Foto pexels-pixabay

Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% em 2021. O Ministério recebeu 586 queixas no último ano, comparado a 243, em 2020. A dissertação do professor Nazareno Araújo Barbosa, intitulada Umbandas e batuques: Magias e encantarias no terreiro de Mãe Terezinha em Bragança-PA, põe em evidência o tema, analisando a relação entre as religiosidades afro-brasileira e católica.

A pesquisa foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA) da UFPA- Campus de Bragança. “A minha função como pesquisador foi poder levantar e comunicar informações encontradas durante a estada no terreiro de Mãe Terezinha. As escutas, junto ao processo de gravação em audiovisual, trouxeram-me as possibilidades de ter vários momentos para entender e compreender a funcionalidade do terreiro”, relata o professor. Nazareno foi até o terreiro para realizar o trabalho de campo e se defrontou com a realidade do seu objeto de estudo em seu contexto e ambiente próprios. 

De acordo com o pesquisador, é muito importante esclarecer a funcionalidade da religião umbanda dentro da academia, como também expor para a sociedade que é preciso conhecer, antes de julgar, qualquer seguimento religioso, inclusive, um marcadamente indígena e negro como a umbanda. A expressão “Laroyê, Exú”, por exemplo, que significa “Salve, mensageiro!”, foi muito utilizada em comentários nas redes sociais após notícias da vitória da Escola de Samba Acadêmicos da Grande Rio no carnaval deste ano. Apesar de a vitória significar um grande avanço para desmistificar um dos símbolos da umbanda, muitos comentários intolerantes surgiram em ataque à escolha dos jurados, mostrando que boa parte da sociedade permanece intolerante às crenças que se afastam do cristianismo. Exú é o mensageiro que faz a ponte entre os devotos e os orixás, é o abridor de caminhos e guardião das encruzilhadas. 

O terreiro é o lugar em que acontecem os encontros dos devotos

Nazareno Araújo Barbosa afirma que o interesse pela umbanda veio antes da pesquisa e em momentos diferentes da sua vida, sobretudo por sua curiosidade sobre a religião. “Passei a me aprofundar ainda mais a partir de uma disciplina que tive na graduação da UFPA, denominada - Literatura de Expressão Amazônica – em que, no seminário, fui sorteado para trabalhar a obra de Bruno de Menezes (Batuque). Daí então, passei a realizar uma pesquisa para entender como funcionava a umbanda na cidade de Bragança (PA)”, conta o autor.

O terreiro é o lugar em que acontecem os encontros – giras - dos devotos, é um ambiente sagrado para cura, reflexão e conexão com os orixás e as entidades. “O que mais me chamou a atenção foi a simplicidade da própria Mãe Terezinha, em ajudar os outros. Independentemente de cor, etnia, sexualidade e condição socioeconômica, ela estava sempre pronta para receber a todos de braços abertos. Aconselhando, ensinando os preceitos da religião umbandista, contando histórias de vida, dos momentos em que sofreu preconceito por ser umbandista. Essas situações me cativam até hoje”, relembra o pesquisador. 

"Enquanto Ele quiser, estarei aqui para poder trabalhar. Sou sua filha e, como filha, só tenho que agradecer ao dom que me foi dado. Vivo todos os dias porque Ele quer que eu faça da minha vida uma vida de caridade para com o outro. Vivo porque sei que devo ser serva d’Ele. Pois tudo que tenho vem da bondade d’Ele comigo. Se aqui ainda estou, Ele é o grande responsável”, este é o recorte de uma das declarações de Mãe Terezinha, trazido pelo pesquisador. 

Ao fim, Nazareno avalia que é importante compreender a fusão entre as religiões – sendo ela umbandista, cristã, espírita, candomblecista etc. - entender como conversam entre si e reconhecer a importância que têm para cada devoto. Para o autor, o respeito é a chave para que todos sejam livres para depositar sua fé onde quiserem. “Posso afirmar que cheguei no ponto da pesquisa em que quis entender esse exequível transportar do sincretismo religioso que é realizado dentro do terreiro umbandista, como também os conceitos da expressividade religiosa, que é apresentada na vida dos filhos de santo e familiares que se fazem presentes no local de culto sagrado”, finaliza.

Saiba mais:

Orixás - São divindades. Variam de acordo com cada vertente da religião. Entre eles, estão: Oxalá, Oxum, Oxóssi, Xangô, Ogum, Obaluaiê, Yemanjá, Oyá, Oxumaré, Obá, Egunitá, Yansã, Nanã e Omulu.

Entidades - São espíritos organizados em linhas, com diferentes categorias. São elas: Caboclos (espíritos indígenas), Pretos Velhos (espíritos de velhos escravos brasileiros), Exus (espíritos do bem, mensageiros dos orixás), Pombas Giras (damas da noite ou feiticeiras) e Erês (espíritos das crianças).

 

Beira do Rio edição 165 

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