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História, memória e saberes

Publicado: Quinta, 05 de Janeiro de 2023, 15h27 | Última atualização em Quinta, 05 de Janeiro de 2023, 15h48 | Acessos: 996

Dissertação analisa cultura e identidade em um bairro miriense

Registro do bairro África em 2016, durante a pesquisa
imagem sem descrição.

Por Edmê Gomes Foto Acervo da pesquisa

Um trabalho que conta história. Assim é a dissertação Cultura, Identidade e Gênero no bairro da África, de Olaíza Quaresma dos Santos. O material reúne relatos, fotografias e documentos de época e reconstrói um passado recente da história paraense.

“A pesquisa reconstitui parte das histórias de indivíduos que migraram do interior de Igarapé-Miri para construir sua história de vida na cidade. Encontramos fatos e relatos que fizeram parte e construíram a história recente do município e seu envolvimento com a diversidade cultural”, resume a historiadora. O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC), do Campus Universitário do Tocantins, em Cametá, e foi orientado pela professora Benedita Celeste de Moraes Pinto.

No estudo, Olaíza buscou aprofundar o trabalho realizado para a Especialização em História Afro-Brasileira e Indígena, quando iniciaram as pesquisas sobre o bairro África, localizado no município de Igarapé-Miri. A ideia era compreender o contexto de formação e transformação do bairro, entender a sua importância econômica, política e cultural para o município e trazer à tona o protagonismo de seus moradores com suas trajetórias de vida, suas práticas culturais e seus saberes.

“Almejamos compreender o bairro como uma pequena comunidade formada na parte central da sede de Igarapé-Miri, composta por descendentes de negros migrantes da zona rural, principalmente da região do Rio Anapuzinho, em busca de melhores condições de vida, constituindo um bairro negro na cidade de Igarapé-Miri”, detalha.

A pesquisadora lembra que, embora a presença de mão de obra escrava tenha ocorrido mais tardiamente, ela foi essencial em alguns pontos da Amazônia.  “No município de Igarapé-Miri, por exemplo, a escravidão negra foi amplamente utilizada nas diversas atividades econômico-comerciais desenvolvidas no interior dessa freguesia no século XIX. Historiadores afirmam que, em Igarapé-Miri, 1.839 (51,5%) de seus habitantes eram escravos”, destaca Olaíza Quaresma dos Santos.

Memória e história garantem protagonismo

O estudo da historiadora partiu da pergunta: qual o destino dos ex-escravizados após esse período? “Sabe-se que no município de Igarapé-Miri existiu, e ainda existe, a constante presença de pessoas de descendência negra em diversas localidades, atuando como personagens importantes, porém sem estarem mencionadas em livros já publicados por escritores do município”, problematiza Olaíza Quaresma dos Santos.

Debruçada sobre a história e as personagens do bairro África, Olaíza recorreu a autores que discutem memória e história oral para dar às pessoas o protagonismo merecido. Entre eles, estão Alessandro Portelli, Benedita Celeste de Moraes Pinto e Paul Thompson. “A história oral foi importante para abarcar memórias e experiências, permitindo que homens e mulheres desenvolvessem a consciência de seu papel político e de sua importância para o bairro África”, justifica a autora. Além do trabalho de campo, por meio do qual reuniu as histórias de vida dos moradores do bairro, a pesquisadora também realizou pesquisa documental em cartórios, arquivos e paróquias.

O resultado do trabalho aponta “para elementos importantes do bairro África, apresentando vivências cotidianas, formas de trabalho, saberes tradicionais, religiosidade e práticas culturais, evidenciando um bairro que existe para além do espaço geográfico, construído nas memórias de homens e mulheres”, resume.

Bairro é marcado pela autonomia feminina  

A pesquisa de Olaíza dos Santos lança um olhar especial sobre a mulher negra. Baseada nas memórias e experiências das mulheres do bairro, a pesquisadora pode discutir o empoderamento feminino. A pesquisa aponta um processo de enraizamento da autonomia feminina no local, representada pelo grande percentual de mulheres que compõem os cargos diretivos em associações, igrejas, sindicatos, além da forte presença em eventos e ações desenvolvidos dentro e fora do bairro.

“Falar de mulheres negras é tirar da invisibilidade várias outras mulheres que, com trabalho e determinação, foram capazes de construir diferentes formas de vida, não se reduzindo à imagem generalizada de que a atuação feminina é uma extensão de seus papéis de mães, esposas e dona de casa”, afirma a pesquisadora.

Olaíza afirma que, com os dados levantados, é possível observar que as mulheres na região do Tocantins exercem importantes papéis políticos, sociais e econômicos. “A importância e o protagonismo dessas mulheres estão evidenciados nos seus contínuos processos de empoderamento. São nítidas e diversificadas as formas de enfrentamentos das relações de desigualdade com as quais elas burlam as lógicas predominantes e, assim, ousam se destacar como lideranças nesse bairro”, finaliza.

Beira do Rio edição 165

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