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Nem vez, nem voz

Publicado: Segunda, 28 de Maio de 2018, 17h49 | Última atualização em Terça, 29 de Maio de 2018, 14h52 | Acessos: 3849

Em Moju, mulheres não são lideranças reconhecidas no sindicato

imagem sem descrição.

Por Nicole França Ilustração Walter Pinto

Os sindicatos são organizações de trabalhadores que têm como principal objetivo defender os direitos e os interesses de seus participantes. No entanto, dentro da grande maioria dos sindicatos, a voz masculina prevalece e, quase sempre, as sindicalistas não têm suas demandas atendidas.

Com base nisso, Suellen Suzy de Souza Costa, com o intuito de analisar as forças de liderança feminina nos sindicatos rurais, produziu a dissertação Sindicato é para quem entende: (des)igualdade de gênero no sindicalismo dos empregados rurais de Moju – Pará, defendida no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/NCADR), sob orientação da professora Dalva Maria Mota. A pesquisa foi feita com base na atuação de lideranças femininas assalariadas relativas à dendeicultura na diretoria do Sindicato dos Empregados Rurais de Moju (SERMTAB).

Suellen Costa relata que o interesse pelo assunto surgiu ainda na graduação. “Apesar de zootecnista de formação, eu sempre fui apaixonada por Sociologia Rural. No segundo ano da graduação, iniciei os estudos sobre Gênero e Geração e, desde então, o meu interesse pelo assunto só cresceu. Fiquei mais sensível para essas questões da vida da mulher do campo. Finalizei o curso de graduação estudando Sociologia Rural e, quando entrei no mestrado, não tive dúvida de que desejava estudar mulheres rurais”, conta a pesquisadora.

A base para a elaboração da pesquisa foram entrevistas não diretivas, ou seja, sem um roteiro a ser seguido. Segundo Suellen Costa, a escolha por esse tipo de entrevista foi fundamental para que as sindicalistas conseguissem contar detalhes sobre a sua atuação dentro do sindicato e também sobre suas relações com os outros sindicalistas e lideranças sindicais. O enfoque foram as mulheres que, no momento da pesquisa, ocupavam cargos de vice-presidência, secretaria de meio ambiente e conselho fiscal.

Estrutura patriarcal limita espaços ditos como femininos

A pesquisa identificou que as mulheres não possuem uma atuação efetiva no sindicato. De acordo com Suellen Costa, a presença delas é apenas para cumprir cota. “As mulheres sindicalistas não ocupam um espaço efetivo de poder, elas não pegam no microfone, não sobem no palanque e só frequentam as reuniões essenciais como acompanhantes. Assim, elas cumprem a cota de 30% de mulheres, sendo uma na vice-presidência na época da pesquisa. Os sindicatos têm mulheres na liderança, mas essas mulheres não são reconhecidas como líderes, o que reduz significativamente a atuação delas”, afirma.

Para Suellen Costa, a presença das mulheres nos sindicatos é extremamente importante, em virtude da estrutura patriarcal existente nesse tipo de organização. Quando uma mulher está presente dentro de uma organização política, existe a possibilidade da quebra dessa estrutura. “A estrutura patriarcal nos limita a espaços ditos femininos, e a política não é considerada como um deles, pois a política é um espaço de poder, de voz, de decisão e, ao longo da História, a mulher não ocupou esses espaços. Dessa forma, ter uma mulher ou várias mulheres como liderança de um sindicato é extremamente importante para que se possa romper com esse paradigma de que elas não podem ocupar espaços de poder”, analisa a autora da dissertação.

Apesar da participação política restrita, muitas mulheres têm o desejo de participar dos sindicatos, no entanto elas não são incentivadas a isso. Elas ainda são vistas como algo secundário diante das prioridades do sindicato, dificultando a atuação das sindicalistas. Para a pesquisadora, as mulheres serão inseridas em cargos de liderança quando entenderem a sua importância dentro do sindicato e, organizadas, ocuparem gradualmente mais espaço dentro dessas organizações.

“Acredito que as mulheres devem ocupar os cargos de liderança, devem participar das tomadas de decisão, subir nos palanques, pegar o microfone e lutar pelos seus direitos, participar das reuniões e fazer força política. Elas devem deixar a timidez de lado e entender que essas questões são urgentes. Então, a conscientização das mulheres e, posteriormente, a ação de entrar e ocupar esses espaços são fundamentais. Sair do estereótipo da mulher secretária é importante não apenas para os sindicatos, mas também para a sociedade”, concluiu Suellen Costa.

Ed.143 - Junho e Julho de 2018

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Sindicato é para quem entende: (des)igualdade de gênero no sindicalismo dos empregados rurais de Moju – Pará

Autora: Suellen Suzy de Souza Costa

Orientadora: Dalva Maria Mota

Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/NCADR)

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