Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Depoimentos

Publicado: Quinta, 05 de Janeiro de 2023, 15h51 | Última atualização em Quinta, 05 de Janeiro de 2023, 15h54 | Acessos: 627

Cláudio Barradas na cena cultural paraense

imagem sem descrição.

Por Walter Pinto. Imagem: foto acervo Funtelpa, arte Ascom UFPA

Homenageado com o título de Professor Emérito da UFPA, no ano de 2021, o teatrólogo paraense Cláudio Barradas foi professor da Universidade Federal do Pará, tendo participado ativamente da criação e fundação da Escola de Teatro e Dança. Ator, dramaturgo, diretor, encenador, professor e pesquisador do teatro, Barradas está presente na trajetória e na memória de muitos intelectuais, entre artistas, escritores e professores. Nos depoimentos abaixo, Margaret Refskalefsky, Zélia Amador de Deus, Marton Maués, Edyr Augusto Proença e Wlad Lima relembram momentos e destacam a importância de Cláudio Barradas para a história do teatro na Amazônia.

Margaret Refkalefsky, servidora aposentada da UFPA e atriz de teatro.

No início de 1969, como estudante do curso de Teatro da UFPA, conheci dois professores que se tornaram muito importantes na minha vida: Cláudio Barradas e Walter Bandeira, ambos lutavam contra as opressões, as injustiças e os preconceitos, cada um com suas estratégias e maneiras de ver o mundo. Eu nunca disse o quanto eles foram importantes na minha vida. Ao Cláudio, digo agora. Acredito que, naquela altura de vida, nós, estudantes, nem conseguíamos realizar as possibilidades que se abririam para nós naquela escola. A imagem que guardo do Cláudio Barradas é dele sempre às voltas com livros. Ele encomendava dos livreiros da cidade o que tinha de mais atualizado em matéria de literatura teatral.  Os teóricos de teatro que li foram referências que tive em aulas, conversas ou ensaios com ele. Quando, décadas depois, durante o mestrado no Canadá, minhas colegas perguntavam onde eu havia ouvido falar de algum diretor ou de experiências teatrais inovadoras, eu dizia que meu professor de Interpretação na Escola de Teatro havia mencionado em suas aulas, na década de 1970. Como homem de teatro, o que sempre me impressionou em seu trabalho como diretor foi sua total entrega às peças. A sensação era a de que ele pensava em tudo obstinadamente, nos mínimos detalhes. Discutia conosco o sentido de cada fala, estimulava todas e todos a dar tudo de si e conseguia extrair de nós coisas que nem sabíamos sermos capazes.

Wlad Lima, professora da UFPA e diretora de Teatro.

Entrei na seleção para o curso de Formação de Ator da Escola de Teatro da UFPA – na época, Serviço de Teatro da UFPA – em março de 1979, há exatos 43 anos. De lá para cá, durante toda minha trajetória, fui uma mulher de teatro. Foi no “viver o ofício do teatro” que me tornei uma artista da floresta. E tudo isso, graças a um dos meus grandes mestres, o teatrólogo e homem de teatro Cláudio Barradas. Ele tem vivido o teatro como um multiartista, é ator, dramaturgo, diretor, encenador, professor, pesquisador, exerce qualquer função que o teatro lhe exija. Foi formador de muita gente – no e pelo teatro – mas, principalmente, de coletivos teatrais. O sentido de comunidade foi seu forte, pois sempre dizia: “Não estamos sós, não fazemos teatro sozinhos”. Sim, há que ter sempre um atuante, um espectador, duas tábuas e muita paixão. Barradas é paixão pura! Um homem de teatro que fez da cidade de Belém sua trincheira de arte e vida.

Marton Maués, professor da UFPA e ator.

Costumo dizer que, ao longo dos meus 40 anos de teatro, completados este ano, tive três grandes mestres que sedimentaram a base da minha prática como ator e diretor. O primeiro grande e definitivo mestre foi Cláudio Barradas. Foi com ele que tive minha primeira experiência efetiva no teatro. Com ele, fiz minha estreia, na montagem de O Carro dos Milagres, livre adaptação que fizemos da novela homônima de Benedito Monteiro.  Foi um trabalho coletivo e árduo de um ano, mas repleto de aprendizados. Durante o processo, Cláudio trabalhou conosco os pormenores do texto, cada sílaba, cada palavra, seu significado e suas sonoridades. A prosódia e a poesia contidas no texto. Trabalhou exaustivamente nossos corpos, propondo movimentos e ações. Texto adaptado, partimos para a encenação. Cláudio trabalhava cada detalhe do ator, do dedinho do pé à direção do olhar, noções de espaço e tempo, a movimentação do ator na cena. Pensava nos figurinos, nos cenários e na sonoplastia. A mim, indicou inúmeras leituras, emprestou-me muitos livros de teatro. Cláudio Barradas é um grande encenador e muito bom ator. Um homem de teatro completo. Seu nome está inscrito definitivamente na história do teatro paraense. Às vezes me pego dizendo coisas ditas por ele e agindo como ele. Barradas marcou meu DNA teatral, transmitiu-me o vírus da paixão pelo teatro. Devo-lhe muito e lhe sou muito grato. Evoé, grande mestre! Meus dois outros mestres são Luiz Otávio Barata e Henrique da Paz.

Edyr Augusto Proença, escritor, jornalista e teatrólogo.

Fernanda Montenegro fez 90 anos e continua sendo festejada. Uma diva do teatro nacional. Filmes, livros, novelas, entrevistas, homenagens sinceras. O paraense Cláudio Barradas também fez 90 anos. Ao contrário de Fernanda, ninguém parece estar interessado em homenageá-lo. Antes da pandemia, o professor e jornalista Marcos Valério perguntou-lhe sobre o melhor presente que desejaria de aniversário. Respondeu que gostaria de reencenar Abraço, ao lado de Zê Charone, apresentada há dez anos no Teatro Cuíra. É claro que concordamos. Cláudio é nosso ícone. Ator, dramaturgo, diretor. Como padre, foi amado por onde passou. É uma pessoa boa, abrangendo todas as áreas. Ator preciso, disciplinado, atento, que sugere, reflete. Fizemos contatos, tentamos, mas nenhuma autoridade se sentiu impelida a também homenageá-lo, com um fim de semana qualquer no Theatro da Paz ou no Teatro do Sesi. Com uma exposição de seus feitos. Com medalhas que vivem concedendo a outros que menos. Cláudio não tem posses. Fizemos temporada de Abraço, na Casa Cuíra, com apenas 30 lugares. Houve algumas matérias nos jornais, todas na base do quem é mesmo Cláudio Barradas? Textos curtos, falando do espetáculo, sem perceber o tamanho da pessoa, sua trajetória fundamental para as artes cênicas no estado. Um homem que fundou a Escola de Teatro da UFPA. Fez radionovelas. Esteve na fundação da TV Marajoara em diversas funções. Atuou, dirigiu e escreveu. Foi ator nos primeiros filmes feitos no Pará. Isso tudo, para muitos, não é nada. Como se pensassem que o mundo começou no dia em que nasceram. Quem começou tudo não interessa. Nós, do Cuíra, não vamos deixar passar em branco sua grande data. Vamos comemorar sua vida, seu talento e seu amor. Faremos porque é importante, porque merecemos, porque temos o dever e o amor. Viva Cláudio Barradas!

Zélia Amador de Deus – Professora da UFPA, atriz e diretora de Teatro.

Conheci Cláudio Barradas, o “Baba”, como o chamo até hoje, na gloriosa Escola de Teatro, quando entrei para cursar Formação de Ator, um curso livre de nível técnico-profissional, em 1971. A Escola funcionava num prédio alugado para a UFPA na Quintino Bocaiuva, entre Av. Nazaré e Av. Brás de Aguiar. Nas dependências do prédio, havia um teatro pequeno, de 60 a 70 lugares, que recebia o nome de Teatro Martins Pena. Naquela pequena sala, antes de entrar para a Escola, eu assistia aos filmes do Cine Clube do Pará. Enfim, em 1971, entrei para a Escola, eu que já vinha de uma atuação de teatro de paróquia, na qual tive a oportunidade de atuar, escrever pequenos textos, dirigir, enfim, fazer tudo. Na Escola, fiz amigos e amigas e, lá, conheci Cláudio Barradas, com quem muito aprendi e sou grata pela partilha. Na Escola, aprendi um pouco a ser quem sou, e, decerto, a convivência com Cláudio Barradas contribuiu para tanto.

Beira do Rio edição 165

Fim do conteúdo da página