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Problema ambiental naturalizado

Publicado: Sexta, 10 de Fevereiro de 2023, 16h19 | Última atualização em Sexta, 10 de Fevereiro de 2023, 16h19 | Acessos: 647

Pesquisa desenvolve plataforma de gestão ambiental com mapa interativo

#ParaTodosVerem: Fotografia colorida mostra ponto de descarte irregular de resíduos sólidos no bairro Marambaia. Local traz pneus abandonados e sobras de construção civil. Pintura em muro ao fundo apresenta o texto: Não precisamos mais de entulho.
#ParaTodosVerem: Fotografia colorida mostra ponto de descarte irregular de resíduos sólidos no bairro Marambaia. Local traz pneus abandonados e sobras de construção civil. Pintura em muro ao fundo apresenta o texto: Não precisamos mais de entulho.

Por Bruno Roberto Foto Acervo da Pesquisa 

O resultado de um questionário feito com 96 alunos, de quatro instituições de ensino localizadas no bairro Marambaia, em Belém (PA), revela que 59% deles percebem o bairro como um lugar “sujo” ou “muito sujo”. Esse dado é um reflexo do problema ambiental de despejo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). A ausência de espaços suficientes para o descarte adequado e a inexpressiva política de educação ambiental deixam a população vulnerável a ruas sujas, doenças e contaminações. 

O questionário faz parte da dissertação Resíduos sólidos urbanos, mapeamento e educação ambiental: proposta de instrumento para participação comunitária na questão ambiental no bairro da marambaia, Belém-PA (2018), produzida por Moacir José Moraes Pereira e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Ambientais (PROFCIAMB/IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O estudo analisou como as percepções locais contribuem para o desenvolvimento de uma ferramenta de gestão e educação ambiental que pode fornecer dados para a gestão pública. 

Orientado pelos professores Marcelo Petracco e Estanislau Luczynski, o autor desenvolveu uma plataforma de mapeamento de pontos de despejo irregular de RSU no bairro Marambaia. A Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção Ambiental está disponível no site www.profciamb.propesp.ufpa.br/ors e é de acesso livre. Ela é composta por um mapa interativo, dados da dissertação e vídeos sobre educação ambiental.

O levantamento de dados para o desenvolvimento da plataforma associou método participativo e técnicas de geoprocessamento. A princípio, em um mapa de papel, 96 alunos indicaram locais onde encontravam despejo irregular de RSU. Em seguida, Moacir realizou um levantamento de coordenadas geográficas de pontos com RSU, mediante o uso de GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) e de instrumentos fotográficos. Por fim, os dados foram confrontados. 

Falta de locais para receber os resíduos acentua problema 

Os participantes apontaram 127 pontos de despejo irregular de RSU e houve uma proximidade de 57,4% dos casos em relação ao levantamento de campo. Para o pesquisador, os resultados “puderam mostrar a validade e a importância de ações participativas e também colaborativas das pessoas, podendo ser uma forma de maior integração comunidade/poder público, uma linha de atuação de Educação Ambiental em parceria com as escolas e as Secretarias de Meio Ambiente, Saneamento e de Educação, uma forma de gestão ambiental compartilhada”. 

A pesquisa, por meio de uma análise visual, também realizou a caracterização dos pontos de despejo identificados. Os materiais mais encontrados foram madeira, restos de obra, lixo residencial, poda e plástico. 41,9% dos pontos apresentaram materiais recicláveis, o que a dissertação ressalta como oportunidade para gerar emprego e renda no bairro. Outro destaque foi o fato de 20,9% dos resíduos serem reativos (capacidade de reagir com o meio), como os derivados de eletroeletrônicos, que podem causar contaminação e doenças pela intoxicação de metais pesados. 

Moacir Pereira observou que não havia locais previamente definidos para receber os RSU por parte da gestão pública. “Se sugeriu a continuidade do uso da ferramenta e o estudo e implementação de EcoPontos, locais adaptados e geridos pelo município, para evitar este descarte irregular, que é um crime ambiental, através da capacitação dos carrinheiros e educação ambiental dos moradores”, relata o autor. Essas ações ajudariam com o problema e diminuiriam os gastos públicos. 

Para fomentar a educação ambiental dos moradores da Marambaia, a pesquisa realizou palestras e seminários sobre RSU, coleta seletiva e reciclagem para alunos, professores, pais e membros de associações ambientais. Além disso, foi aplicado um questionário em 96 alunos do ensino fundamental e médio, com o objetivo de identificar a percepção deles quanto ao assunto em debate. 

Os resultados expõem que 65% dos alunos se sentem tristes com a sujeira no bairro. Ao mesmo tempo, 23,5% deles “não sabem como se sentem” ou “não ligam muito”, indicando uma naturalização do problema ambiental, o que não é benéfico ao pensar que a população precisa estar engajada para buscar melhorias, segundo a dissertação. 

Outro dado relevante é sobre quem faz a retirada de entulho das casas. A resposta de 62,6% dos alunos foi “carrinheiro”, enquanto 17,6% falaram sobre “contatar o serviço municipal”. O carrinheiro é um ator social que é remunerado por alguns moradores para descartar resíduos. O pesquisador reflete que eles “são identificados como os principais causadores do problema no bairro, de forma bem preconceituosa, mas não vemos dessa forma. Entendemos que estes podem ser capacitados e organizados, se tornando jardineiros e agentes de gestão ambiental e desenvolvimento sustentável”, finaliza o pesquisador.

Beira do Rio edição 165

 

 

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