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Mulheres e Meninas na Ciência

Publicado: Quinta, 16 de Fevereiro de 2023, 17h38 | Última atualização em Quinta, 16 de Fevereiro de 2023, 17h57 | Acessos: 1052

Estudo analisa discursos da nova direita em canais do YouTube

#ParaTodosVerem: Fotografia mostra uma mulher de cabelos lisos na altura dos ombros. Ela veste vestido longo, na cor branca, com decote em “v”. Ela está sentada em um banco alto, com um braço apoiado em uma bancada de madeira, onde vemos cinco computadores dispostos lado a lado. Ela olha em direção ao fotógrafo.
#ParaTodosVerem: Fotografia mostra uma mulher de cabelos lisos na altura dos ombros. Ela veste vestido longo, na cor branca, com decote em “v”. Ela está sentada em um banco alto, com um braço apoiado em uma bancada de madeira, onde vemos cinco computadores dispostos lado a lado. Ela olha em direção ao fotógrafo.

Por Edmê Gomes Foto Alexandre de Moraes

A comunicação tem ampliado, cada vez mais, seu leque de alcance. Em meio a um mar de formatos e facilidades no que diz respeito ao acesso à informação, a indústria da mídia vivencia, há tempos, uma verdadeira revolução quando o assunto é produção e disseminação de conteúdo. Mas, se o fenômeno, de um lado, possibilita maior diversidade de olhares e falas e descentraliza o conhecimento, por outro, encurta a distância a caminhos encobertos pela névoa tóxica das notícias falsas.

“Atualmente, no Brasil, o fenômeno caracterizado pela desvalorização e ataque direto às mídias tradicionais e consequente aumento da circulação de conteúdos digitais com informações falsas está diretamente ligado à perda de legitimidade da grande imprensa. Um dos elementos que compõem o cenário da crise da democracia é a mudança no ambiente informacional, com a presença, cada vez mais forte, de notícias falsas disseminadas por sistemas alternativos de comunicação, fortalecendo o sentimento de pertencimento a grupos políticos rivais e dificultando a possibilidade de diálogo”, analisa a estudante de Graduação em Ciências Sociais Thyffane Tayana Martins da Rocha.

Bolsista Pibic no Projeto Perfeição de meios, depreciação de fins: propaganda política digital e influenciadores da nova direita, Thyffane desenvolveu, no último ano, um estudo intitulado Ataque à imprensa tradicional na propaganda política de influenciadores da nova direita.  O trabalho contou com orientação da professora Patrícia da Silva Santos, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e analisou sete dos canais direitistas mais engajados no YouTube, no país. São eles: Questione-se, Valeria Bernardo (VB Opinião), Ravox, Bernardo Kuster, Daniel Lopez, Nação Patriota e Bruno Jonssen.  

Para a jovem pesquisadora, as discussões levantadas são importantes para se compreender o contexto recente da história do país, principalmente no que diz respeito ao uso de informações falsas e à tentativa de manipulação da opinião pública, especialmente em eventos de impacto político. “Percebemos que as mídias digitais foram utilizadas, nos últimos anos, como suportes na propagação de desinformação, de modo a exercer grande influência na esfera pública”, aponta.  

Múltiplas narrativas, mas homogeneização de discursos

Todos os canais selecionados para a pesquisa ultrapassam, individualmente, a marca dos cem mil inscritos e, juntos, somam mais de um milhão e meio de seguidores. Para o estudo, foi realizada a análise qualitativa dos discursos presentes nos vídeos compartilhados pelos influenciadores na plataforma do YouTube. As peças foram selecionadas inicialmente pelo GPS ideológico, traduzido pela Folha de São Paulo, tendo como base dados da rede social Twitter.

“Em síntese, foi observado que a nova direita opera uma estruturação de projeto não apenas político, mas também cultural e moral sobre a sociedade, e esta particularidade está representada nos discursos contra a mídia hegemônica”, revela Thyffane Tayana Martins da Rocha.  “O ambiente digital é de múltiplas narrativas, mas também de homogeneização discursiva sobre determinados pontos. A disputa política passa a ser feita como disputa argumentativa, e nisso o algoritmo e os discursos operam em duas vias distintas e complementares, se diferenciando e homogeneizando de forma ininterrupta”, explica.

Segundo a estudante, o trabalho de um ano possibilitou a compreensão de aspectos que envolvem a deslegitimação e o ataque à imprensa tradicional por parte dos influenciadores de direita, além da verificação do uso de termos que prometem acesso a verdades exclusivas para estimular a interação e os engajamentos por meio de visualizações, comentários e likes daqueles inscritos nos canais. Por fim, a pesquisa evidenciou o pouco compromisso com a qualidade do conteúdo oferecido, já que, segundo Thyffane, fica claro que “o que realmente importa são os números exponenciais, refletidos nas interações e quantidade de vídeos publicados, afinal estes são monetizados, gerando retorno financeiro para os influenciadores”, critica.

Sobre a Thyffane: Tem 23 anos e cursa o 7º período do curso de Ciências Sociais.  Atualmente, é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) em um novo projeto: Coviabilidade - Saberes, práticas e sustentabilidade na pesca artesanal de arrasto de camarão, com orientação da professora Voyner Ravena Cañete, (PPGSA/UFPA) e membro dos Grupos de Pesquisa Ecologia Humana, Natureza e Povos Amazônicos (EHNAPAN) e Teoria Social (PPGSA/UFPA). “Meus interesses vêm transitando entre teoria social clássica e contemporânea, sociologia digital, cultura, relações de gênero, meio ambiente e estudos sobre populações pesqueiras”, detalha.  A estudante planeja continuar a carreira como pesquisadora. “Mesmo tendo demandas de dois projetos de pesquisa, no raro tempo livre, estou sempre me movimentando para compensar as horas, sentada, estudando. Ando de bike, gosto de exercícios físicos, sair para comer e beber com amigos e visitar lugares que ainda não conheci. Acho que encontrar esse equilíbrio entre vida acadêmica e vida social é importante para o bem da saúde mental.  Como conselho para quem está começando, eu diria: ‘pense no equilíbrio perfeito entre essas duas áreas’”, indica.

Sobre a pesquisa: Este estudo foi apresentado no XXXIII Seminário de Iniciação Científica da UFPA, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), tendo sido agraciado com o Prêmio Destaque de Iniciação Científica na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. Também foi contemplado pelo Edital Pibic de Verão, “o que me possibilitou fazer uma espécie de intercâmbio na Universidade Federal da Bahia, mais especificamente no LABHDUFBA - Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA)”. Orientação: Patrícia da Silva Santos, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Financiamento: Pibic/UFPA.

Beira do Rio edição 165 – Especial Mulheres e Meninas na Ciência

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