Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > 2016 > 132 - Agosto e Setembro > Beleza e resistência
Início do conteúdo da página

Beleza e resistência

Publicado: Sexta, 12 de Agosto de 2016, 17h23 | Última atualização em Terça, 16 de Agosto de 2016, 17h52 | Acessos: 2759

Resíduo industrial pode ser usado para  fabricação de concreto e argamassas coloridas

 

Por Maria Luisa Moraes Foto Acervo do Pesquisador
    
A Amazônia é conhecida pela imensa diversidade de recursos naturais. A exploração desses recursos, geralmente, é feita por empresas e indústrias de fora da região. Minérios como ferro, bauxita, manganês, cobre, entre outros, são altamente explorados e cidades inteiras se formam com o estabelecimento dessas indústrias. Um dos principais prejuízos causados por essa exploração é o rejeito do processo de beneficiamento dos minérios. Na maioria das vezes, esse rejeito é depositado em grandes bacias, gerando um passivo ambiental que pode ter consequências desastrosas.

Pesquisadores de diversas áreas buscam soluções para atenuar o problema e, aqui, na UFPA, o professor Márcio Barata, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, elaborou o Projeto “O uso da lama vermelha e do resíduo do beneficiamento do caulim na produção de um novo material de construção: Pigmento Pozolânico para concreto e argamassa coloridos”. O professor desenvolve suas pesquisas no Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore).

O projeto utilizará esse rejeito na produção de um pigmento para fabricação de concreto e argamassas coloridas. “O pigmento é um material de construção utilizado para produzir argamassas e concretos coloridos para fins decorativos. É muito usado em pisos, pavimentação e revestimento”, explica Mário.

Uma diferença entre o pigmento produzido no projeto e o pigmento comercial é a cor. O pigmento comercial existe em diversas cores e o feito com lama vermelha e caulim varia apenas em tonalidades de vermelho, bege e acobreado. A principal diferença, no entanto, está na qualidade do produto.

“Os pigmentos vendidos em lojas de material de construção só podem ser incorporados ao cimento em até 5%. A partir daí, apresentam decréscimo de resistência mecânica no concreto. O nosso pigmento pode ser incorporado em até 20%, sem apresentar decréscimo de resistência. Pelo contrário, ele aumenta a resistência e a durabilidade”. No processo de produção, a lama vermelha é a responsável pela coloração e o caulim, quando queimado, vira um material que aumenta a resistência, chamado pozolana.

Produto passa de risco ambiental para solução rentável

O principal ponto destacado pelo professor Mário Barata é a matéria-prima do pigmento. “Ele é feito de dois subprodutos industriais aqui da região de Barcarena”, afirma. O professor explica que, no distrito industrial de Barcarena, a empresa norueguesa Hydro Alunorte, que comprou da Vale os direitos de exploração da cadeia produtiva do alumínio na região, gera como resíduo a lama vermelha, que fica guardada em lagoas de sedimentação, semelhantes às barragens de Mariana (MG).

A diferença entre as barragens da Hydro, em Barcarena, e as da Samarco, em Mariana, é que o resíduo da primeira tem uma quantidade de água muito reduzida, que minimiza os riscos de rompimento. Mesmo assim, já ocorreram vazamentos de detrito nos rios de Barcarena.

Esse detrito é misturado à caulinita fina, que vem da produção de Caulim, também localizada em Barcarena, próxima à Hydro Alunorte. O caulim é uma argila branca, usada geralmente para o recobrimento de papel, cerâmica e fabricação de tinta branca. A caulinita fina, rejeito da produção de caulim, recebe o mesmo destino da lama vermelha, sendo também depositada em lagos artificiais. “Essas barragens estão muito próximas uma da outra, então, do ponto de vista logístico, é extremamente atraente para qualquer investidor”, avalia.

O que se busca com a pesquisa é um canal de escoamento, para que os resíduos não fiquem nos lagos, causando riscos de acidentes graves. Depois de misturadas, a lama e a caulinita são queimadas a 800ºC e moídas. “Vira um pó, que é misturado ao cimento, cimento com areia (para produção de argamassa) ou cimento com areia e pedra (para produção de concreto)”, explica Mário Barata. O pesquisador diz-se satisfeito com os resultados obtidos e esperançoso de que se possa dar um destino a esses materiais.

O pesquisador desenvolveu a pesquisa com recursos do CNPq, por meio de editais de pesquisa. Com os resultados em mãos, ele pretende apresentá-los à Hydro e à Imerys. E motivos não faltam para que essas indústrias decidam apoiar o projeto. Ambas têm histórico de vazamentos das barragens, ou seja, o passivo ambiental apresenta um risco real de acidentes, que, quando ocorrem, mancham a imagem da empresa.

Ed.132 - Agosto e Setembro de 2016

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

registrado em: ,
Fim do conteúdo da página