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Resenha: Muito à frente de seu tempo

Publicado: Sexta, 11 de Agosto de 2017, 16h45 | Última atualização em Sexta, 11 de Agosto de 2017, 18h31 | Acessos: 7224

Obra apresenta história da Maçonaria no Pará no período de 1850 a 1900

Por Walter Pinto Foto reprodução

As origens mais remotas da Maçonaria no Pará datam de 1815, quando aportou em Belém frei Luís Zagalo, que teria feito pregação revolucionária na capital paraense e em Cametá, espalhando ideias subversivas entre escravos e influenciando o cônego Batista Campos, um dos principais protagonistas das lutas que levariam à Cabanagem.  Zagalo logo foi acusado de “apóstata e pedreiro livro”, o que significava ser maçom.

Muito deste protagonismo rebelde da Maçonaria no Pará foi reconstruído recentemente pelo historiador e professor da UFPA Elson Luiz Rocha Monteiro, em tese de doutorado que deu origem ao livro Maçonaria, poder e sociedade no Pará na segunda metade do século XIX, publicado pela Editora Açaí. O livro tem como recorte o período entre os anos 1850 e 1900, marcado por profundas modificações na estrutura política e social do País.

O autor pretendeu, inicialmente, discutir o papel da Maçonaria na “Questão Religiosa”, o conflito ocorrido no Brasil, na década de 1870, que opôs a Igreja Católica à Maçonaria e acabou se tornando uma grave questão de Estado. Mas a análise de fontes pouco pesquisadas nos arquivos maçons, como relatórios, atas de reuniões, mensagens e ofícios da Grande Oriente do Brasil, assim como a leitura de jornais revelaram muito sobre a atuação de intelectuais maçons nos embates abolicionistas e republicanos do final do século XIX.

Maçons como Samuel MacDowell, Dr. Assis, Lauro Sodré, Serzedelo Corrêa, Justo Chermont, Paes de Carvalho, José Veríssimo, Padre Eutichio, cônego Ismael Nery, entre outros, foram protagonistas destacados daqueles embates, mantendo acesa a chama libertária introduzida no Pará pelo combativo Zagalo.  O estudo, porém, inicia-se por questões relacionadas à historiografia maçônica e ao desenvolvimento da Maçonaria, que se confunde, no Brasil, com a história da Grande Oriente do Brasil, envereda pela “Questão Religiosa”, destacando o Pará e também o Amazonas como palcos principais daqueles embates, e detém-se no estudo da relação entre Maçonaria, poder e sociedade, que lhe serve de título.

O autor observa que a atuação de maçons nas questões abolicionista, religiosa e republicana, que, sob a inspiração do Iluminismo, defenderam, entre outras ideias, a educação laica, o federalismo e a separação Igreja-Estado, não foi resultado de atuações individuais, mas foi algo articulado e debatido dentro das lojas maçônicas.

Oriunda das Corporações de Ofícios da Idade Média, a Maçonaria atravessou os séculos como sociedade progressista e evolucionista. Mas, por ser considerada uma sociedade secreta, cheia de segredos e mistérios, sempre intrigou o grande público. No entanto, como demonstra o autor, o que moveu a Maçonaria a influenciar e a interferir no processo político das nações em que  suas lojas se inseriram não foi nada de secreto ou misterioso, mas sim um espírito libertário e humanista, assim como o racionalismo científico.

Os ideais maçônicos foram abraçados por muitos brasileiros ilustres, mesmo em lados opostos. O imperador Pedro II e o marechal que o destronou, o republicano Deodoro da Fonseca, eram maçons. Quase todos os presidentes da Primeira República também o eram. A inserção da Maçonaria na sociedade brasileira deu-se tanto no plano macro como no micro. No Pará, a fundação da primeira loja maçônica, a “Tolerância”, em 22 de janeiro de 1831, teve a participação do então presidente da Província José Félix Pereira Pinto de Burgos, o Barão de Itapicuru-Mirim. Curiosamente, teria sido o cônego Batista Campos, rejeitado como membro daquela sociedade secreta, um dos seus mais contundentes inimigos, conforme relato de Domingos Antonio Raiol em “Motins Políticos”. Em qualquer púlpito, o cônego pregava contra a Maçonaria chamando os maçons de “adoradores do diabo” e até de “praticantes de incestos”.

Outra importante contribuição da tese de Elson Monteiro é trazer para os leitores de hoje o debate travado na imprensa paraense entre maçons e seus opositores, em torno de questões definidoras do momento. O abolicionismo, por exemplo, foi defendido por uma parcela da elite paraense integrada, entre outros, pelo advogado Samuel MacDowell e pelos políticos liberais Tito Franco e Gama Malcher, todos maçons. Aliás, conforme revela o estudo, o engajamento da Maçonaria paraense na questão abolicionista está presente de forma sistemática desde o início da década de 1870, com a libertação constante de escravos dentro das lojas maçônicas.
O livro desvenda o véu do mistério que sempre envolveu a Maçonaria e revela uma instituição muito à frente de seu tempo.
 
Serviço - Maçonaria, poder e sociedade no Pará na segunda metade do século XIX (1850-1900). Élson Luiz Rocha Monteiro. Editora Açaí, 2017.

Ed.138 - Agosto e Setembro de 2017

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