Comércio padece com alagamentos
Topografia, lixo e sistema de drenagem prejudicam o bairro da Campina
Por Amanda Nogueira Fotos Acervo do Pesquisador
Há anos, Belém vem enfrentando alagamentos, principalmente durante o inverno amazônico, quando as chuvas são mais frequentes e a falta de um sistema de drenagem eficiente causa diversos transtornos aos moradores da cidade. Na dissertação Alagamentos no Centro Comercial da Campina, Belém-PA: Identificação das Causas e suas Implicações de Acordo com a Percepção dos Comerciantes Locais, apresentada ao Núcleo de Meio Ambiente (Numa/UFPA), Dyego Rodrigo Damazio discute as causas desse problema. A pesquisa foi realizada sob orientação dos professores Luiza Carla Girard Mendes Teixeira e Claudio Fabian Szlafsztein.
Focada, principalmente, no comércio de Belém, delimitada à área que compreende a Rua João Alfredo, entre a Avenida Portugal e a Travessa Frutuoso Guimarães, e o perímetro entre a Avenida Boulevard Castilhos França até a Rua Senador Manuel Barata, a pesquisa teve como propósito descobrir o que leva esses alagamentos a acontecerem nesses locais com grande número de comerciantes instalados e intensa circulação de pessoas. “Eu queria descobrir se o problema era a maré, a drenagem, uma educação ambiental falha, a falta de manutenção da rede, os problemas com resíduos sólidos, entre outras hipóteses que foram analisadas”, explica o pesquisador.
O local é um dos centros econômicos mais importantes de Belém e pode ser considerado o coração do setor financeiro da cidade, assim como um dos pontos turísticos mais conhecidos da capital. “No local, existe um grande fluxo de pessoas trabalhando, visitando, que são expostas a essa condição, com perigo de contrair problemas de saúde”, esclarece o pesquisador.
Em época de cheia, as marés chegam a 3,8 metros
Segundo Dyego Damazio, a causa principal dos alagamentos é a maré, não só do Comércio, mas também de toda a cidade. “A nossa cidade é muito baixa topograficamente, ela está abaixo do nível do mar. Quando a maré está muito alta, ela entra no sistema de drenagem, como acontece nos meses de março e abril, quando é o pico do inverno amazônico”, explica. Nessa época, a maré chega facilmente a 3,8 metros. Uma maré com mais de 3 metros já é o suficiente para causar problemas de alagamento. A área do Comércio, por ser muito baixa, sofre intensamente com esse problema.
Outro problema é o sistema de drenagem muito antigo, que data da época da fundação da cidade. O comércio foi uma das primeiras áreas saneadas de Belém e, desde então, não recebeu nenhuma proposta de revitalização. Eventualmente, acontecem ações de manutenção e limpeza, sem a renovação necessária, por isso existem seções de drenagem dos poços de visitas que estão danificadas e bloqueadas. “O sistema de drenagem daquela área precisa ser modificado urgentemente para dar conta da nova realidade da cidade. Por ser muito antigo, ele visava atender a outra demanda. Hoje, a área expandiu-se e possui um fluxo mais intenso de pessoas, o que sobrecarrega o sistema”, indica o pesquisador.
O lixo gerado pela área comercial também deve ser levado em consideração. Entre o período em que o lixo é depositado na rua para ser removido e o momento em que a prefeitura deveria passar recolhendo-o, a chuva cai e leva esse lixo para dentro dos bueiros até entupi-los, impedindo a passagem da água. “O lixo é um problema que pode ser resolvido com a conscientização dos comerciantes para fazer o depósito de forma adequada e com respeito aos horários da coleta”, avalia.
Trabalhadores da área têm seus rendimentos diminuídos
O pesquisador trabalhou diretamente com os comerciantes, procurando entender a perspectiva deles sobre como os alagamentos afetam a economia. Nos meses de alagamento, que podem começar no final de fevereiro e estender-se até abril, a economia da cidade é bastante prejudicada, já que o comércio é um dos setores econômicos que mais contribuem com o PIB de Belém. “Nos questionários que foram aplicados entre ambulantes e lojistas, foi constatado que eles perdem até 50% do seu rendimento normal em um dia de alagamento, muitos não vão trabalhar, pois não conseguem chegar ao seu local de trabalho, e muitos compradores deixam de ir ao comércio por causa da impossibilidade de transitar naquela área”, esclarece Dyego Damazio.
“Fiz um levantamento histórico desses alagamentos, com dados levantados tanto em órgãos públicos quanto na literatura, revendo estudos que já abordaram essa questão. Também conversei com os comerciantes da área, pois, mais do que ninguém, eles são capazes de fornecer informações precisas sobre o que está acontecendo naquela região. Também utilizei cálculos e dados estatísticos correlacionando o fluxo da maré, a quantidade de precipitação e a capacidade de drenagem do sistema, para mensurar, com precisão, a extensão e a intensidade dos alagamentos no local”, explica o pesquisador.
Como solução principal, Dyego acredita que a revitalização do complexo de drenagem seria a melhor opção. “Existia um sistema de comporta no início do canal da Avenida Tamandaré. Esse sistema, segundo um engenheiro da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), ajudava a controlar a entrada da maré, mas esse sistema foi desativado em 2009, o que contribuiu para que os alagamentos se intensificassem”, revela o pesquisador. Para ele, um programa de educação ambiental promovido pela prefeitura para comerciantes e usuários da região ajudaria a reduzir os resíduos sólidos e evitaria a sobrecarga do sistema de drenagem.
O pesquisador espera que os resultados do estudo forneçam subsídios para políticas públicas que visem à revitalização do Comércio. No futuro, Dyego Damazio gostaria de continuar trabalhando a questão dos alagamentos, com o foco direcionado para a saúde. “As questões de saúde não foram o foco das pesquisas, mas diversas pessoas afirmaram que se sentiam prejudicadas fisicamente pelos alagamentos. Essa situação coloca vidas em risco”, reitera.
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