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Opinião

Publicado: Quarta, 14 de Setembro de 2022, 12h23 | Última atualização em Quinta, 06 de Outubro de 2022, 20h00 | Acessos: 1758

A construção da Belém moderna

Foto Acervo pessoal

Em 2023, vai se cumprir o centenário do engenheiro e arquiteto Camillo Sá e Souza Porto de Oliveira, a quem podemos facilmente chamar de “o construtor do moderno em Belém”. Mas quem foi essa figura que deixou como legado quase 200 projetos, entre novas construções, reformas e ampliações, que mudaram a fisionomia de Belém a partir da década de 1940? Nascido no dia 2 de janeiro de 1923, Camillo graduou-se engenheiro em 1947, pela antiga Escola de Engenharia do Pará, e arquiteto em 1968, na turma de adaptação do curso de Arquitetura da então Universidade do Pará, curso este que ele ajudou a implantar com outros engenheiros, em 1964. Essa adaptação para receber o título de arquiteto foi, como Camillo nos afirmou em entrevista, para estar em dia com as exigências de que somente arquiteto podia construir “edifícios monumentais”, conforme ditava a lei vigente na época.

No entanto, mesmo antes de ser titulado arquiteto, desde a década de 1940, Camillo já projetava e construía obras que passariam a expressar as linhas estéticas, funcionais e construtivas da arquitetura moderna. Um dos seus primeiros projetos com essas características foi a casa construída para o médico Deusdeth Moura Ribeiro, em 1949, que apresentava soluções compositivas, formais e espaciais que anunciavam as novas exigências de morar dos grupos sociais emergentes na cidade.

Seguiu-se, então, uma série de casas e edifícios verticalizados que coroaria seu talento para traduzir em projetos os sonhos de modernidade das famílias abastadas da cidade: Edifício Dom Carlos (década de 1950), Edifício Santa Lucia (1963), Casa Belisário Dias (1954), Casa Bittencourt (1957), Residência Coelho (1958-1965), Casa Aracy Barreto (1955), Casa Jean Bittar (1956 - demolida), Casa Bendahan (1956), Casa Leote Piqueira (1959 – na iminência de ser demolida), Casa Simy M. Duarte (1954), Casa Chalú Pacheco (1962/65), o projeto de sua casa na Travessa Presidente Pernambuco e outras dezenas de obras que comprovam sua contribuição essencial para a construção da Belém moderna. Além de arquitetura residencial, Camillo também projetou e construiu edifícios institucionais, como a sede do antigo DER, atual Setran (1959); o projeto para uma Escola Paroquial (1962); a sede do clube social da Assembleia Paraense (1956), demolida nos anos 1970; e o projeto não construído para a sede campestre do clube Bancrévea (1956).

A arquitetura de Camillo Porto, mais que uma mera apropriação de formas, volumetrias e arranjos espaciais que compunham o repertório arquitetônico moderno, constituiu-se também como uma expressão material, simbólica e cultural dos processos de transformação da modernização no espaço construído da cidade de Belém durante a segunda metade do século XX.

Como repositório e testemunho dos processos históricos que traduzem a modernidade de uma época, urge que a produção arquitetônica de Camillo Porto realizada entre as décadas de 1950 e 1970 receba a devida atenção dos órgãos aos quais compete assegurar a proteção e a conservação de tantos exemplares, inúmeros deles desconhecidos pela sociedade, outros já desaparecidos, abandonados ou em estado de quase ruína. Espero que, desde agora, celebremos seu centenário, memorando, sobretudo, sua arquitetura como patrimônio vivo, que traz para o presente a materialização do passado, inscrevendo-se como parte essencial da sobrevivência das memórias e histórias individuais e coletivas, tão necessárias à Belém de hoje.

Celma Chaves Pont Vidal – Doutora em Teoria e História da Arquitetura pela Universidade Politécnica da Catalunha (2005). Professora Associada IV da FAU/ UFPA, docente do quadro permanente do PPGAU-UFPA. Coordenadora do Laboratório de Historiografia e Cultura Arquitetônica (LAHCA/UFPA). Desenvolve pesquisas na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria e História da Arquitetura. E-mail: celma@ufpa.br

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