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Manter-se em movimento também é remédio

Publicado: Terça, 15 de Julho de 2025, 19h33 | Última atualização em Terça, 15 de Julho de 2025, 19h33 | Acessos: 5

Projeto Parkinson Pai d’Égua rende bons resultados em Castanhal

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Por Walter Pinto |Foto: Acervo do projeto

Doença degenerativa, crônica e progressiva, o Parkinson ataca os neurônios responsáveis pela produção da dopamina, um neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro a várias partes do corpo. Essa alteração prejudica o domínio dos movimentos, e os sintomas mais aparentes são a rigidez muscular e os tremores involuntários. Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência da doença no Brasil é de 100 a 200 casos por 100 mil habitantes, com a maioria dos casos ocorrendo em pessoas acima dos 55 anos. A gravidade da doença costuma impactar o paciente em função do estigma social, pois a pessoa com Parkinson tem a voz prejudicada pela rigidez das cordas vocais, dificuldade de se alimentar com as próprias mãos e caminhar sozinho. Diante dos sintomas, é comum entrar em depressão e se isolar em casa.

O tratamento médico é feito via reposição da dopamina por meio da medicação prolopa (associação das substâncias levodopa e cloridrato de benserazida), mas o efeito do remédio é passageiro, o que obriga o paciente a tomá-lo até seis vezes ao dia. Paralelamente ao uso do remédio, a prática contínua de exercícios físicos é outra forma de reduzir os sintomas motores da doença. Esta é a proposta do Projeto Parkinson Pai d’Égua, um programa de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA), que atende, de forma gratuita, a pessoas com Parkinson e até idosos sem a doença. O projeto é coordenado pela professora Elren Passos Monteiro, do Grupo de Pesquisa em Fisiomecânica da Locomoção e Reabilitação Funcional (Pendulum), do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH).

A equipe do projeto é formada por mestrandos do PPGCMH, educadores físicos e fisioterapeutas, que atuam como supervisores, e por um conjunto de estudantes de Iniciação Científica, bolsistas e voluntários, que trabalham na organização, nas avaliações e na prática dos exercícios físicos. Para se inscrever no projeto, o interessado deve apresentar um diagnóstico neurológico e fazer uso contínuo da medicação prolopa. A proposta é que os participantes se mantenham no programa de forma continuada para evitar regressão acentuada dos sintomas motores.

Danças amazônicas estão entre as atividades ofertadas

O Parkinson Pai d’Égua trabalha quatro atividades físicas: danças amazônicas, caminhada nórdica, corrida de velocidade e pilates de solo. Segundo Elren Passos, coordenadora do grupo de pesquisa, as danças amazônicas, além da questão identitária (o termo “pai d’égua” pertence ao vocabulário paraense e se refere a algo bom, interessante), têm um efeito de aderência, pois trazem à memória dos participantes um passado em que dançavam ao ritmo de estilos regionais, como brega e carimbó. “Eles amam como se fosse uma festa. Eles conseguem ver pessoas nas mesmas condições e isso se torna um refúgio. Os laços de amizade vão se fortalecendo, passando a sensação de uma família”, conta Elren Passos Monteiro.

Pesquisa de mestrado da professora de Educação Física Carla Luana, do PPGCMH, empregando a metodologia de avaliação GDS-15, constatou melhoras nos sintomas depressivos das pessoas com Parkinson que realizaram um período de 12 semanas de danças amazônicas. Segundo Elren Passos, a melhora é perceptível na fisionomia dos participantes: “Ao final da atividade, eles estão dançando e conversando. Isso comprova que o nosso projeto tem um impacto social, físico e emocional”.

Outra pesquisa, esta da mestranda Thayara Tabayra, colheu relatos de participantes das danças amazônicas de melhora nos aspectos de interação social, tratamento e suporte familiar. A dança tornou-se uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida deles. A nova etapa desta pesquisa, em parceria com o Grupo Dança e Parkinson da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), financiada pelo Global Health Institute, tem por objetivo avaliar a saúde cerebral dos praticantes das danças amazônicas.

A caminhada nórdica, um tipo de caminhada com o uso de bastões, auxilia no equilíbrio das pessoas com Parkinson. Os participantes relatam a sensação de maior segurança ao fazerem o exercício, realizado em percurso intercalado por períodos de descanso. A caminhada nórdica surgiu no norte da Europa, com os esquiadores finlandeses que desejavam treinar durante o verão. Com o tempo, a atividade foi se expandindo pelo mundo e, atualmente, é indicada para qualquer pessoa. O praticante despende mais oxigênio para fazer essa caminhada, porque ela trabalha todo o corpo, ativa os membros superiores e melhora o equilíbrio. Ao mesmo tempo, proporciona mais segurança ao caminhar. O uso de bastões ajuda a correção da ‘postura em flexão’, mais curvada para frente, característica das pessoas com Parkinson. Estes foram os achados encontrados na pesquisa de mestrado de Jacqueline Lima.

A corrida de velocidade, o sprint, uma progressão a contar da caminhada, vem alcançando bons resultados entre os participantes do projeto. Pesquisas de mestrado em andamento, de Vinícius Baía e Edigar Menezes, demonstram que os voluntários do Programa Parkinson Pai d’Égua estão desenvolvendo potência para saltar verticalmente e correr na sua máxima velocidade.

Durante o seu doutorado, realizado na Universidade Federal em Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a professora Elren Passos já havia percebido a relação entre o aumento de velocidade e a redução dos sintomas da doença de Parkinson: “Constatei que a corrida em alta intensidade envia uma forma de mensagem ao nível cerebral que modifica os parâmetros, fazendo com que os sintomas desapareçam qualitativamente”.

Pesquisadores associam marcha à qualidade da respiração

Em estudo do fisioterapeuta Lucas Meireles, do PPGCMH, a equipe de pesquisadores desenvolveu um programa de reabilitação respiratória associado ao treinamento da caminhada nórdica. Por meio da manovacuometria e da espirometria, eles avaliaram a pressão e a força com que o ar entra e sai dos pulmões. Esses índices respiratórios estão relacionados a vários parâmetros de saúde, entre os quais, a capacidade de caminhar. “Observamos que, após um programa de dez semanas de marcha, os indivíduos melhoram a força e a pressão respiratória. A troca gasosa de oxigênio e gás carbônico melhora consideravelmente. Há pessoas que, antes, mal conseguiam caminhar quarenta metros. Depois da marcha, conseguem dar quatro voltas na pista onde as atividades são realizadas”, conta a coordenadora Elren Passos.

Outro dado interessante da pesquisa é a ação da velocidade de marcha sobre a disfunção respiratória. O estudo concluiu que quanto menor a velocidade, maior a chance de o paciente ter uma alteração respiratória no futuro. “Este é um dado importante. Precisamos pensar em programas que melhorem a velocidade da marcha, se quisermos melhorar a capacidade respiratória das pessoas portadoras de Parkinson, visto que a doença impacta diretamente as atividades funcionais dos pacientes”, explica a professora.

Questão familiar – Para Elren Passos Monteiro, a ideia de contribuir com a qualidade de vida das pessoas com Parkinson surgiu por uma questão familiar: sua mãe, uma mulher superativa, foi diagnosticada com a doença aos 50 anos. Um certo dia, ela paralisou, não conseguiu mais se levantar da cama. Elren era, então, estudante de Graduação em Educação Física da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Sobreveio-lhe a necessidade de se especializar na área do distúrbio do movimento para poder auxiliar a mãe. Começou a busca por estudos de Neurociência e Biomecânica.

Depois da especialização em Neurociência, ela realizou o mestrado na UFRGS, em que  pôde desenvolver seu projeto: a criação de um programa de treinamento de caminhada nórdica, modalidade pouco difundida no Brasil. “Nossos resultados foram incríveis. Realizamos um ensaio clínico com mais de 30 pessoas e constatamos a melhora delas após nove semanas de treinamento. Os pacientes ficaram tão animados com os benefícios que escreveram carta ao reitor pedindo para que o projeto se tornasse um projeto permanente de extensão”, conta.

A pesquisa de doutoramento surgiu com a prática da extensão: Em um determinado dia, Elren aumentou um pouco mais a velocidade da marcha de um paciente e ele começou a correr. Uma questão se colocou de imediato: a corrida em alta intensidade é viável para pessoas com Parkinson?

Quando estava finalizando a tese, a UFPA abriu concurso para docente da Faculdade de Educação Física, no Campus Castanhal. Em 2019, foi aprovada e, no ano seguinte, iniciou a organização de um programa específico para o Parkinson, mas os planos foram interrompidos devido à pandemia de covid-19. Finalmente, em 2022, o programa teve início, agora agregando características regionais. Foi, então, que surgiu o Programa Parkinson Pai d’Égua.

Serviço: Para se inscrever no projeto, o interessado deve apresentar um diagnóstico neurológico e fazer uso contínuo da medicação prolopa. Os acompanhantes também podem se inscrever no programa. A proposta é que os participantes se mantenham no programa de forma continuada para evitar regressão dos sintomas motores.

Beira do Rio edição 175 - Junho, Julho e Agosto 

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