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Qualidade para além do índice

Publicado: Terça, 10 de Dezembro de 2019, 18h52 | Última atualização em Terça, 10 de Dezembro de 2019, 18h52 | Acessos: 1868

Escolas de Belém com médias altas no Ideb são analisadas

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 Por Flávia Rocha Foto Amância P

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um indicador usado pelo governo para avaliar a educação brasileira. O Ideb é calculado com base na taxa de aprovação dos alunos e nas médias de desempenho em exames passados pelo Inep, como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

“O Ideb foi criado em 2007, a partir de uma orientação neoliberal para a educação. Ele segue a ótica das avaliações externas, baseado no formato do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA)”, afirma Edna Cardozo, autora da dissertação Escolas de qualidade da rede pública de educação de Belém/PA segundo o Ideb: que qualidade é essa?, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/ICED), com orientação da professora Eliana da Silva Felipe.

O Ideb é responsável por aferir a qualidade da educação básica. Sua influência tem gerado mudanças no trabalho escolar e na padronização dos conteúdos curriculares, ou seja, as avaliações externas passaram a orientar as escolas no que deve ser ensinado e avaliado.

 “O objetivo da pesquisa foi verificar a educação na rede pública municipal de Belém, visando analisar as práticas pedagógicas desenvolvidas nas ‘escolas de qualidade’ segundo o Ideb, estabelecendo relação de fluxo e desempenho escolar com essas práticas. A nossa hipótese indicava que essa ‘qualidade’ estaria para além daquela demonstrada no Índice, pois os trabalhos desenvolvidos nessas escolas não são todos avaliados pelos indicadores do Ideb”, explica a educadora.

Para isso, Edna Cardozo selecionou seis escolas que obtiveram média superior a 5.2 no Ideb, três em bairros centrais e três em bairros periféricos. “Fizemos visitas às escolas, observamos e coletamos dados. Além disso, aplicamos um questionário com 30 perguntas para professores, coordenadores pedagógicos e gestores escolares”, expõe.

Comprometimento dos professores é indispensável

Das seis instituições escolhidas, duas alcançaram a média 6.0, meta que deve ser atingida pelas escolas do país até 2021. “Realizamos entrevistas nas duas escolas, com um total de dez entrevistados, sendo cinco em cada uma delas. No processo da pesquisa, foi feita a opção por denominá-los com codinomes de autores da literatura infantojuvenil. Este fato se deu em virtude de as escolas em referência valorizarem a leitura como uma de suas práticas pedagógicas”, escreve a educadora na dissertação. “Os resultados mostraram que o trabalho que essas escolas desenvolviam estava para além do Índice. Nas entrevistas, os professores sinalizaram isso”, afirma Edna Cardozo.

“Um dos resultados da pesquisa foi o compromisso dos professores. O comprometimento era tão grande que eles se sentiam responsáveis por prover recursos e materiais que as escolas não tinham. Os professores deixavam muito claro que eles queriam garantir que a criança aprendesse. Os resultados revelaram também que essas escolas realizam práticas pedagógicas que eu considero diferenciadas na perspectiva da escola pública, como aproximar a família do espaço escolar”, revela. Para Edna Cardozo, esse trabalho colaborativo tem a parceria dos vários sujeitos em prol de um projeto comum, e os bons resultados se refletem não só no Ideb, mas também na vida dos alunos.

Segundo a pesquisadora, o Ideb é uma iniciativa importante, pois mobilizou as escolas e as secretarias de educação a organizar e a desenvolver ações em busca da qualidade educacional aferida pelo índice. A ideia de avaliar para melhorar a educação se confronta quando os indicadores não contemplam o que a escola é. “A Prova Brasil foca na proficiência em Língua Portuguesa e em Matemática e na aprovação escolar. No entanto deixa de perceber outros dados do fluxo, como a evasão, a reprovação e outras competências, como História e Geografia. As Escolas Ernestina Rodrigues e Amância Pantoja desenvolvem um trabalho voltado para a sensibilidade e para o respeito. Durante as entrevistas, foi possível sentir a emoção de alguns professores, ao contar sobre a influência positiva da escola na trajetória dos alunos”, conta Edna Cardozo.

Por uma prática pedagógica mais humana e cidadã

O estudo mostra que escolas menores têm mais facilidade em atender aos alunos. “Há maior participação dos pais. Os professores e os gestores são mais integrados. Essas escolas preparam os alunos para a avaliação do Ideb, isso é fato, porém elas buscam prepará-los para a vida. Então, além das matrizes de referência fornecidas pelo índice, a escola acrescenta seus próprios conteúdos e boas práticas pedagógicas. O bom resultado no índice é uma consequência”, garante Edna Cardozo.

Edna pretende dar prosseguimento ao trabalho. “Planejo retornar às instituições, apresentar os resultados e desenvolver uma formação para os professores baseada em algumas demandas observadas nas escolas selecionadas”, diz a pedagoga. “É importante realizar uma formação com esses professores para disseminar essas boas práticas. É um ‘trabalho de formiguinha’, mas compensa no final”, acredita a professora.

Mas, enfim, o que é uma escola de qualidade? “Na minha concepção, a qualidade da educação depende de vários fatores, entre os quais: boa infraestrutura, boas condições de trabalho, menor número de alunos por sala, formação continuada, salário digno para os educadores e uma prática pedagógica mais humana e cidadã. Esses são fatores intraescolares. Os extraescolares são os alunos terem condições de sobrevivência, com um núcleo familiar saudável, e viverem com dignidade. São fatores que não estão no campo da escola, mas se interligam”, opina Edna.

“Devemos unir forças para ter um bom resultado, uma vez que a pesquisa revela que a melhoria na qualidade da educação se constitui não apenas por índices, mas também, principalmente, pela adoção de práticas pedagógicas colaborativas, que são movidas em prol de um projeto educativo orientado pelo compromisso com a aprendizagem dos alunos”, conclui Edna Cardozo.

Ed.152 - Dezembro e Janeiro de 2019 / 2020

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