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Entrevista: A construção da história social na Amazônia

Publicado: Quarta, 15 de Dezembro de 2021, 18h43 | Última atualização em Quinta, 27 de Janeiro de 2022, 17h48 | Acessos: 2082

PPHist comemora aniversário ampliando parcerias internacionais

Por Walter Pinto Foto Alexandre de Moraes

O Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (PPHist), do Instituto de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará, está comemorando o décimo ano de funcionamento de seu curso de Doutorado, mas, efetivamente, o programa existe desde 2004, quando o Mestrado passou a ser oferecido aos graduados em História e áreas afins. Atualmente coordenado pelo professor Francivaldo Alves Nunes, doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o PPHist nasceu com um perfil mais ligado à história social e cultural francesa do que à interpretação estruturalista marxista, dominante na década de 1980. Na entrevista a seguir, Francivaldo Nunes, pesquisador especialista em estudos migratórios e conflitos rurais pela posse da terra na Amazônia, explica como ocorreu esse processo, ressalta etapas fundamentais, destaca como se definiu o perfil do doutorado, os convênios e programas de cooperação que contribuem para a inserção internacional do PPHist. Por fim, discorre como o primeiro Doutorado em História da Amazônia está se consolidando como uma pós-graduação de referência para os demais estados da região e, inclusive, para os países que compõem a Pan-Amazônia.

Pioneirismo do PPHist

Estamos chamando a atenção para os dez anos do Doutorado porque ele é uma espécie de marca da consolidação do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da UFPA, o primeiro Doutorado em História em toda a região amazônica. Temos que ressaltar a ação precursora do NAEA na década de 1980. O NAEA nasceu com uma proposta interdisciplinar e foi muito importante por abrir possibilidades para outros programas de pós-graduação na Instituição. Alguns docentes e alunos egressos do curso de História realizaram pós-graduação no NAEA. A professora Leila Mourão, por exemplo, foi uma dessas docentes. Mas, se a proposta do NAEA era ter a Amazônia como objeto de discussão e análise, seu foco interdisciplinar passava por várias áreas do conhecimento que analisavam o mesmo fenômeno pelo viés do estruturalismo marxista, em voga naquele momento. De alguma forma, no entanto, essa interpretação não ajudava muito do ponto de vista daquilo que estava se consolidando no Brasil, no campo da História, que era justamente uma história mais vinculada à Escola dos Annales, focada nos costumes, nos valores, nas experiências dos sujeitos. Percebíamos que os docentes e os discentes de História já não se sentiam muito confortáveis com a abordagem estruturalista marxista. Os professores que saíram para a pós-graduação na Unicamp, por exemplo, tiveram maior contato com a literatura da história sociocultural francesa e da historiografia inglesa, principalmente com os estudos de Edward Thompson. Então, regressaram com a perspectiva de pensar os usos dos recursos da floresta com base na experiência das populações amazônicas, e não seguindo as estruturas como propõe a teoria marxista.

Cooperação com a Unicamp

A história do Doutorado passa pela necessidade de os professores ampliarem suas formações na década de 1980. Parte deles foi para São Paulo, especialmente para a Unicamp, entre eles, os professores Aldrin Figueiredo, Edilza Fontes, José Alves, José Maia e Nazaré Sarges. A Unicamp havia firmado um termo de cooperação com a UFPA, pelo qual enviou uma equipe de jovens doutorandos para cobrir a ausência dos professores em sala de aula. Entre os enviados, estavam os professores Rafael Chambouleyron, Magda Ricci, Henrique Espada Lima e Claudia Maria Fuller. Encerrado o tempo de permanência, alguns regressaram, outros foram aprovados em concursos e tornaram-se professores efetivos da UFPA. Com o retorno dos nossos professores do Doutorado, construiu-se a ideia de investirmos na pós-graduação. Apoiada pelos demais docentes, a professora Magda Ricci liderou o processo que culminou com a abertura dos cursos de Mestrado e, sete anos depois, de Doutorado.

História e natureza

Para a definição do perfil da nossa pós-graduação, foram importantes as experiências das especializações e a participação dos professores no Projeto de Interiorização da UFPA. Esses fatores levaram ao entendimento da necessidade de se construir uma pós-graduação que revelasse a Amazônia pelo viés da floresta, dos rios, das populações interioranas. Então, desenhou-se um programa que mantivesse diálogo entre História e natureza, ou seja, pensando uma história social sempre mediada por questões vinculadas à floresta, aos rios, às características que definem a região amazônica. Atualmente, o PPHIST tem quatro linhas de pesquisa, mas a linha que deu origem ao programa foi a de História e natureza.

Conexão com o mundo

Dezessete anos depois, o PPHIST tem um enfoque mais global sobre a Amazônia. No primeiro momento, a ideia era entender a Amazônia nas suas especificidades, compreender essa história regional, a trajetória das populações, perceber a Amazônia para além do espaço da floresta, as experiências humanas que se constituíram ao longo do tempo. Foi essa a discussão que amarrou e consolidou a proposta inicial. Hoje, a gente consegue ver a Amazônia com essa especificidade, mas uma Amazônia conectada, que dialoga com outras regiões do mundo, uma Amazônia mais global, de intercâmbio, que não só recebe, mas também disponibiliza informações para outras regiões do mundo. Nossas pesquisas, produzidas academicamente por meio das teses e dissertações, têm como proposta pensar essa região conectada com o mundo. Hoje discutimos migrações internacionais, produção econômica local conectada aos mercados mundiais, buscamos compreender a trajetória histórica da Amazônia em diálogo com as outras experiências do mundo. Esse é o caminho que estamos trilhando.

Inserção internacional

Para além do diálogo dos nossos professores-pesquisadores com universidades estrangeiras e da produção acadêmica referenciada quando se fala em História social da Amazônia, o PPHist mantém convênios e programas de cooperação internacionais, estabelecidos via Pró-Reitoria de Relações Internacionais (Prointer) e Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp). Um deles é o Programa de Formação de Professores de Educação Superior de Países Africanos (ProAfri), pelo qual recebemos alunos africanos. Também recebemos alunos da Amazônia internacional e de outros países latinos, como Argentina, Uruguai, Chile, interessados em estudar a relação entre as diferentes regiões. Os projetos de pesquisa devem pensar a Amazônia conectada. As propostas de estudo dialogam diretamente com as linhas do programa e agregam à discussão a história dos países de origem dos alunos. Temos convênios de cooperação com a Cátedra Lúcio de Azevedo, que nos permite organizar atividades conjuntas e parcerias com pesquisadores portugueses de diversas instituições, assim como torna possível os nossos pós-graduandos realizarem os doutorados sanduíches em Portugal, onde podem estudar durante um ano, certamente se configurando em uma rica experiência acadêmica e de vida. Atualmente estamos trabalhando para ampliar a proximidade do PPHist com instituições de países da Pan-Amazônia. A vinda do professor Carlos Zárate Botía, da Universidade Nacional da Colômbia, para proferir a aula inaugural no nosso programa é um resultado desse trabalho. O professor Carlos Zárate é um reconhecido cientista social da área de estudos de fronteira na América Latina.

Beira do Rio edição 161

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