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Lazer e perigo à beira-mar

Publicado: Quarta, 15 de Dezembro de 2021, 18h44 | Última atualização em Sexta, 17 de Dezembro de 2021, 20h12 | Acessos: 3070

Pesquisa elabora plano de segurança para sete praias da região

Ondas e marés não representam risco para banhistas na praia do Pesqueiro, no Marajó. Por lá, os frequentadores devem ter cuidado com animais marinhos, como as arraias.
Foto mostra visão panorâmica da praia do Pesqueiro, na Ilha do Marajó. Há uma pequena lagoa formada por maré seca, palhoças vazias e vegetação nativa ao fundo.
Foto mostra visão panorâmica da praia do Pesqueiro, na Ilha do Marajó. Há uma pequena lagoa formada por maré seca, palhoças vazias e vegetação nativa ao fundo.

Por Adrielly Araújo Foto Acervo da Pesquisa

No Brasil, de acordo com o Pla­no Nacional do Turismo (PNT), a participação do setor turístico (praia, ecoturismo, turismo gastronômico, religioso, rural, entre outros) na economia, em 2018, foi de R$ 58,6 bilhões. Esses dados ainda não foram atualizados durante a pandemia da Covid-19, mas a diminuição da frequência turística no Brasil foi sentida, principalmente, pelas economias regionais. O desenvolvimento turístico de uma dada localidade está relacionado aos interesses da população, às condições de saúde e segurança, à qualidade do meio natural e aos aspectos históricos e culturais lá existentes.

Essas são informações usadas para contextualizar a dissertação Riscos e perigos em praias estuarinas e marinhas do litoral amazônico, da bióloga Ana Beatriz Brito Dias. O trabalho, orientado pela professora Luci Cajueiro Carneiro Pereira, foi movido pela necessidade de avaliar as principais adversidades relacionadas à segurança dos frequentadores das praias paraenses. “A pesquisa teve como objetivo avaliar os riscos naturais e antrópicos de sete praias do litoral paraense, com a finalidade de sugerir medidas de segurança aos usuários dos espaços”, explica a autora.

O estudo foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental (PPBA/IECOS) da Universidade Federal do Pará. “O estado do Pará detém uma ampla (e economicamente importante) linha de costa onde se encontram ambientes com características físicas distintas entre si. São praias marinhas e estuarinas, ambientes rurais e urbanos que atraem milhares de visitantes nos períodos de férias escolares e merecem atenção especial”, justifica Ana Beatriz Dias.

Ocorrências do Corpo de Bombeiros foram analisadas

Durante a pesquisa, foram analisadas as praias do Atalaia (Salinópolis), da Princesa (Maracanã), de Ajuruteua (Bragança), do Murubira (Mosqueiro/Belém), de Marudá (Marapanim), do Pesqueiro (Soure) e de Colares (Colares). “Foi realizado um levantamento junto ao Corpo de Bombeiros e Salva-Vidas do Pará, sobre o número e os tipos de ocorrências e acidentes registrados por esses profissionais nas praias analisadas”, relata a pesquisadora.

Em seguida, esses dados foram agregados à Análise DPSIR da Organization for Economic Co-operation and Development, e, com base nos indicadores ambientais e socioeconômicos, foram identificados os problemas centrais, naturais e antrópicos de cada praia. “Avaliamos as pressões exercidas sobre o ambiente, o estado atual de cada localidade, e, ao final, sugerimos respostas para cada um dos problemas indicados”, explica Ana Beatriz Brito Dias.

A coleta de dados ocorreu por 25 horas, em cada uma das praias. Foram observadas noções hidrodinâmicas (altura de marés, altura de ondas, direção e velocidade das correntes de marés) e morfodinâmicas, por meio das quais foram identificados canais de marés e afloramentos rochosos, além da observação direta com registros fotográficos dos principais fatores que geram riscos aos veranistas.

“As condições hidrodinâmicas foram as mais destacadas na análise como fatores de risco para os frequentadores nas praias marinhas (Ajuruteua, Atalaia e Princesa), assim como os riscos de fontes antrópicas (causadas por pessoas) foram mais evidentes nas praias estuarinas devido ao processo de urbanização, com a presença de calçadões e/ou orlas (Murubira, Marudá e Colares)”, informa a pesquisadora.

De acordo com a bióloga, Pesqueiro é um caso especial, porque está dentro da reserva extrativista de Soure e é muito bem controlada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As construções de casas e bares são regulamentadas e precisam de autorização, tornando o ambiente altamente preservado.

Perigo: maré alta, animais marinhos e lixo

Nas praias Atalaia, Ajuruteua e Princesa, os principais perigos naturais identificados foram: elevação das marés, ondas, correntes marítimas, afloramentos rochosos, formação de canais e assimetria das marés. Entre os perigos antrópicos, destaca-se a presença de veículos na faixa intermarés, a falta de saneamento básico e o acúmulo de resíduos sólidos como os maiores perigos para os usuários do espaço.

“Além disso, em Ajuruteua, há construções irregulares à beira-mar que aceleram os processos erosivos, o despejamento de materiais da construção civil na praia (madeira, ferro e concreto), e propriedades com obras de contenção sem manutenção”, pontua Ana Beatriz Brito Dias.

Murubira, Marudá e Colares apresentam como riscos naturais os afloramentos rochosos e a formação de canais, com destaque para a alta declividade na faixa de areia da praia Murubira, em Mosqueiro. Nesses locais, os principais perigos antrópicos são o despejo de esgoto e resíduos sólidos sem tratamento, diretamente nas praias.

Animais marinhos – Marés e ondas não representam risco de afogamento em Pesqueiro, no Marajó. “O maior risco natural está relacionado aos acidentes com animais marinhos, principalmente arraias. Anualmente, tanto em Pesqueiro quanto em Colares, o número de acidentes com esses animais é alto, mostraram os dados cedidos pelos salva-vidas”, revela a pesquisadora.

De acordo com Ana Beatriz, a falta de um sistema mais eficiente de segurança praial e a falta de percepção dos visitantes sobre os riscos que as praias oferecem aumentam as chances de acidentes e afogamentos. “Não existem sinalizações sobre as condições de banho ou sinalizações de áreas de riscos. O monitoramento efetivo por salva-vidas ocorre mais intensamente durante as férias escolares e em feriados prolongados. Na maioria dos casos, o número de salva-vidas nas praias é pequeno, comparado à extensão desses ambientes e ao número de visitantes na alta temporada”, alerta.

De acordo com a pesquisadora, os problemas naturais (condições oceanográficas, altura de marés e ondas, mudanças no perfil praial, afloramentos rochosos e aparecimento de animais aquáticos) devem ser monitorados pelas autoridades competentes, pelo Corpo de Bombeiros/Salva-vidas e pelo grupo de Gerenciamento Costeiro Paraense.

Em Mosqueiro, o lixo é responsável por 16% dos acidentes nas praias. Assim, a limpeza efetiva é a principal recomendação. “Melhorias na infraestrutura física e a construção de redes de esgoto, assim como o monitoramento mensal da qualidade da água, são soluções sugeridas para os problemas de contaminação direta da água balnear”, sugere. Por fim, o estudo propõe a criação de um plano estadual de segurança praial, com informações sobre as condições climáticas, de banho e, principalmente, sobre potenciais riscos de acidentes.

A ferramenta seria útil e de fácil acesso aos gestores praiais e aos veranistas. “O Pará tem mais de 550 quilômetros de linha de costa. São praias ricas em paisagens e culturas, que devem ser gerenciadas de forma consciente, destacando a preservação dos ambientes e servindo aos interesses turísticos e econômicos”, conclui a autora do estudo.

Beira do Rio edição 161

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