Opinião

Por Manuela do Corral Vieira  e  Vitória Melo Galvão Fotos Acervo Pessoal 

O artigo produzido pela estudante de Comunicação da UFPA Vitória Galvão, em conjunto com a professora Manuela Corral, com o título Celular, Pandemia e Conexões à luz da Comunicação e da Cultura Material, trata sobre a grande virtualização das relações no contexto da pandemia de Covid-19. Produzido com o suporte de um questionário veiculado entre jovens da Região Metropolitana de Belém, por meio da Plataforma Google Forms, com o intuito de melhor compreender os hábitos e o cotidiano dos interlocutores, as autoras notaram o celular como o principal objeto utilizado tanto para manter laços como para se manter informado e cumprir com suas obrigações da ordem do diário.

Com ênfase nas áreas de Comunicação, Consumo, Cultura Material e Sociabilidades, o estudo analisa de qual forma “os usos de objetos, como o caso do celular, se complexificam e ganham importância de sociabilidade advinda das funções técnicas capazes de ‘diminuir’ a realidade espaço-tempo, constituindo-se em um objeto capaz de aproximar pessoas em meio à necessidade de buscar alternativas”. Dessa maneira, o celular é observado como protagonista dentro do contexto do isolamento social, já que, por intermédio dele, os interlocutores relatam conseguir “amenizar” suas dores e aproximar-se, mesmo de forma virtual, de quem faz falta.

A primeira parte do estudo foca na relação “Comunicação e Pandemia”, partindo de conceitos sobre comunicação e discutindo os impactos por que essa área está passando durante o período pandêmico, observando principalmente como o cenário atual demonstra diariamente a necessidade da comunicação no dia a dia, no jornalismo ou na comunicação entre o eu e o outro. Além disso, aspectos como o escancaramento da necessidade de inclusão digital, principalmente da Região Norte, foram observados, tendo em vista que dados do IBGE de 2018, publicados em 2020, apontam a região amazônica como a de menor índice de inclusão digital do país, sendo 13,8%  habitantes alienados desse direito.

O estudo também analisa a comunicação e o seu papel na sociedade, no contexto da pandemia. As fake news são tratadas, no estudo em questão, com foco na medicação Hidroxicloroquina. As emoções e o consumo de determinados conteúdos são observados, ressaltando-se o crescimento do número de procuras sobre saúde mental em sites da internet relacionados à pandemia. Foi observado, por meio da apuração bibliográfica e do recolhimento de dados do formulário, que os indivíduos se sentem desanimados e, muitas vezes, desesperançosos, inserindo um alerta sobre as implicações causadas durante e pós-pandemia. O celular, nesse contexto, também é visto como um facilitador na tentativa de melhorar a sensação do isolamento, sendo utilizado como uma “janela” para o exterior, porém não suficiente.

Finalizando o trabalho, as autoras ressaltam os problemas enfrentados no país, para além da pandemia, agravados por um conjunto de fatores que resultou em uma convulsão social sem precedentes. Além disso, destaca-se a importância de compreender os objetos como agentes de grande impacto na vida dos indivíduos, capazes de nos afetar assim como nós os afetamos, sendo assim, compostos de materialidades e imaterialidades no âmbito das relações do tecido social.

Publicado originalmente na Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación (ALAIC). Para ler a versão expandida, acesse: http://revista.pubalaic.org/index.php/alaic/article/view/1727

Manuela do Corral Vieira – doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA/UFPA) e professora na Faculdade de Comunicação (Facom) e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom/UFPA). Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação, Consumo e Identidade – Consia (CNPq/UFPA). E-mail: mcorral@ufpa.com

Vitória Melo Galvão – graduanda em Comunicação Social – Jornalismo (Facom/UFPA), bolsista de Iniciação Científica e integrante do Grupo de pesquisa “Comunicação, Consumo e identidade” (Consia-CNPq/UFPA). E-mail: vitória.galvao@ilc.ufpa.br

Beira do Rio edição 158