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Opinião: Etnodesenvolvimento e impactos transformativos

Publicado: Segunda, 09 de Abril de 2018, 14h32 | Última atualização em Quarta, 02 de Maio de 2018, 17h12 | Acessos: 2144

 

Por Francilene de Aguiar Parente Foto Acervo pessoal

Nos meses de julho e setembro de 2017, o curso de Licenciatura e Bacharelado em Etnodesenvolvimento foi duplamente avaliado, obtendo nota 4, e reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Para o momento, reflito os significados dessa fase para nós que fazemos educação diferenciada em condições nem tão diferentes, ou seja, os desafios e os impactos do ensino universitário que objetiva a inclusão de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

O curso de Etnodesenvolvimento é uma das ações de políticas afirmativas da Universidade Federal do Pará (UFPA). Criado em 2009, em resposta à demanda por ensino superior público, de qualidade e diferenciado, atende ao pleito de sujeitos coletivos de direito para a gestão e a autonomia de seus territórios.

O curso nasce e mantém-se no diálogo com os povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais e seus movimentos organizados, fazendo jus ao princípio da interculturalidade, e organiza-se pedagógica e metodologicamente pela alternância educacional, sendo realizado em janeiro e fevereiro, julho e agosto, no tempo universidade (TU), em que a UFPA tem a oportunidade de compartilhar conhecimentos com os discentes indígenas, quilombolas e tradicionais. Nos demais meses, no tempo comunidade (TC), há a possibilidade de os docentes vivenciarem e dialogarem diretamente com os povos e as comunidades em seus lugares de vida.

A relação entre a interculturalidade e a pedagogia da alternância, somada à atuação de profissionais comprometidos científica e politicamente, proporciona a revisão constante do conhecimento científico, uma das premissas básicas da ciência, mas, acima de tudo, uma mudança epistemológica em relação aos saberes ancestrais de povos e comunidades que produzem conhecimento e têm demandado a dialogicidade na Universidade.

Importante mencionar que, nesse processo de TU e TC, a universidade se faz presente nas comunidades em outro papel. Como dizem por lá: “é a primeira vez que a gente tem um(a) professor(a) da universidade que não vem fazer pesquisa ou trazer alunos para estagiar” ou “é a primeira vez que a gente tem alguém da universidade aqui”. E o “aqui” é em muitos lugares ao mesmo tempo.

Vejamos: estamos realizando a formação da quarta turma do curso, sendo três no Campus de Altamira e uma flexibilizada no Campus de Soure, com entrada pelo Processo Seletivo Especial (PSE) de 45 sujeitos em cada turma. São indígenas que vivem em área urbana e aldeias, quilombolas, agricultoras/es familiares, pescadoras/es tradicionais, mulheres do movimento negro, ribeirinhas/os e extrativistas, da região do Xingu, da Transamazônica, do Tapajós, dos campos e das florestas do Marajó, da região tocantina e do nordeste paraense, abrangendo diretamente mais de 45 comunidades, distribuídas por quase todo o Estado do Pará. Territórios múltiplos e diversos que a UFPA “alcança” por meio dos sujeitos coletivos que acessaram o ensino superior no curso de Etnodesenvolvimento.

Hoje, passados oito anos de funcionamento do curso, com a primeira turma formada e a segunda aguardando a formatura, podemos identificar alguns de seus impactos. As comunidades fortaleceram suas organizações e as lutas de seus grupos de pertença; estão atuando na docência e gestão das escolas indígenas, quilombolas e do campo, assim como na gestão de órgãos governamentais e não governamentais de educação escolar indígena, educação do campo e de defesa dos direitos humanos; criaram disciplinas específicas nos currículos da Educação Básica de seus municípios, como a de Educação Quilombola, em Salvaterra/PA; acessaram programas de pós-graduação, além da inserção da área do curso em concursos públicos.

Por sua vez, a entrada e a permanência de sujeitos étnica e culturalmente diferenciados têm provocado transformações na UFPA, como a diversificação do PSE, para atender às diversas políticas e aos seus públicos; a revisão dos universalismos burocráticos instituídos e a construção da diferença em suas políticas de ensino, pesquisa e extensão, entre outras.

Em tempos de crise política e perseguição aos direitos humanos, o reconhecimento de um curso voltado para a diversidade é uma grande vitória. Mas a luta continua, sempre!

Francilene de Aguiar Parente - Professora do curso de Etnodesenvolvimento da UFPA e coordenadora nos períodos de 2009-2011 e 2015-2017, integrante do Grupo de Pesquisa Cidade, Aldeia e Patrimônio e vice-coordenadora do Grupo de Estudos Afro-Brasileiro e Indígena (GEABI)/UFPA. faparente@ufpa.br

Ed.142 - Abril e Maio de 2018

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