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Marajó tem acesso restrito aos serviços de saúde

Publicado: Segunda, 09 de Julho de 2018, 13h16 | Última atualização em Segunda, 30 de Julho de 2018, 12h43 | Acessos: 2543

Estudo analisa propagação de doenças em quatro cidades do arquipélago

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Por Armando Ribeiro Foto Carlos Sodré / Agência Pará 

Localizado no extremo norte do Pará, o Arquipélago do Marajó é conhecido pelas suas belezas naturais. Por estar distante da capital, Belém, a região sofre com diversas carências sociais, entre elas o difícil acesso aos programas de saúde. Pensando nessas vulnerabilidades, a enfermeira Glenda Roberta Oliveira Naiff Ferreira realizou sua tese Epidemiologia dos vírus da hepatite B, vírus da hepatite C, Treponema Pallidum e Chlamydia Trachomatis no Arquipélago do Marajó, Pará. O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBAIP/ICB), orientado pelo professor Ricardo Ishak.

A pesquisa fez parte do Projeto Marcadores Epidemiológicos em Saúde no Arquipélago de Marajó e teve como objetivo descrever os diferentes fatores que estão associados à propagação dos agentes infecciosos e parasitários Chlamydia Trachomatis e Treponema Pallidum, além dos vírus das hepatites B e C nas cidades de São Sebastião da Boa Vista, Portel, Anajás e Chaves, municípios do Marajó.

A bactéria Treponema Pallidum é o agente causador da sífilis, sendo transmitida por via sexual, sanguínea e congênita (de mãe para filho). Cerca de 21 dias após o contato com a infecção, aparece o chamado “cancro duro”, uma úlcera indolor na região em que a bactéria penetrou (geralmente nas áreas genitais), caracterizando a sífilis primária. A pesquisadora alerta para a importância do uso de preservativos e do pré-natal em mulheres grávidas como os principais métodos de prevenção e controle da infecção.

Já a Chlamydia Trachomatis é transmitida predominantemente por via sexual, sendo responsável por infecções genitais e oculares associadas a diversos subtipos de clamídia. Glenda Ferreira informa que, entre os sintomas, o principal é o corrimento vaginal ou peniano, mas, por serem isolados e pouco aparentes, existe uma grande dificuldade no diagnóstico precoce. Nas mulheres, o perigo se intensifica à medida que a infecção vai evoluindo, podendo atravessar o colo uterino e atingir a tuba uterina, causando infertilidade e abortos. Por não possuir vacina, a enfermeira afirma que a melhor forma de prevenção é o uso de preservativos.

A transmissão do vírus da hepatite B pode ocorrer por via congênita, sexual, líquidos corpóreos (sangue e secreções genitais) e por compartilhamento de materiais cortantes (seringa, estilete, alicate, barbeador). A vacina contra o vírus está disponível gratuitamente nos postos de saúde. A professora relata que os sintomas das hepatites B e C são similares, “podemos destacar a náusea, o mal-estar, o cansaço, a urina escura, as fezes claras e a icterícia (cor amarelada na pele). A principal diferença entre os dois tipos de hepatite está na via de transmissão, que, no caso da C, o contato sexual não está bem estabelecido, ocorrendo principalmente pelo sangue contaminado”.

Resultados mostram baixo acesso a programas de saúde

A pesquisa foi realizada em parceria com as prefeituras dos municípios, ocorrendo intensa divulgação da ação entre as comunidades. No total, 1.208 pessoas acima dos 18 anos participaram da coleta de sangue. “Nós, geralmente, ficávamos em alguma escola ou unidade de saúde fazendo os exames e orientando a população. Depois de coletado, processávamos o sangue e congelávamos o soro para ser analisado no laboratório da UFPA”, informa Glenda Naiff Ferreira.

Um dos focos do estudo foi a participação de pessoas variadas, não apenas aquelas que estavam doentes. Esse método, explica Glenda Ferreira, foi fundamental, pois possibilitou o reconhecimento dos assintomáticos, aqueles infectados pelo vírus ou pela bactéria, mas não exibem os sintomas. “Esses sujeitos são os maiores responsáveis pela transmissão das infecções. O diagnóstico favorece o tratamento e interrompe a cadeia de contaminação”, avalia Glenda.

Por ser um estudo de prevalência, não de assistência, o contato com a população era encerrado na coleta. Os resultados foram apresentados à Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), para que a pessoa contaminada tivesse o acompanhamento adequado. “Algumas dessas doenças não possuem uma divulgação ampla, e esses diagnósticos são pouco disponíveis para essas comunidades mais afastadas”, relatou.

Políticas de saúde – A professora aponta para um resultado importante, que constata esse baixo acesso dos sujeitos às políticas de saúde. “Apenas 19% das pessoas tinham resposta imunológica para a vacina da hepatite B, ou seja, a maioria da população não possui imunidade vacinal para esse vírus. Temos uma vacina gratuita, mas, para a população do Marajó, o acesso ainda é complicado”, afirma.

A infecção de maior prevalência foi a Chlamydia Trachomatis. Isso decorre em razão do seu diagnóstico, muitas vezes, passar despercebido, pois a maioria dos infectados pode não apresentar sintomas. Outro dado gerado está relacionado ao Treponema Pallidum, presente, em maior número, em pessoas idosas e viúvas. De acordo com a pesquisadora, “a população mais jovem foi criada ouvindo falar do preservativo. Os mais velhos não possuem o hábito de usar a camisinha em suas relações”. 

Glenda Ferreira ressalta a importância do incentivo a medidas de prevenção e controle trabalhadas em duas frentes: a primeira seria a promoção da saúde à população, fazendo campanhas educativas que orientem hábitos e promovam trabalhos sobre o comportamento sexual. A segunda consistiria na identificação dos assintomáticos, já que, iniciando o tratamento nesses indivíduos, a cadeia de transmissão se interrompe. Também existe a necessidade de conhecer, mais a fundo, a realidade do Estado para que as medidas de combate a essas infecções sejam baseadas na realidade do local, conclui a enfermeira.

Ed.143 - Junho e Julho de 2018

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Epidemiologia dos vírus da hepatite B, vírus da hepatite C, Treponema Pallidum e Chlamydia Trachomatis no Arquipélago do Marajó, Pará

Autora: Glenda Roberta Oliveira Naiff

Orientador: Ricardo Ishak

Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBAIP/ICB)

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