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Opinião

Publicado: Quinta, 16 de Agosto de 2018, 13h23 | Última atualização em Quinta, 16 de Agosto de 2018, 16h24 | Acessos: 3294

Racismo & Enfrentamento

Por Jane Felipe Beltrão Fotos Nayana Batista / Alexandre de Moraes

O racismo é massacrante. Ouvir que ofensas e humilhações correspondem a brincadeiras ou piadas causa aos/às ofendidos/as profunda indignação, revolta a cidadã ou o cidadão que respeita a diversidade social e se pauta por atitudes plurais.

É preciso se interrogar quem responde pela humilhação que os/as discriminados/as sofrem? Quem se dá conta da ofensa sofrida, da discriminação étnico-racial que afasta e tenta condenar as pessoas diversas que conquistaram, galhardamente, espaços que, antes, lhes eram vedados, como a UFPA? Pessoa alguma, por motivo nenhum, merece ser aviltada em sua identidade, em sua pertença étnica e, sobretudo, em seus direitos – como humanos e cidadãs/cidadãos que são de fato e de direito – sem deixar de ser quem são, como diz Marcos Terena, quando se refere a indígenas.

O que é racismo? Há muitas definições, mas, para compreender as atitudes classificadas como racistas, é necessário pensar em relações de poder que oprimem, fundamentadas em diferenças, as quais, tomadas como desigualdades, alimentam o preconceito e a discriminação, como se existissem humanos superiores e inferiores. Diferenças relativas à cor da pele, à aparência física não nos tornam inferiores ou superiores.

Revire pelo avesso seu pensamento, assim como um exercício. Estamos trabalhando, alguém adentra a sala e, sem motivo, começa a detratar a pessoa que nos recepciona, dizendo: “Que anta!” Momento seguinte, as pessoas ficam paralisadas, confusas. Umas reagem, outras não, algumas saem de fininho. O conflito está instaurado!

A atitude é não apenas desrespeitosa, mas também é racista, especialmente se a pessoa ofendida é negra ou indígena. É evidente que os/as trabalhadores/as merecem respeito, como qualquer cidadão/cidadã. Embora a anta seja considerada um dos animais “mais inteligentes” da floresta, por sua habilidade, em bom português, chamar alguém de anta é sinônimo de estupidez, falta de inteligência. Portanto a atitude levando em conta a ofensa seria racista, pois inferioriza o/a ofendido/a e é politicamente inaceitável.

No Brasil, chamar alguém de anta, marmota, macaco, rato, vaca, entre tantos outros, ou compará-lo/a a um animal – macho ou fêmea, possui alto poder ofensivo. Na verdade, são gírias, ou seja, linguagem informal que contém expressões metafóricas, supostamente jocosas, usadas para se referir às pessoas. Entretanto, ao comparar pessoas com animais, se retira a condição de humano que existe em nós. E, ao se atribuir características de não humanos a pessoas humanas, comete-se grave ofensa e, dependendo do animal, a situação ganha maior proporção.

É preciso lembrar que o racismo devastou povos inteiros, disseminou o genocídio contra povos indígenas no chamado Novo Mundo; promoveu a diáspora de africanos/as, deslocando-os para outros continentes como escravos, e o holocausto dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Muitas outras situações podem ser computadas ao racismo, e as atitudes racistas não significam apenas retirar os sujeitos/as de direitos de seus lugares originais e espancá-los/as, retirando-lhes a vida. Há outras formas de opressão, e uma delas é a linguagem opressora, que remete ao passado e contém ódio que envenena e mata socialmente cada cidadão/ã ofendido/a.

A presença de africanos/as, indígenas e quilombolas entre outros grupos diferenciados étnica e racialmente, na Universidade Federal do Pará, é uma conquista que esparrama raízes na justiça social, como tentativa de reparar a exclusão secular que o colonialismo nos deixou como herança, a qual podemos classificar de maldita.
Ser, viver ou estar da/na Amazônia que sofre com o colonialismo interno e ser racista é desafiar a possibilidade de crescer, socialmente, dentro de padrões justos, democráticos e plurais. Não precisamos imitar norte-americanos ou europeus que rejeitam os/as refugiados/as, prendendo-os/as ou evitando que aportem em suas terras. Praticar a justiça e a pluralidade é a ordem do dia para respeitar a diversidade e alcançar a democracia. Diga não ao racismo.

Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente dos programas PPGA/IFCH e PPGD/ICJ. 

Ed.144 - Agosto e Setembro de 2018

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