Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > 2018 > 144 - agosto e setembro > Exclusivo Online > Poços em Belém e no Marajó estão contaminados
Início do conteúdo da página

Poços em Belém e no Marajó estão contaminados

Publicado: Sexta, 17 de Agosto de 2018, 13h19 | Última atualização em Sexta, 17 de Agosto de 2018, 13h22 | Acessos: 4141

Obras inadequadas e de pouca profundidade comprometem a qualidade da água

Por Amanda Nogueira

O Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos (IG/UFPA) funciona desde 2015 e, entre as dissertações defendidas até o momento, a qualidade da água que está sendo consumida no Pará tem sido um tema recorrente. As pesquisas abordam tanto a Região Metropolitana de Belém (Marituba, Ilha de Cotijuba, Tapanã e Icoaraci) quanto o município de Salvaterra, no Marajó.

O resultado alcançado pelos pesquisadores é preocupante: enquanto a população acredita estar bebendo água de poços artesianos, as pesquisas verificaram que, em todas as áreas, os poços, na verdade, são poços freáticos. A diferença está na profundidade da perfuração dos aquíferos, que são reservatórios de água subterrâneos. A perfuração dos poços costuma ser interrompida assim que a água é encontrada, sendo que essa água é do primeiro aquífero, ou seja, esse poço é freático. Poços artesianos são os que retiram água dos aquíferos confinados.

De acordo com o professor Milton Matta, nos níveis abaixo do solo, é possível encontrar argila impermeável. Os aquíferos que se encontram embaixo dessa argila estão confinados, impedindo a contaminação da água. “O poço artesiano vai retirar água desse local protegido, já o poço freático é aquele que retira água da primeira camada, sem proteção”, explica.

Na Região Metropolitana de Belém, todo o aquífero superior está contaminado. “O que acontece nessas regiões é que as pessoas estão fazendo os poços no aquífero mais próximo da superfície, porque é mais barato. Ocorre que a água superficial está contaminada e contamina o aquífero”, afirma.

Nos poços pesquisados, pH da água está acima do permitido

Ao analisar o pH da água, que mede a sua acidez, os estudos concluíram que os valores estão em torno de 4. A legislação afirma que, para considerar uma água potável, o pH precisa estar entre 6 e 9,5, ou seja, a água desses poços está fora dos padrões de qualidade. O pH afeta a saúde das pessoas de diversas formas, causando doenças, como gastrite, úlcera e câncer estomacal. “O Pará é o segundo Estado da Federação que mais possui casos de câncer gástrico, o que pode estar relacionado à acidez da água”, informa Milton Matta.

Outro problema encontrado durante as pesquisas foi a quantidade de nitrato na água. O nitrato é um parâmetro que está relacionado a dejetos humanos. “Muitos desses poços estão perto de fossas, contaminando a água com fezes e todo tipo de poluente proveniente da ocupação urbana desorganizada. Essas regiões não possuem saneamento básico”, afirma o professor.

De acordo com a legislação brasileira, só podem existir até 10 miligramas de nitrato por cada litro de água, e os estudos mostraram que o nitrato presente na água desses poços está acima do recomendado. “Um dos grandes problemas causados por isso é a síndrome de bebê azul, a criança fica totalmente azul em função do teor de nitrato. A mãe bebe a água contaminada, e o bebê nasce assim”, revela Milton.

Segundo o professor, apesar dos estudos terem sido feitos em Marituba, Cotijuba, Tapanã e Icoaraci, essa é a situação geral da capital paraense. “Na Região Metropolitana de Belém, existem cerca de 800 mil poços de autoabastecimento prejudicando em torno de 450 mil pessoas”, alerta.

A análise bacteriológica foi feita com as amostras de Salvaterra e Icoaraci. A análise mostrou uma grande quantidade de bactérias totais e bactérias fecais, tornando os poços fontes de doenças de veiculação hídrica. “É necessário que isso seja divulgado para que a população saiba o que está acontecendo e o risco que ela está correndo”, afirma o pesquisador.

As análises da água de Marituba, Icoaraci e Tapanã foram realizadas pelo Instituto Evandro Chagas. A análise dos poços da Ilha de Cotijuba foi feita no Laboratório de Hidroquímica da UFPA. Os poços de Salvaterra, no Marajó, foram analisados em um laboratório local. “Esses pesquisadores foram para o campo, estudaram a situação socioeconômica dos locais, coletaram a água dos poços, enviaram para o laboratório, receberam e interpretaram os resultados”, informa Milton Matta. As análises foram feitas nos períodos de seca e de chuva para identificar possíveis variações.

Obra deve ser supervisionada por um geólogo

A construção de um poço é uma obra de engenharia hidrogeológica, e os geólogos são os únicos que possuem a competência profissional para construí-los. Apenas esse profissional está autorizado para assinar o projeto e acompanhar a construção. “Nós brincamos dizendo que as pessoas chamam o ‘Zé do Poço’, trabalhador que tem uma perfuratriz, que para de perfurar assim que encontra água, geralmente, do aquífero que está contaminado”, conta o professor Milton Matta.

A solução é fazer poços verdadeiramente artesianos e mais profundos. A pesquisadora Ádria Almeida, responsável pela análise de Marituba, elaborou uma proposta de abastecimento de água. Levando em consideração o perfil e a demanda de água da população pelos próximos 20 anos, ela concluiu que seriam necessários cinco poços de 200 metros cada um, que resultariam no valor de R$5 milhões. Dividindo esse valor pela população atual da área estudada, o resultado é R$41,00 per capita.

O Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (LARHIMA/UFPA) fez propostas de abastecimento para locais como Barcarena, Abaetetuba, bacia do Tucunduba, bacia do Paracuri e diversas regiões. “Estamos mostrando o que tem que ser feito e qual é a solução que precisa ser dada. Se o poder público quiser aproveitar, todas as informações estão disponíveis”, garante o professor.

Ed.144 - Agosto e Setembro de 2018

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

Fim do conteúdo da página