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Transtorno depressivo e doenças cardiovasculares  

Publicado: Quinta, 23 de Agosto de 2018, 14h47 | Última atualização em Sexta, 31 de Agosto de 2018, 18h30 | Acessos: 2408

Pesquisa alerta para fatores de risco associados

Por Renan Monteiro Foto Wesley S. / Free Images

A irritabilidade, um profundo sentimento de tristeza e vazio, a perda de interesse por assuntos do cotidiano são algumas características que indicam um indivíduo com Transtorno Depressivo (TD). Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 5,8% da população brasileira, cerca de 11,5 milhões de pessoas, seja afetada pela depressão, tornando o Brasil o país com o maior índice da América Latina.

No ambiente acadêmico/científico do Pará, estão sendo feitas pesquisas sobre o TD com diversas abordagens, uma dessas pesquisas é a da biomédica Shirley Barbosa da Fonseca. Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Análises Clínicas (ICB/UFPA), a dissertação Proposta de protocolo de aplicação do serviço de avaliação do risco cardiovascular em pacientes com transtorno depressivo foi orientada pelo professor José Ricardo dos Santos Vieira. O trabalho é um desdobramento das atividades do Projeto Perfil biológico e de estilo de vida no transtorno depressivo maior e sua influência no desfecho do tratamento antidepressivo.

O TD, segundo Shirley Barbosa, vem sendo relacionado às doenças cardiovasculares (DCV) com frequência, principalmente em indivíduos idosos. Na pesquisa, foi desenvolvido um protocolo para avaliação do risco cardiovascular em pacientes diagnosticados com Transtorno Depressivo Maior (TDM) pelo serviço psiquiátrico da Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV). Pensamentos recorrentes de morte e/ou ideação suicida, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva, fadiga ou perda de energia e distúrbio do sono e/ou do apetite são algumas características do TDM.

Durante a pesquisa, foi realizada a triagem da presença de Transtorno Depressivo em geral e do risco cardiovascular em idosos moradores da Vila da Barca e atendidos pelo Projeto de Movimentação Urbana da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (ITEC/UFPA).

Pacientes captados em Belém e na Vila da Barca

Os indivíduos provenientes da FHCGV foram encaminhados para o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) para acompanhamento nutricional e obtenção de dados antropométricos (peso, altura e circunferência abdominal), medida da pressão arterial e coleta de sangue para a realização de dosagens bioquímicas (glicose, colesterol e triglicerídeos). Essas dosagens bioquímicas foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas (ICB-UFPA).

“A quantificação de compostos bioquímicos do organismo humano foi realizada com a finalidade de determinar o perfil bioquímico metabólico dos pacientes para a verificação do risco cardiovascular. Determinar um perfil bioquímico significa ter acesso a múltiplas determinações bioquímicas simultâneas para avaliar a função de um ou mais sistemas do organismo”, explica Shirley Fonseca.

Os indivíduos idosos oriundos da Vila da Barca tiveram os mesmos dados coletados no Centro Comunitário daquela localidade. Já para a avaliação do TD, os pacientes foram submetidos à aplicação da Escala de Depressão Geriátrica (GSD). Os idosos viviam em áreas alagadas e foram remanejados para a região da Vila da Barca. Foi possível observar os indícios de depressão em decorrência da mudança súbita no estilo de vida.

Da FHCGV, foram selecionados oito pacientes do sexo feminino, entre 25 e 49 anos. Foram selecionados na área da Vila da Barca 19 idosos com mais de 60 anos e com suspeita para TD, dois homens e 17 mulheres.

“No Hospital de Clínicas, a demanda espontânea não especificou o Transtorno Depressivo Maior, e os voluntários tinham outros transtornos mentais. Na Vila da Barca, não tivemos acesso ao banco de dados da Prefeitura local”, explica a professora ao justificar o baixo número de participantes.

A importância do diagnóstico da Síndrome Metabólica

Para um indivíduo ser diagnosticado com doença cardiovascular (DCV), há, anteriormente, o diagnóstico da Síndrome Metabólica (SM).  A pesquisadora explica: “se o indivíduo apresenta, no mínimo, três fatores metabólicos e, em cinco anos, eles não mudarem (sem tratamento primário), isso eleva o risco de doenças cardiovasculares de acordo com consensos e diretrizes de cardiologia internacional”.  Alguns desses fatores metabólicos são glicemia, triglicerídeos, pressão arterial (PA) e circunferência abdominal (CA).

Dos 19 idosos da Vila da Barca atendidos pelo projeto, foi observado que 38,9% apresentaram TD e 44,4% apresentaram risco de DCV por meio do diagnóstico da Síndrome Metabólica. A ocorrência conjunta de TD e SM manifestou-se em 22,4% dos idosos avaliados.

Para os oito indivíduos da FHCGV diagnosticados com TDM, nenhum apresentava Síndrome Metabólica. “Eles tinham alguns fatores que indicavam que tinham SM, mas ainda não tinham sido diagnosticados. Provavelmente, poderiam adquirir a doença cardiovascular mais tarde se continuassem com esse estilo de vida”, ressalta Shirley Fonseca. Apesar do baixo número amostral, o percentual de idosos com risco para Transtorno Depressivo e Síndrome Metabólica mostra-se acima da média nacional para adultos, de 14%.

Para o doutorado, Shirley pretende elaborar uma pesquisa que sirva como referência para o tratamento da depressão e da Síndrome Metabólica na Região Norte. “A continuidade desse serviço poderá gerar sua expansão para o atendimento de grupos específicos: pessoas com as complicações relativas à TD e à SM e com HIV, diabéticas, crianças, grávidas etc. Há a necessidade de se implantar um programa que viabilize a busca ativa para a identificação desses casos, melhorando a eficácia da captação de indivíduos e favorecendo a melhoria de um número amostral adequado para análises epidemiológicas”, explica.

No final do mestrado, foram elaborados formulários para o feedback dos pacientes, diagnosticando ou não o Transtorno Depressivo aliado a Síndrome Metabólica  e, em caso de resultado positivo, encaminhando o tratamento primário com foco na terapia nutricional, na atividade física e na mudança do estilo de vida.

Ed.144 - Agosto e Setembro de 2018

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