Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > Exclusivo > 2019 > 152 - dezembro e janeiro > Exclusivo Online > De Belém a Outeiro, faltam informações sobre HIV/AIDS
Início do conteúdo da página

De Belém a Outeiro, faltam informações sobre HIV/AIDS

Publicado: Sexta, 06 de Dezembro de 2019, 18h07 | Última atualização em Sexta, 06 de Dezembro de 2019, 18h23 | Acessos: 1921

Campanhas de prevenção não alcançam população jovem em Belém

imagem sem descrição.

 Por Flávia Rocha Foto Alexandre de Moraes

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Atualmente, a AIDS é considerada uma questão de saúde pública e diversas campanhas buscam conscientizar a sociedade a respeito dos riscos da doença. No Brasil, as dificuldades vão desde o poder de convencimento das campanhas até as dimensões continentais do país. Quando as ações promovidas pelo Governo não têm o alcance esperado, abre-se espaço para que velhas concepções sobre a doença permaneçam como verdade entre a população.

A adolescência é um período de profundas mudanças, marcado por transições entre a puberdade e a vida adulta. Tal fase gera inquietação, ansiedade e a busca pelo exercício da sexualidade. Muitos jovens iniciam a vida sexual prematuramente e assumem um comportamento de risco ao manter relações sexuais com diversos parceiros sem proteção.

Segundo o Ministério da Saúde, de 1980 a 2013, a Região Norte apresentou um aumento na taxa de detecção de HIV/AIDS, principalmente entre jovens-adolescentes de 15 a 24 anos. O estado do Pará é o décimo entre as unidades federativas brasileiras na taxa de detecção do HIV/AIDS, e o segundo estado com mais mortes por HIV, no país.

A pesquisadora Mariana Souza de Lima buscou recolher dados que ajudassem a reverter esse quadro. A dissertação Conhecer para atuar: propostas para ações mais eficazes na prevenção do HIV/AIDS em adolescentes no município de Belém do Pará teve como objetivo analisar o nível de conhecimento de jovens-adolescentes das oito regiões distritais de Belém, estabelecendo uma relação entre esse nível de informação e o índice de HIV em jovens, nas oito regiões. O estudo foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF/ICS), com orientação do professor Eliã Pinheiro Botelho.

“Coletei dados em Mosqueiro, Outeiro, Icoaraci, Bengui, Sacramenta, Entroncamento, Belém e Guamá sobre os índices de HIV/AIDS disponibilizados pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (SESMA), em pessoas de 15 a 24 anos”, conta a enfermeira. As seguintes informações foram levantadas: categoria de exposição, gênero, orientação sexual, escolaridade, estado civil, renda familiar, se gestante e idade gestacional.

Questionário trouxe questões sobre transmissão e tratamento

Para o segundo momento da pesquisa, foram selecionadas escolas da rede pública (uma por região distrital), preferencialmente,aquelas com maior número de alunos. As turmas de ensino médio, com idade superior a 15 e inferior a 24 anos, responderam a um questionário sobre prevenção/transmissão, epidemiologia e tratamento. Para cada pergunta do questionário, os alunos responderam ‘sim’, caso concordassem com a sentença; ‘não’, se discordassem da sentença; ou ‘não sei’, caso não soubessem sobre o ponto específico.

Mariana Souza afirma que a falta de informação entre os jovens-adolescentes é um fator de risco. “Pode existir uma forma de transmissão que o jovem não conheça, e ele pode estar sujeito a ela em alguma situação”, afirma. Um exemplo da desinformação é muitos jovens acreditarem que é impossível contrair a doença na primeira relação sexual ou que o uso de preservativos é desnecessário em uma relação monogâmica. “Ainda persiste a ideia de que a camisinha ‘atrapalha’ ou que usar o preservativo demonstra falta de confiança no parceiro”, explica Mariana.

“Nós esperávamos encontrar alguns distritos administrativos de Belém com maiores problemas sobre o conhecimento acerca da doença do que outros, mas isso variou muito. Como o questionário era dividido em tópicos, às vezes um distrito sabia mais sobre um aspecto e menos sobre outro. Alternância semelhante aconteceu no nível de conhecimento entre homens e mulheres”, conta Mariana.

Segundo a pesquisadora, os dados coletados na pesquisa direcionam a discussão para o tema de educação sexual nas escolas. “A escola é onde o jovem passa a maior parte do seu tempo. Lá ele cria seus principais elos de amizade e se sente confortável para esclarecer dúvidas sobre diversos assuntos, em especial, sobre sexo. Isso se agrava quando não há abertura para diálogo com os pais”, alerta Mariana Souza.

“Investir na prevenção diminui custos e salva vidas”

A educação sexual pode prevenir problemas, seja infecção sexualmente transmissível (IST) ou seja violência sexual. “Hoje, nós temos uma forma de pensamento curativa. Mas precisamos investir na prevenção, pois isso diminui custos e salva vidas”, afirma a professora Mariana Souza.

O Ministério da Saúde já lançou campanhas de conscientização para diversos grupos sociais, porém essas campanhas têm dificuldade de atingir jovens de determinadas regiões. “Nos distritos mais distantes, como Mosqueiro, Icoaraci e Outeiro, ouvimos muitos relatos sobre a carência de ações relacionadas ao tema, desenvolvidas por profissionais da saúde ou pelas universidades”, revela Mariana Souza.

De acordo com Mariana Souza, enquanto houver um déficit de conhecimento sobre o assunto, haverá dificuldade de se atuar preventivamente. Para a enfermeira, as estratégias de prevenção deveriam ser baseadas nas dúvidas dos jovens.  Além de técnicas de conscientização, também são necessárias mais informações sobre métodos contraceptivos.

“O Ministério da Educação possui um projeto chamado Saúde e Prevenção nas Escolas. Esse projeto aborda as ISTs e outros tópicos de saúde, como os Primeiros Socorros. A ampliação do programa seria interessante, mas também seria importante se nós, como comunidade universitária, estivéssemos presentes nesse contexto escolar”, conclui Mariana Souza.

Ed.152 - Dezembro e Janeiro de 2019 / 2020

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

Fim do conteúdo da página