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Apoptose faz soar sinal de alerta

Publicado: Sexta, 26 de Novembro de 2021, 18h35 | Última atualização em Sexta, 26 de Novembro de 2021, 18h41 | Acessos: 836

Mutação do DNA mitocondrial aumenta chance de câncer gástrico

Ilustração contendo uma cadeia de DNA em um fundo branco.
Ilustração contendo uma cadeia de DNA em um fundo branco.

Por Flávia Rocha Ilustração CMP

O câncer gástrico ainda é um dos tipos da doença com maior incidência na Região Norte. Os hábitos alimentares da população contribuem para o seu aparecimento e a dificuldade de diagnóstico precoce é um motivo a se somar. Uma forma de tentar reverter esse quadro é por meio da investigação do que pode causar o desenvolvimento do câncer gástrico para além dos hábitos alimentares, como as alterações genéticas. Assim, há a possibilidade de descobrir o câncer mais cedo e tratá-lo antes que alcance estágios mais avançados no organismo. Ao se identificar esse tipo de alteração genética, é possível buscar biomarcadores que auxiliem na prática clínica, como monitoramento, diagnóstico e prognóstico da doença.

Na tese Apoptose no adenocarcinoma gástrico: uma análise de variantes nucleares e mitocondriais, Giovanna Chaves Cavalcante investigou a relação entre aspectos genéticos da apoptose e o aparecimento de adenocarcinoma gástrico no organismo. A pesquisa de doutorado foi realizada no Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM/ICB) da UFPA, sob orientação da professora Ândrea Ribeiro dos Santos, pelo Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFPA.

A apoptose é um tipo de morte celular regulada, que pode ter início tanto com estímulos internos quanto com os externos. Esse tipo de morte celular ocorre normalmente e envolve diferentes mecanismos. Assim, a desregulação da apoptose pode gerar complicações ao organismo, algumas das quais associadas ao desenvolvimento de câncer.

Para a apoptose ocorrer, são necessárias diversas proteínas, que são codificadas por diferentes genes nucleares, ou seja, presentes no núcleo das células. Além disso, é necessária a atuação das mitocôndrias, que são organelas citoplasmáticas mais conhecidas pelo fornecimento energético. É importante ressaltar que essas organelas possuem seu próprio material genético, chamado de DNA mitocondrial. Dessa forma, sejam nucleares, sejam mitocondriais, se as proteínas envolvidas no processo estiverem desreguladas, provavelmente aquele processo também estará em desequilíbrio, o que poderia aumentar o risco de desenvolvimento de câncer.

Câncer X gene CASP8: associação em discussão

A tese foi dividida em duas partes principais, de acordo com a abordagem realizada. Na primeira parte, foram investigadas mutações (ou variantes) específicas em alguns genes nucleares envolvidos no processo da apoptose, com o objetivo de saber se essas variantes poderiam estar influenciando no desenvolvimento de câncer gástrico. Foram comparados dois grupos, um com indivíduos com câncer gástrico e outro com pessoas sem câncer.

“Nós observamos que uma das variantes que está presente no gene CASP8, que é importante para a apoptose por fatores externos, apresentou uma diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos estudados, sugerindo que um dos genótipos poderia reduzir as chances de desenvolver câncer gástrico e outro genótipo dessa mesma variante poderia aumentar as chances de se desenvolver a doença. Isso vem sendo bastante discutido. Alguns estudos encontram esse tipo de associação; outros, não, então ainda são necessários mais estudos nesse sentido”, explica Giovanna Chaves Cavalcante.

A segunda parte foi focada no DNA mitocondrial, pois o mau funcionamento das mitocôndrias tem sido descrito como importante no processo de carcinogênese. Dessa forma, foi realizado o sequenciamento do genoma mitocondrial completo de três grupos de indivíduos. O primeiro grupo tinha amostras de tecido de tumor gástrico; o segundo foi chamado de ‘controle interno’ e tinha amostras de tecido sem câncer dos mesmos indivíduos do primeiro grupo e o terceiro seria o de ‘controle externo’, formado por tecido gástrico de indivíduos sem câncer.

“Quando foram comparados o grupo de amostras de tumor gástrico e o grupo de amostras de tecido sem câncer (controle interno), observou-se que as amostras tumorais desses pacientes apresentaram mais variantes mitocondriais e mais regiões heteroplásmicas. O mesmo resultado foi observado na comparação com o grupo ‘controle externo’. No entanto não houve diferença estatística entre os grupos de controle interno e controle externo. Esses resultados reforçam a influência de variantes mitocondriais na carcinogênese gástrica”, revela a pesquisadora.

Protocolo aproxima pesquisa da prática clínica

Além disso, neste trabalho, pela primeira vez, foi possível estabelecer um protocolo que permitiu o sequenciamento do genoma mitocondrial completo de boa qualidade, com material preservado em parafina. Esse processo de preservação afeta a integridade do DNA, dificultando a análise genética desse tipo de amostra.

“Vale ressaltar que todas as amostras utilizadas no estudo eram parafinizadas. Essa técnica é muito utilizada na clínica, especialmente no diagnóstico histopatológico, e permite a estocagem de amostras por maior tempo. Com a obtenção desse material genético de boa qualidade, ocorre uma aproximação da pesquisa básica desenvolvida dentro do laboratório de pesquisa com a prática clínica”, afirma Giovanna Cavalcante.

O Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA, no qual a tese foi desenvolvida, possui como foco o estudo genético de diferentes doenças, como câncer (estômago, mama e cólon/reto), infectoparasitárias (malária, tuberculose e hanseníase), doenças neurológicas (Acidente Vascular Encefálico e Doença de Parkinson) e metabólicas (diabetes tipo 1 e tipo 2). “Também temos estudos genéticos em populações tradicionais e análises de ancestralidade genética”, destaca Giovanna Cavalcante.

Beira do Rio edição 160

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