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De volta ao mundo da ciência

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Quinta, 16 de Agosto de 2018, 13h46 | Última atualização em Quinta, 23 de Agosto de 2018, 18h05 | Acessos: 4211

Mapa Étnico-Histórico de Nimuendajú ganha edição on-line

imagem sem descrição.

Por Walter Pinto Ilustração Walter Pinto

Em 1903, Kurt Unckel, um jovem alemão de 20 anos, nascido na cidade de Jena, na região da Turíngia, era técnico em relojoaria quando decidiu navegar em direção ao Brasil, país que escolheu para viver pelas quatro décadas seguintes. Surpreendentemente, por se tratar de um autodidata, ele desenvolveu em terras brasileiras uma brilhante carreira de pesquisador. Sua preocupação em documentar, cientificamente, a vida dos grupos indígenas, tendo convivido com um grande número de etnias de diferentes regiões e áreas de fronteira, inseriu seu nome entre os maiores da etnologia nacional.

A partir de 1906, ele ficou mais conhecido pelo nome Nimuendajú, que significa “fazer moradia”, que lhe foi dado pelos índios Apapocúva-Guarani, com quem manteve estreita convivência. Três anos depois, ele trocou o sul pela Amazônia, fixando residência em Belém, quando não estava nas aldeias a serviço do Serviço de Proteção ao Índio e, posteriormente, do Museu Paraense Emílio Goeldi. Em 1921, naturalizou-se brasileiro, adotando, oficialmente, o nome Curt Nimuendajú.

Em seus 62 anos de vida, Nimuendajú produziu importantes estudos científicos sobre os índios Guarani, Apinayé, Timbira, Gorotire e Tükuna, entre outros. No entanto seu trabalho de maior repercussão é o Mapa Étnico-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes, produzido na década de 1940, em que relaciona, localiza, historiciza e fornece diversas outras informações sobre as etnias nacionais e de países vizinhos, incluindo as extintas. Produziu três mapas de grandes dimensões, que se encontram nos Estados Unidos, em Belém (no Museu Goeldi) e no Rio de Janeiro (no Museu Nacional).

Problemas de conservação do mapa original, assim como distorções surgidas em cópias impressas posteriormente levaram o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a estabelecer uma parceria com a UFPA, com o objetivo de produzir uma plataforma interativa digital on-line do Mapa de Nimuendajú. A digitalização do mapa é parte do Projeto Plataforma Interativa de Dados Geo-históricos, Bibliográficos e Linguístico-Culturais da Diversidade Linguística no Brasil, realizado pelas duas instituições. Esta nova edição se preocupou em restituir, por exemplo, as cores originais e o sistema de coordenadas criado pelo cientista, além de agregar novas ferramentas disponibilizadas pela Tecnologia da Informação.

Nova edição corrige distorções das anteriores

Além da versão atualizada on-line, as instituições organizaram uma nova edição impressa, corrigindo as distorções verificadas nas edições impressas de 1981, 1987 e 2002. Em setembro passado, em Brasília, foi lançada a nova versão impressa, e disponibilizada, no site do IPHAN, a versão on-line do mapa.

Coube a Jorge Domingues Lopes, doutor em línguas indígenas e professor adjunto da UFPA no Campus Universitário do Tocantins-Cametá, e ao antropólogo Marcos Vinícius Garcia, do IPHAN, a coordenação dos trabalhos iniciados em 2015. “A ideia é fazer o mapa circular no meio acadêmico, estimulando pesquisas sobre as etnias e a história dos povos que ocuparam e ocupam o Brasil”, revela Jorge Domingues. Outro objetivo foi “promover a maior difusão das informações por meio de uma plataforma interativa e digital, que permita ao pesquisador acesso rápido aos dados do mapa”, complementa Jorge.

Os três mapas originais de Curt Nimuendajú são de grande dimensão, medindo, aproximadamente, quatro metros quadrados (2x2), o que torna difícil sua manipulação. A versão impressa em 1981, medindo 1x1 m, apesar de mais acessível, acabou por distorcer algumas informações que precisaram ser corrigidas na versão atual, que procurou recuperar, o mais próximo possível, o sistema original de convenções.

“Nimuendajú reuniu, num mesmo espaço, informações diferentes, tendo o cuidado de distinguir, por meio tipográfico, quais eram os grupos extintos (letras sem serifa) e os existentes (letras com serifa). Sistema análogo foi também empregado para distinguir tribos que abandonaram suas sedes (caixa vazia) das que se mantiveram (caixa cheia)”, explica Jorge Domingues. Outras convenções para diferenciar grupos indígenas fazem uso de cores e formas variadas de linhas.

Os coordenadores da nova edição, diante da disponibilidade dos modernos recursos computacionais, decidiram facilitar o acesso dos pesquisadores, transformando o mapa numa grande base de dados digital, de modo que eles possam filtrar as informações, fazer busca avançada e ter acesso, mais rápido, aos conteúdos. Os avanços não param por aí. Com base em um documento escrito por Nimuendajú, em 1944, no qual diz que “o importante é que os pesquisadores tenham acesso ao mapa, corrijam as imperfeições, ampliem e atualizem constantemente os dados”, a equipe pensa abrir a plataforma para que os pesquisadores e os próprios indígenas possam interagir, inserindo dados e indicando a localização exata dos grupos, entre outras informações, o que vai ao encontro do desejo expresso pelo etnólogo.

Plataforma reúne todas as referências utilizadas

Outro trabalho que está sendo realizado é o levantamento da bibliografia que serviu de base para Curt Nimuendajú reconstruir, principalmente, as referências históricas utilizadas no seu mapa, todas devidamente numeradas. “Ele teve o cuidado de datilografar e encartar, no mapa, um caderno com a lista completa das referências. No primeiro mapa, foram inseridas 800 referências; no segundo, 870, e no último, 973 referências. Deste total, já dispomos de 70% do material digitalizado em PDF. Em breve, este material estará disponibilizado na plataforma digital interativa”, informa Jorge Domingues.

A equipe encarregada de produzir a atual versão do mapa buscou ajustar a distorção entre o sistema próprio de coordenadas criado por Nimuendajú e o utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apôs sobre o mapa original o sistema de coordenadas geográficas utilizado nos mapas da década de 1970. Segundo Domingues, “isto criou certa distorção entre o que tinha sido indicado pelo pesquisador, originalmente, e o que foi publicado pelo IBGE na década de 1980”.

De acordo com o coordenador, Nimuendajú dividiu o mapa numa malha que não é exatamente o de coordenadas geográficas. “Ele dividiu o mapa em quadrantes contendo um sistema próprio de numeração (linhas x colunas), o mesmo do caderno de referências. Se quero localizar no mapa, por exemplo, onde estão os Tembé, só preciso consultar o caderno de referência, identificar a linha e a coluna e cruzar as informações no mapa. Assim, é possível dizer que os Tembé estão neste e naquele espaço”, explica o coordenador.

“Faz-se necessário esclarecer que Curt Nimuendajú não dispunha de fotografias aéreas. Ele teve que buscar informações in loco. Viajou praticamente por todo o Brasil, conheceu muitos grupos indígenas e teve acesso a mapas elaborados por outros pesquisadores, além de obter muitas informações em livros. Seu sistema deriva desta longa pesquisa”, finaliza Jorge Domingues Lopes.

Serviço:

Pode-se acessar o mapa neste endereço: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/mapaetnohistorico2ed2017.pdf

Ed.144 - Agosto e Setembro de 2018

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