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Resenha

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Terça, 29 de Setembro de 2020, 22h37 | Última atualização em Quarta, 30 de Setembro de 2020, 17h55 | Acessos: 2505

O Círio nas histórias em quadrinhos

Por Walter Pinto Foto Reprodução

As histórias em quadrinhos constituem o que se convencionou chamar de “a nona arte”, segundo uma classificação que remonta a 1923, quando o italiano Riccioto Canudo publicou o Manifesto das Sete Artes, no qual apresentou uma ordem de artes constituída por música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura e cinema. As histórias em quadrinhos foram inseridas na categoria de arte posteriormente, logo depois da fotografia.

Conhecida no Brasil pela abreviatura HQ, a nova arte recebe outras denominações mundo afora. Em Portugal, por exemplo, chama-se banda desenhada, os franceses chamam de bandes, os estadunidenses de comics, os italianos de fumetti. Seja onde for, ela traz um elemento em comum: a arte sequencial, a história narrada em série de quadros, particularidade que a difere, na arte gráfica, dos parentes próximos, a charge, o cartum e a caricatura, que se resolvem num quadro único.

Há um grande debate em torno da origem das histórias em quadrinhos, mas, no Brasil, parece não haver dúvida de que tenha sido introduzida pelo caricaturista e jornalista italiano Angelo Agostini (1843-1910), por meio da publicação de As aventuras de Nhô-Quim, na revista Vida Fluminense, em 1869.

Desde o surgimento, as histórias em quadrinhos caíram no gosto popular pela comunicação direta estabelecida com o leitor. Mais recentemente, os historiadores passaram a incluí-las como fontes para o estudo da história por seu conteúdo documental. Com a reedição da revista As aventuras de Nhô-Quim pela Editora do Senado Federal, em 2013, foi possível conhecer um pouco sobre a vida dos brasileiros nos tempos da corte, para além dos documentos oficiais.

No Pará, a história sequencial vive um momento de grande efervescência, com o surgimento de vários talentos na arte de desenhar e roteirizar. Neste sentido, deve-se destacar o papel catalizador do quadrinista Volney Nazareno e do professor da UFPA e roteirista Ricardo Ono.

Recentemente, o professor Ono organizou uma coletânea de histórias em quadrinhos sobre o Círio de Nazaré, trazendo a memória afetiva dos quadrinistas paraenses sobre esta que é uma das maiores expressões religiosas e culturais do Pará. Não é a primeira vez que o Círio é quadrinizado. O primeiro a fazê-lo foi o artista gráfico Luiz Pinto, autor da revista Círio de Nazaré em Quadrinhos, cuja primeira edição foi publicada em 1993, em preto e branco. Atualmente na quinta edição, a revista ganhou um tratamento em cores. O autor levou dez anos entre pesquisa e produção gráfica, resultando numa publicação indispensável para quem desejar se informar e pesquisar sobre a história do Círio.

O Círio como manifestação cultural de alcance internacional levou o quadrinista Maurício de Souza, o bem-sucedido criador da Revista da Mônica, a produzir a revista Turma da Mônica vai ao Círio de Nazaré, publicada em 2015, uma espécie de apresentação rápida da grande festa do segundo domingo de outubro para o público infantil e adolescente. Embora fugindo ao estilo das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, com a narrativa em prosa dispensando o uso de balões e cada página ilustrada por um único desenho, vemos os personagens circulando por Belém até o dia da grande romaria.

A revista Meu Círio em quadrinhos!, organizada pelo professor Ricardo Ono, é resultado de um projeto de pesquisa vencedor do VI Prêmio Proex de Arte e Cultura, da Pró-Reitoria de Extensão e do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA. Segundo o organizador, o principal propósito da revista é buscar preservar a identidade coletiva do Círio por meio da valorização e da divulgação deste evento que transcende o religioso, tendo sido reconhecido, em 2013, como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A revista traz 15 histórias curtas, desenhadas por 16 quadrinistas, sendo três deles considerados estreantes nesta arte.

Com Volney Nazareno, assinam as histórias Cleyson Oliveira, Marcio Loerzer, Matheus Souza, Paulo Mashiro, Rodrigo Thales, Erik Rivero, Vini Passos, Amanda Barros, André Cidefao, Alexandre Coelho, Elton Galdino, Adriano Lima, João Hermeto de Carvalho, Marina Tavares e Cecil Coelho.

Conforme observa Ricardo Ono, os quadrinhos sempre foram interpretados, “pelos leigos, como obras destinadas exclusivamente ao público infantil. No entanto, hoje, os quadrinhos foram alçados ao patamar de produtos multimidiáticos, sendo amplamente estudados e utilizados como ferramentas comunicacionais e educacionais”. A revista Meu Círio em quadrinhos! é composta por uma rede de memórias sentimentais de cada autor sobre esta grande manifestação da cultura paraense, tecida sob a linguagem artística do quadrinho.

Serviço: Revista Meu Círio em quadrinhos! Organizador: Ricardo Ono. Edição: Proex-PPGArtes UFPA. Vencedor do VI Prêmio Proex de Arte e Cultura. 48 páginas. À venda na Casa das Artes, antigo Instituto de Artes do Pará (IAP).

Ed.156 - Set/Out/Nov de 2020

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