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Opinião

Publicado: Sexta, 18 de Dezembro de 2020, 22h14 | Última atualização em Quinta, 28 de Janeiro de 2021, 19h01 | Acessos: 940

 

Diversidade & Ciência

Por Jane Felipe Beltrão Foto ALexandre de Moraes

 

Por que a Ciência precisa da diversidade? É a interrogação que as pessoas fazem considerando a pluralização dos espaços sociais de instituições públicas em face das ações afirmativas que chegaram para transformarem-se em políticas afirmativas que acolhem pessoas étnica e racialmente diferenciadas que trazem na bagagem intelectual conhecimentos necessários à compreensão do mundo e à constituição de novos estatutos sociais mais democráticos, com possibilidade de efetivar o “bem viver”.

A importância das políticas afirmativas em instituições como a Universidade Federal do Pará está relacionada à possibilidade de promover a inclusão social e abrir as portas em par ao pluralismo e à interculturalidade, combatendo acerbamente o racismo e as assimetrias tão presentes em nossa sociedade.

Com a proposição de implantação de novas perspectivas de convivência e com a possibilidade de deslocar o foco eurocêntrico (colonial) da ciência, libertar-se das amarras que nos foram impostas para recuperar nossa humanidade é obrigação cidadã.

Praticar cotidianamente a pedagogia relativa à incorporação de posturas que chamo aqui de “indiopretogógicas”, ou seja, aquela que considera a diversidade como pauta costumeira para valorizar as identidades amazônicas e fortalecer a luta “anticolonial”, é imperioso.

Dia 3 de dezembro de 2020, David Kopenawa, o sábio Yanomami, foi aceito como membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências (ABC) ao lado de Abílio Baêta Neves (UFRGS). Pensem que a ciência brasileira e seus/suas representantes estão mudando. É hora de considerar a eterna colaboração – nem sempre reconhecida – entre nós e os sábios da tradição, que, independentemente de reconhecimento, sempre nos auxiliaram de forma competente a evitar “a queda do céu”, do infinito, sobre nossas cabeças.

Nosso sonho é constituir, com base na consideração da diversidade, uma rede de coletivos e comunidades antirracistas. Não é mais possível manter a escola como espaço de reprodução racista, como nos foi imposto pelo colonizador. Abriremos espaço para vidas que importam e que, no dia a dia, contribuem para a retomada de valores de justiça e equidade, forjando a fragmentação dos pilares sobre os quais se erigiu uma sociedade que, de muitas maneiras, rejeita, afasta, discrimina pessoas que são cidadão/ã de fato e de direito.

Nossa luta – daqueles que combatem incessantemente o racismo, como protagonistas ou aliados – é demonstrar que todos/as somos humanos e o humanismo precisa ser cultivado, pois ele nos fortalece, nos permite sonhar com uma sociedade, na qual o “bem viver” seja norma da qual não abrimos mão.

Para transformar nossa utopia em realidade, precisamos fazer valer o conhecimento diverso e canonicamente estabelecido fora das academias no Ensino Superior, pois, para abraçar a democracia, é preciso promover a inclusão social, o respeito incondicional à diversidade. Só assim o pluralismo e a interculturalidade poderão medrar de forma viçosa entre nós. Sonhar é direito e viver em um mundo melhor exige respeito e colaboração com a diversidade.

Fazer ciência é manter colaborações, é desvendar o que sabemos em todos os espaços sociais, é aprender com o/a outro/a e em colaboração. Portanto aprender com a/na diversidade é tarefa imprescindível. Os/As interlocutores/as étnica e racialmente diferenciados/as possuem vasto conhecimento fortalecido pela experiência do dia a dia em seus coletivos e, pesem comigo, se, há mais de quinhentos anos, eles resistem e lutam para demonstrar que a diferença não pode ser tomada como desigualdade e que, dentro de seus territórios, conseguem se manter vivos, os povos tradicionais possuem uma vasta biblioteca integrada por gente que se faz livro para ensinar tradições que os/as mantêm em pé e íntegros/as. Urge cultivar, nos espaços públicos da academia, formulação científica com base em responsabilidade compartilhada com interlocutores/as da diversidade. Sem dúvida, a escuta, a consideração e a colaboração tornarão a humanidade melhor.

Jane Felipe Beltrão - Professora titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), alocada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), pesquisadora 1B do CNPq. 

Beira do Rio edição 157

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