Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Carnaval sobre águas

Publicado: Quinta, 04 de Fevereiro de 2021, 22h29 | Última atualização em Quinta, 04 de Fevereiro de 2021, 22h29 | Acessos: 2379

Pesquisa revela visualidades do Cordão dos Mascarados Última Hora, em Cametá

Brincantes do Cordão de Mascarados Última Hora reunidos no Carnaval de 2019.
imagem sem descrição.

Por Adrielly Araújo Foto Paulo Castro

O Carnaval das Águas é uma manifestação cultural que existe, há mais de 100 anos, em Cametá (PA). Uma das principais características do evento são os grupos que organizam, produzem e criam suas próprias fantasias e canções, desfilando em barcos pelos rios do município. A festa é dividida tradicionalmente entre cordões e blocos, sendo os mais tradicionais: os Linguarudos do Santana, o Cordão da Bicharada e o Cordão de Mascarados Última Hora do rio Tentém.

Essas informações estão destacadas na dissertação Este sim, veio para alegrar toda a gente: Visualidades Artísticas do Cordão Última Hora do Carnaval das Águas, Cametá (PA), apresentada por Renan Souza D’Oliveira  ao Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGArtes/ICA/UFPA), orientado pela professora Rosângela Marques de Britto.

Tendo como objeto de estudo o Cordão de Mascarados Última Hora do rio Tentém, o publicitário analisou a visualidade e o processo criativo das máscaras, do estandarte e do barco de desfile do grupo, além de descrever o processo criativo da família tipográfica “Última Hora”. Durante a pesquisa, Renan D’Oliveira fez um registro audiovisual desde a sua primeira viagem à região, em 2014.

“A minha afinidade com o carnaval ribeirinho e o Cordão Última Hora teve início antes do meu ingresso na pós-graduação, pois frequento a região do rio Tocantins desde o carnaval de 2014, quando viajei com meus companheiros do Projeto Cartografias Amazônicas, da Faculdade Estácio do Pará, e pude conhecer melhor a manifestação”, lembra o pesquisador.

Autor divide pesquisa em quatro “trajetos”  

Renan Souza D’Oliveira  dividiu a dissertação em quatro partes, que ele chama de “trajetos”. No primeiro trajeto (início da viagem), Renan D’Oliveira  fala sobre as primeiras idas a Cametá e sobre o seu papel como brincante do carnaval da região. O autor conta a história da cidade e cita a pesquisa de campo na Comunidade Tentém, localizada nos afluentes do rio Tocantins.

O segundo trajeto traz um breve estudo sobre as origens do carnaval, o início dos cordões dentro da cultura carnavalesca, além da história da manifestação cultural centenária do Carnaval das Águas e do Cordão Última Hora. O pesquisador Renan Souza D’Oliveira  entrevistou membros do cordão, como o Mestre Vital 1, também conhecido como Engole Cobra, e Eulálio Tenório dos Santos, o Mestre Vital 2.

A dissertação traz entrevistas que indicam que o Cordão de Mascarados do Última Hora foi criado em 1934, pelos irmãos Cornélia e Atílio Ranieri, descendentes de italianos e moradores da região do Tentém, inspirados nos cordões carnavalescos da época. O cordão encerrou suas atividades por motivos incertos em 1960 e foi reativado em 1990, por Mestre Vital 1.

“Alchimedes Vital Batista, Mestre Vital 1, é um artista importante para a cultura cametaense por seu trabalho com a Banda Engole Cobra e por reativar o cordão em conjunto com o ator Eulálio dos Santos, conhecido como Mestre Vital 2”, revela o pesquisador.

O terceiro trajeto fala sobre o papel do Mestre Vital 2 como artesão do Cordão Última Hora, destacando a plasticidade da criação de máscaras, dos estandartes, do barco e suas letras. “Para estudar a visualidade do cordão, separei três signos importantes e visualmente potentes: o Barco Nossa Senhora das Graças, o estandarte e as máscaras”, explica Renan Souza D’Oliveira .

No quarto e último trajeto, Renan se insere como artista gráfico e documentarista, descreve os processos de criação da família tipográfica Última Hora, catalogando o estilo de letras desenhadas por Mestre Vital 2 nos barcos usados pelo Cordão Última Hora.

“A partir disso, compilei a história da criação do cordão, a beleza da região, dos seus moradores e da manifestação cultural no Documentário audiovisual Cordão de Mascarados Última Hora do Tentém (PA), do qual fui roteirista, diretor de arte e personagem. O documentário é parte integrante do quarto trajeto”, afirma.

Cordão não possui qualquer documento de registro formal

“O passado deste cordão guardado nas memórias individuais e coletivas dos membros. Sua origem não possui qualquer documento visual ou textual. Isso mostra a importância das entrevistas e do material coletado na pesquisa (fotos, vídeos e anotações de campo). Uma etnografia da cultura popular dessa manifestação”, afirma  Renan D’Oliveira .

O Última Hora tem cerca de 50 brincantes, número que se modifica de um carnaval para outro. O cordão é formado pelos seguintes personagens: 1° palhaço (tem a função de comandar o cordão), 2°palhaço (uma espécie de assistente do 1° palhaço), o Psiqueiro (o responsável por jogar a psica, o azar, a negatividade, tudo com o objetivo de provocar o riso da plateia), o Velho e a Velha (possuem a mesma função do Psiqueiro, que é atrapalhar os comediários) e os Comediários (geralmente, um casal que interage durante as apresentações, usando o flerte entre as personagens e outras formas textuais para fazer rir).

Os símbolos escolhidos para nortear a pesquisa foram o estandarte, o Barco Nossa Sra. das Graças e as máscaras. O estandarte tem a função de identificar o cordão pelo nome e pela região, nos rios e em terra firme, apresentando as cores: verde (representando a floresta), o amarelo (a riqueza do Brasil) e o vermelho (representando o carnaval).

“O Barco Nossa Sra. das Graças é transporte e signo da potência do cordão. As letras no barco, desenhadas pelo Mestre, além de ajudar a comunicação visual do barco com o observador, transmitem a estética da cultura ribeirinha”, explica Renan D’Oliveira . As máscaras fazem parte de uma tradição não só do Carnaval das Águas, mas também da comunidade. Elas são o item de figurino indispensável no carnaval do Última Hora, usado apenas pelos brincantes do sexo masculino. No início, eram feitas com barro, atualmente, Mestre Vital 2 confecciona máscaras com garrafas de plástico e faz adaptações de algumas peças compradas no comércio local.

“O Carnaval das Águas é uma manifestação centenária que poucas pessoas conhecem. Existem vários grupos e cordões populares que merecem ser descobertos e estudados. Acredito que a minha dissertação foi o pontapé para que pesquisadores, artistas e produtores culturais conheçam e busquem estudar essas manifestações únicas”, conclui Renan D’Oliveira .

Prêmios

Renan D’Oliveira  produziu dois artigos, premiados como melhor ilustração no Congresso de Ciências da Comunicação por duas vezes (2015 e 2016) e uma vez no Congresso Nacional de Ciências da Comunicação – INTERCOM (2015).

Glossário

Cordão: agremiação recreativa carnavalesca. Seu nome deriva das cordas dos instrumentos tocados pelo grupo que organizava a brincadeira.

Bloco: grupos de desfile carnavalesco composto por homens e mulheres.

Estandarte: bandeira com função de identificar o cordão pelo nome e pela região.

Tipografia: a arte e o processo de criação na composição e impressão de um texto, física ou digitalmente.

Comediário: personagem do cordão que interage com a plateia nas apresentações.

Brincantes: as pessoas que participam como personagens, dançarinos ou banda musical do cordão.

Beira do Rio edição 157

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

Fim do conteúdo da página