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Alimento, saberes e memórias

Publicado: Quinta, 03 de Novembro de 2022, 16h37 | Última atualização em Quarta, 09 de Novembro de 2022, 16h35 | Acessos: 624

Pesquisa discute processo de certificação da farinha de Bragança

#ParaTodosLerem: Imagem mostra vários sacos de farinha expostos em uma feira e pessoas ao fundo
#ParaTodosLerem: Imagem mostra vários sacos de farinha expostos em uma feira e pessoas ao fundo

Por Leandra Souza Foto Mácio Ferreira/Acervo Ascom 

A farinha de mandioca é um alimento presente diariamente no prato de muitos brasileiros, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste do país. Quando consumida com moderação, fornece inúmeros benefícios à saúde. Entre algumas das propriedades nutricionais desse alimento, estão os carboidratos de médio índice glicêmico, responsáveis por fornecer energia ao corpo humano; as fibras, que auxiliam no bom funcionamento intestinal; o potássio, que ajuda na prevenção de câimbras; e o manganês, que, além de controlar a pressão arterial, melhora o funcionamento mental. 

Mas a farinha de mandioca ultrapassa as características de um simples alimento. Ela adquire inúmeras especificidades, tais como vivências, saberes e memórias. Foi com esse pensamento que o pesquisador Lidenilson Silva produziu a dissertação Estratégia de valorização da Farinha de Bragança, Pará: controvérsias no processo da certificação da Indicação Geográfica (IG).

No estudo, Lidenilson procurou analisar um tipo específico da farinha de mandioca, a farinha de Bragança. Seu objetivo era abordar as controvérsias no processo de criação da Identificação Geográfica da farinha de Bragança e alguns aspectos próprios da região bragantina, como saberes locais, transformações tecnológicas, estratégias de comercialização, envolvimento e interesses dos atores sociais inseridos em todas as fases de produção e consumo do alimento. 

Para mapear e identificar tais características, o pesquisador focou sua análise na mesorregião do nordeste paraense, mais especificamente nos municípios de Bragança, Tracuateua, Augusto Corrêa, Santa Luzia do Pará e Viseu. Segundo o pesquisador, tais municípios formam um território delimitado por uma linha imaginária que configura os conhecimentos e as técnicas tradicionais do "saber-fazer'' a farinha de Bragança. Esses conhecimentos, conservados e transmitidos por gerações, são determinantes para a adoção do termo “farinha de Bragança”. 

“O estudo se apoiou em três objetivos específicos: descrever o processo de cultivo da mandioca com seus aspectos técnicos e culturais; observar a articulação para a certificação da farinha de Bragança com a Indicação Geográfica, respeitando as estratégias de seus atores e o contexto histórico da certificação, e identificar os benefícios adotados com as práticas agroecológicas”, afirma o Lidenilson. 

Produção Industrial x Produção Familiar

 A pesquisa de Lidenilson Silva mostra que a produção da farinha de Bragança ainda é caracterizada pelo “fazer tradicional", ou seja, é feita por agricultores familiares, com métodos artesanais. Entretanto o pesquisador explica que essa produção já ocorre de forma mecanizada por agricultores capitalizados (médios agricultores), cuja finalidade é atender ao mercado externo. Esse tipo de fabricação abre espaço para o debate sobre a conservação das tradições no modelo de produção do alimento. 

“O primeiro grupo (agricultores tradicionais) acredita que o uso dos novos equipamentos altera a qualidade da farinha de Bragança, desclassificando-a por interferir no ‘saber-fazer’. Já para o segundo grupo (agricultores especializados), a introdução de equipamentos e máquinas aumenta a produtividade, diminui o custo de fabricação do produto e facilita contratos diretos com redes de supermercados e restaurantes, tanto no Pará quanto em outros estados”, declara o autor. 

Reconhecimento – Este ano, o governador Hélder Barbalho declarou, por meio do Diário Oficial do Estado (DOE), que a farinha de Bragança passa a ser um Patrimônio Cultural de Caráter Imaterial, pelas legislações nº 9.541 e nº 9.543. Essa ação reforça o reconhecimento da produção e do consumo do alimento, além de destacar a sua importância econômica, social e cultural. 

“As técnicas de produção tradicional, quer pela condição econômica dos agricultores, quer pela conservação do conhecimento geracional, continuam sendo predominantes entre as famílias produtoras de farinha. Em meio a essas controvérsias, existe o consenso de que a fabricação da farinha de Bragança, nos moldes artesanais, é extremamente trabalhosa, para não usar o termo ‘penosa’ em alguns casos”, avalia Lidenilson Silva. 

Pensando em alguns aspectos da produção e nos impactos gerados, o Governo do Estado, com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), incentivou a criação da Unidade de Experimentação (U.E) “Roça Lenha”, na Comunidade Montenegro, localizada na região bragantina. A iniciativa atua com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar, desenvolver novas estratégias de produção de bioenergia para combustão, além de informar sobre a degradação ambiental que o plantio da mandioca e a fabricação da farinha podem ocasionar. 

Sobre a pesquisa – Lidenilson Sousa da Silva defendeu a sua dissertação pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas da Universidade Federal do Pará (PPGAA/UFPA) vinculado ao Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, sob a orientação do professor Willian Santos Assis. 

Beira do Rio edição 164

 

 

 

 

 

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