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Resenha

Publicado: Segunda, 18 de Setembro de 2023, 18h55 | Última atualização em Terça, 19 de Setembro de 2023, 19h16 | Acessos: 242

Para além dos estudos memorialísticos

Por Walter Pinto

A ideia de produzir um livro reunindo parte da produção acadêmica sobre a história do Baixo Amazonas surgiu de um encontro entre três professores de História, de diferentes paragens. O paraense Luiz Carlos Laurindo Junior, o rio-grandense Diego Marinho de Gois e o alemão Karl Heins Arenz, os dois primeiros docentes da Universidade Federal do Oeste do Pará; e o terceiro, da Universidade Federal do Pará, perceberam que, apesar de haver uma boa quantidade de trabalhos historiográficos acadêmicos sobre a região, estes estavam dispersos.

Reuni-los em uma publicação a ser oferecida a estudantes, profissionais e interessados na área tornou-se uma empreitada de certa forma pioneira. O passo seguinte foi mapear os estudos e convidar os autores igualmente de paragens diferentes para participarem da publicação. Assim veio a lume o livro Baixo Amazonas: histórias entre rios, várzeas e terra firme, uma primeira compilação de estudos acadêmicos produzidos sobre a região nos últimos 25 anos, organizado pelos três professores idealizadores.

O livro reúne 13 artigos de temporalidades distintas, escritos por André Dioney Fonseca, Daniela Rebelo Monte Tristan, Diego Carvalho Pereira, Diego Marinho de Gois, Eveline Almeida de Souza, Gefferson Ramos Rodrigues e Luiz Carlos Laurindo Junior (Ufopa); Daiana Travassos Alves, Karl Heinz Arenz, Marcio Couto Henrique e Walter Pinto de Oliveira (UFPA); Claudia Laurido Figueira (Seduc); Eurípedes Antônio Funes (UFC) e Letícia Pereira Barriga (Ufap). Alguns textos são desdobramentos de trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, projetos de pesquisas institucionais ou autônomos. Vários dialogam com a vasta produção memorialística que dominou, por muitos anos, os estudos sobre a região.

O livro abre com uma incursão ao tempo anterior à presença dos colonizadores europeus na região, entre os séculos X e XVI. Trata da produção e do consumo de alimentos pela população primitiva, os Tapajó, incluindo um histórico sobre a domesticação de plantas na Amazônia e a análise da cultura material e de microvestígios botânicos em dois sítios locais.

Jogando luz sobre o Período Colonial, a obra adentra no “tempo das missões”, acompanhando os padres jesuítas no Vale do Tapajós, em ação de catequese. Já no Período Imperial, os leitores têm oportunidade de conhecer aspectos do desenrolar da Cabanagem na localidade de Cuipiranga, uma base de planejamento de ações e lugar de refúgio dos cabanos.

Os estudos sobre escravidão estão presentes em dois artigos. O primeiro sobre a economia escravista, o padrão de posse e o perfil étnico das pessoas escravizadas. O segundo faz a quantificação do tráfico interno em Santarém e Óbidos, ressaltando como a economia, principalmente a cacaulista, transformou essas pessoas em capital líquido e aparato de status para os que detinham sua “propriedade”. Deslocando o leitor para o final do século XIX, o livro discute a ideia do mito fundador, baseada na ação do padre José Nicolino, tido como “fundador” da cidade de Oriximiná.

Já no século XX, Santarém é analisada em seus aspectos sociais e urbanos por meio de uma leitura das transformações operadas nos grandes centros irradiadores do moderno. A história política ganha relevo com o estudo sobre a Revolução Constitucionalista no Baixo Amazonas em 1932, que sublevou a cidade de Óbidos e seu quartel, em oposição ao baratismo, então em construção. O estudo seguinte trata da ação do Serviço de Proteção aos Índios sobre os Munduruku, para atraí-los à extração do látex.

Uma análise do impacto político e social na região da implantação da Fábrica de Fiação e Tecelagem de Juta, em Santarém, demarca o fim dos anos 1950. Um estudo sobre o Golpe Civil-Militar de 1964 naquela cidade, considerada área de segurança nacional, pontua a história do tempo presente. No encerramento, a obra traz estudos sobre a tensão e a interação entre agentes sociais em torno da Festa do Sairé e sobre a conservação da documentação historiográfica do Baixo Amazonas, que serve de fonte à realização de estudos historiográficos, como os apresentados aqui.

ServiçoBaixo Amazonas: histórias entre rios, várzeas e terra firme. Karl Heinz Arenz, Luiz Carlos Laurindo Junior, Diego Marinho de Gois (Org.). Editora: Intermeios, 2022. Número de páginas: 442.

Beira do Rio edição 168

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