O espaço é aqui. O tempo é agora.
O Planetário como espaço de ensino de Ciências
Por Flávia Rocha Foto Acervo da Pesquisa
A vida em sociedade proporciona a todos os indivíduos um espaço de aprendizagem constante. Os conhecimentos adquiridos por meio de vivências constroem e moldam identidades e visões de mundo. Essas informações são aprendidas na escola, nos museus, por meio dos jogos de tabuleiro, até mesmo nas receitas caseiras que são passadas de pais para filhos.
Segundo o Ministério da Educação, há educação formal, não formal e informal. A educação formal acontece dentro de espaços institucionalizados, como escolas e universidades, e possui formação progressiva e avaliação anual de acordo com as diretrizes estabelecidas. É fiscalizada por órgãos superiores e possui uma hierarquia, com o professor no centro.
A educação não formal ocorre dentro de espaços específicos. Há os que são institucionalizados, isto é, possuem uma gestão por trás, como os museus. Há também os não institucionalizados, como praças, parques e bosques. Eles têm um responsável, que é a prefeitura, mas não têm nenhuma gestão pedagógica. Diferentemente do espaço formal, aqui todos podem participar, não há avaliações, e as atividades são mais flexíveis e dinâmicas.
Por sua vez, na educação informal, os conhecimentos não são sistematizados. Eles são transmitidos por meio de experiências e práticas vividas. Os agentes educadores são a família, os amigos, os vizinhos, os colegas da escola, o grupo religioso, os meios de comunicação em massa, entre outros.
Cada vez mais, essas modalidades se misturam, especialmente no ensino básico. “Em uma era em que a informação é abundante, novas formas de adquirir conhecimento afloram e invadem as salas de aula. Novos espaços são vistos como educativos, suas estruturas são repensadas para um público maior ou mais específico”, afirma o professor de Biologia Endell Menezes de Oliveira. Em sua dissertação O espaço não formal e o ensino de ciências: um estudo de caso no Centro de Ciências e Planetário do Pará, Endell buscou entender como ocorre o ensino de Ciências em um local de educação não formal.
Discursos estão alinhados com o modelo formal
Para a pesquisa, foram entrevistados oito estagiários do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP). Todos acadêmicos de cursos de Licenciatura em Biologia, Física, Química e Ciências Naturais, vinculados ao Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). “Esses sujeitos foram escolhidos por serem a ‘imagem’ do Planetário, aqueles com acesso direto e maior interação com o público. Eles desenvolvem, diariamente, as principais atividades educacionais do espaço”, justifica o professor.
Com base nas entrevistas, Endell Oliveira concluiu que o Planetário é um espaço permeado de características formais e não formais, porém a mais latente é a de caráter “para-formal”, ou seja, as exposições e os discursos dos estagiários estão alinhados com o modelo formal de ensino. “Os estagiários observam o CCPP como um complemento ou extensão da sala de aula formal. Assim, o espaço proporciona um aprender diferente do modelo formal, mas respeitando seus programas educacionais”, explica o professor.
Segundo a pesquisa, os diferentes tipos de educação não podem ser colocados em caixas hermeticamente fechadas. No cotidiano, eles se combinam e complementam-se. “Nesse processo, é preciso ter cuidado para não negar ou menosprezar nenhum tipo de educação. A ideia é valorizá-los”, afirma o pesquisador.
Baseado nisso, o autor traz o conceito de hibridismo no ensino de Ciências. Com o Projeto “Desvendando os Céus do Equador: o Planetário no interior amazônico”, o CCPP leva astronomia para as escolas do interior do estado. Na ocasião, é inflada uma cúpula, e a equipe projeta imagens iguais às que podem ser vistas em sua sede, em Belém. “O Planetário leva a sua equipe, o seu acervo e a sua pedagogia para as escolas. Isso possui características não formais, mas o espaço é formal. Como poderíamos definir isso?”, desafia Endell.
“Existem muitas formas de mistura entre os tipos de educação. Você pode usar um espaço com característica formal e a maneira de transmitir o conhecimento ser não formal. A educação acontece na prática”, afirma. “Acredito que a pesquisa pode abrir portas para estudar como os espaços não formais funcionam na escola. Tentamos investigar de que forma podemos potencializar o ensino formal, já que a nossa região apresenta muitas deficiências neste aspecto”, conclui.
Serviço
O Centro de Ciências e Planetário do Pará é uma unidade de ensino e divulgação de Ciências e Matemática vinculada à Universidade do Estado do Pará (UEPA). Foi reinaugurado em outubro de 2012, com a reformulação do Planetário Sebastião Sodré da Gama, fundado em setembro de 1999.
O objetivo do CCPP é divulgar e popularizar a Ciência, apoiando a educação formal, combinando atividades e demonstrações de experimentos que buscam familiarizar as pessoas com os principais conceitos nas áreas das Ciências, englobando Física, Matemática, Química, Geologia, Astronomia, Origem da Vida, Meio Ambiente, Saúde e Biotecnologia.
O espaço conta com uma cúpula de projeção (planetário ótico mecânico Zeiss modelo ZKP-3) com capacidade para 100 pessoas e ambientes interativo-expositivos de Astronomia, Geologia, Física, Química, Matemática, Evolução (incluindo exemplares de fósseis do Pará e de outras regiões) e Biodiversidade, além de realizar exposições temporárias.
O agendamento para visitas escolares pode ser feito pelo e-mail: agenda.planetario@uepa.br, ou presencialmente na Sala da Agenda do Planetário. As escolas devem encaminhar documento em papel timbrado, assinado e carimbado pelo (a) diretor (a) ou coordenador (a) pedagógico (a) responsável, constando o número de alunos e de professores que irão visitar os espaços, a data e o horário pretendidos para a visita. As visitas monitoradas para escolas ocorrem de terça a sexta, pela manhã e pela tarde.
O Planetário está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 14h30 às 17h30, e aos sábados, das 15h às 18h.
Para mais informações, acesse: paginas.uepa.br/planetario/
Ed.155 - Jun/Jul/Ago de 2020
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