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Extremos climáticos ameaçam municípios paraenses

Publicado: Quinta, 13 de Agosto de 2020, 18h56 | Última atualização em Quarta, 23 de Setembro de 2020, 21h47 | Acessos: 1748

Pesquisa analisou suscetibilidade, capacidade de resposta e capacidade adaptativa

O mapa abaixo apresenta os resultados da pesquisa.
imagem sem descrição.

Por Gabriel Mansur, com edição de Rosyane Rodrigues Foto Acervo da Pesquisa

O início do ano é marcado por chuvas fortes nos municípios paraenses. Os meses de dezembro a maio são conhecidos como “inverno amazônico”, pois, nesse período, aumenta o índice pluviométrico (quantidade de precipitação de água em determinado local). Este ano, as chuvas alagaram bairros inteiros e causaram prejuízos para os moradores e para os comerciantes na capital paraense.  

De junho a novembro, as chuvas diminuem, prejudicando a agricultura e baixando o nível dos rios. A variação na precipitação, com alto desvio padrão, também é chamada de extremos climáticos. Os extremos climáticos impactam a vida das pessoas de diversas maneiras: as enchentes causam perdas materiais e, em alguns casos, de vidas. A seca desregula a agricultura e a pesca e afeta quem depende da terra.

Douglas Batista da Silva Ferreira, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV), apresenta em sua tese Vulnerabilidade socioambiental e análise de risco aos extremos de precipitação no Estado do Pará um estudo interdisciplinar que avalia os municípios paraenses mais vulneráveis, com maior grau de risco diante da ocorrência de extremos climáticos. A tese foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA/IG) e contou com a orientação do professor Everaldo Barreiros de Souza.

“Em 2005, 2010 e 2015, ocorreram secas históricas que impactaram diversos municípios. Em 2009 e 2012, os períodos chuvosos foram atípicos, em que grande parte dos municípios do nordeste paraense registrou altos volumes pluviométricos”, explica o meteorologista. Após a observação desses extremos, o pesquisador procurou classificar quais municípios paraenses sofrem mais impactos com as secas e as chuvas extremas, considerando as características socioeconômicas e ambientais de cada localidade.

Em um primeiro momento, Douglas Ferreira reuniu dados sobre a frequência de extremos climáticos ocorridos nos municípios paraenses, além de 34 indicadores socioeconômicos e ambientais que o ajudaram a identificar quais municípios eram mais vulneráveis. A vulnerabilidade é definida pelas dimensões: suscetibilidade, capacidade de resposta e capacidade adaptativa.

A suscetibilidade se refere aos municípios com maior risco de sofrer danos diante da sua condição atual. A capacidade de resposta está ligada aos meios disponíveis para diminuir os impactos causados pelos extremos climáticos. Já a capacidade adaptativa está relacionada aos processos de longo prazo adotados para enfrentar esses eventos no futuro.

Os municípios que apresentaram frequências altas para extremos climáticos estão nas áreas noroeste, sudeste, leste, nordeste e no litoral. No Pará, os extremos chuvosos ocorrem durante o ano inteiro, enquanto os extremos secos apresentam sazonalidade e ocorrem no trimestre de junho, julho e agosto e no trimestre setembro, outubro e novembro, principalmente nos municípios da porção nordeste do estado.

Localidades com maior risco estão na Ilha do Marajó

Quanto à vulnerabilidade, foram destacados 10 municípios (correspondentes a 7% do total de 143 municípios paraenses). Os mais suscetíveis estão concentrados na parte norte do estado. Melgaço, Afuá e Anajás, na ilha do Marajó, são as três localidades que apresentaram maior suscetibilidade. “O indicador com pior desempenho foi o percentual de municípios com esgoto sanitário. Isso foi uma surpresa para mim. Ainda há muitas pessoas no Pará sem acesso a saneamento básico em suas residências”, revela Douglas Ferreira.

A respeito da capacidade de resposta, os municípios localizados no nordeste e no sudeste do Pará apresentam maior ineficácia. Os indicadores referentes à estrutura local, às medidas para reduzir desastres e à população vulnerável cadastrada em programas habitacionais foram os que mais influenciaram na classificação. Colares, Nova Esperança e Santana do Araguaia tiveram os piores indicadores em capacidade de resposta.

Sobre a capacidade adaptativa, Garrafão do Norte, Aurora do Pará e Brejo Grande do Araguaia tiveram pior desempenho. Os indicadores sobre a gestão de desastres foram determinantes para a classificação dos municípios com baixa capacidade adaptativa.

Ao reunir os dados, o pesquisador encontrou os municípios com maior vulnerabilidade socioambiental: Nova Esperança do Piriá, Cumaru do Norte e Garrafão do Norte. Sete entre os dez municípios com maior vulnerabilidade encontram-se na mesorregião nordeste do estado, dois no Marajó e Cumaru do Norte, no sudeste do estado.

Ao final, nove municípios foram classificados com alto grau de risco socioambiental e climático, são eles: Placas, Santo Antônio do Tauá, Cachoeira do Arari, Anajás, Santa Cruz do Arari, Portel, Rurópolis, Santa Bárbara do Pará, Prainha e Moju. Outros 92 tiveram grau médio e 42 obtiveram grau baixo. O fator exposição aos extremos climáticos foi crucial para a determinação dos municípios com maior risco.

“Os municípios paraenses possuem problema quanto a uma resposta imediata diante de uma ameaça natural materializada. Mesmo em municípios com grau de risco médio ou baixo, dependendo da intensidade e da frequência da ameaça natural, os impactos podem ser inevitáveis”, alerta Douglas Ferreira.

Ed.155 - Jun/Jul/Ago de 2020

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