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Lago Bolonha é um reservatório de bactérias resistentes a antibióticos

Publicado: Quinta, 15 de Outubro de 2020, 17h58 | Última atualização em Quinta, 15 de Outubro de 2020, 17h58 | Acessos: 1601

Adriana Folador coordena o estudo premiado pela L’Oreal, Unesco e ABC

imagem sem descrição.

Por Flávia Rocha Foto Guto Costa

Assim como Marie Curie, pioneira no estudo de radioatividade, Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, as cientistas que lideraram o grupo – majoritariamente feminino –responsável pelo sequenciamento do genoma do coronavírus, diversas mulheres fizeram contribuições importantes para a ciência mundial. Dessa forma, é fundamental incentivar e celebrar os resultados dos projetos desenvolvidos por mulheres.

Nessa perspectiva, um bom exemplo é a professora Adriana Folador, doutora em Genética e Biologia Molecular, responsável pela pesquisa Genes de resistência a antibióticos: Uma abordagem One Health para o monitoramento da Saúde Pública na Amazônia. “Investiguei, de forma ampla, bactérias resistentes a antibióticos em solo com atividade agrícola, amostras de água de ambiente hospitalar e de lagos localizados na região amazônica”, afirma a professora.

Segundo Adriana Folador, foi investigado o resistoma, isto é, grupo de genes com resistência aos antibióticos no Lago Bolonha. Os resultados baseados no material genético recuperado diretamente de amostras ambientais mostraram que os filos mais abundantes foram Protobacteria, Actinobacteria, Firmicutes, Bacteroidetes e Cianobactéria.

“O estudo também usou uma abordagem dependente de cultivo, em que isolamos bactérias em meios de cultura suplementados com os antibióticos Cefotaxima e Imipenem. Estas estirpes foram identificadas molecularmente e analisadas ​​por seus perfis de suscetibilidade a antibióticos e presença de alguns genes de resistência”, conta a pesquisadora.

Os antibiogramas feitos no estudo mostraram que 94,9% e 85,7%, nas culturas com Cefotaxima e Imipenem, respectivamente, foram resistentes a múltiplas drogas. Além desses fármacos, os isolados se mostraram resistentes ao aztreonam (91,8%), amoxicilina (98,8%), ampicilina (82,6%) e ácido nalidíxico (77,5%). “Portanto o presente estudo demonstrou que o Lago Bolonha é um reservatório de bactérias resistentes a antibióticos e a genes de resistência, alguns dos quais são de importância crítica para a saúde humana”, revela Adriana Folador.

“Este projeto é de grande relevância para a região amazônica, pois seus dados contribuirão com o Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos do Brasil (PAN-BR)”, explica a pesquisadora. Este plano foi elaborado em convergência com os objetivos definidos pela aliança tripartite entre a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

A resistência aos antimicrobianos (AMR) é um dos maiores desafios para a saúde pública. “Embora o desenvolvimento da AMR seja um fenômeno natural dos microrganismos, verificamos uma maior pressão seletiva e disseminação. Isso ocorre por alguns fatores, como o mau uso de medicamentos antimicrobianos na saúde humana e animal; programas inadequados ou inexistentes de prevenção e controle de infecções; insuficiente regulamentação e fiscalização do uso dos medicamentos antimicrobianos”, aponta a cientista.

A 3ª paraense a receber o prêmio em 15 anos de programa

O estudo foi contemplado na categoria "Ciências da Vida", do Prêmio L'Oréal- Unesco-ABC para Mulheres na Ciência/2019. Adriana Folador afirma que o ganho maior foi a visibilidade e o reconhecimento, tanto para ela quanto para outras cientistas da Região Norte. “Aqui, na Amazônia, são poucas as mulheres que conseguem se destacar. Eu sou a terceira mulher no estado do Pará a receber este prêmio ao longo dos 15 anos de existência do programa. Eu não esperava ganhar. Quando recebi a ligação, nem acreditava. Foi uma notícia maravilhosa!”, celebra. “Os recursos recebidos com o prêmio manterão as minhas atividades de pesquisa”, acrescenta.

De acordo com Adriana Folador, ao longo dos anos, a incorporação da mulher à ciência vem aumentando e, em algumas áreas do conhecimento, é possível observar maior representatividade feminina na ocupação dos postos de trabalho. “Ainda assim, observamos que algumas mulheres precisam lidar com questões de assédio e os desafios da maternidade, por isso faz-se necessário uma mudança da cultura científica e, assim, poderemos acabar com essas desigualdades de gênero”, afirma.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Educação e da Revista Pesquisa Fapesp (edição Março/2020), as mulheres representam em torno de 55,2% dos alunos que ingressam no ensino superior e 61% dos que se graduam. Em 2017, elas representaram 54% dos doutores titulados. “Apesar de esses dados indicarem que há um equilíbrio de gêneros na ciência e que o Brasil vem avançando bastante nesta temática, é importante ressaltar que ainda precisamos diminuir as desigualdades de gênero quando observamos algumas carreiras dominadas por homens”, explica a professora.  

“Acredito que iniciativas como a da L’Oréal Brasil/Unesco Brasil e da Academia Brasileira de Ciências são imprescindíveis para motivar a transformação do panorama da ciência no país, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro e incentivando a entrada de jovens mulheres no universo científico”, finaliza.

Serviço

A L’Oréal Brasil acredita que a ciência é a chave para solucionar os enormes desafios do mundo atual e, para fazer isso, precisa de mulheres, por isso, desde 2006, em parceria com a Unesco Brasil e com a Academia Brasileira de Ciências, promove o Programa “Para Mulheres na Ciência”.

A cada ano, sete pesquisadoras de diversas áreas de atuação são contempladas com uma bolsa auxílio de R$ 50 mil. O prêmio distribuiu, até hoje, mais de R$ 4,2 milhões entre 96 cientistas promissoras, que receberam impulso para dar prosseguimento em seus estudos e incrementar o desenvolvimento da ciência no país.

O programa celebra a 15ª edição este ano e tem como motivação a transformação do ambiente científico, favorecendo a equidade de gêneros no cenário brasileiro e incentivando a entrada de jovens mulheres no universo científico.

Ed.156 - Set/Out/Nov de 2020

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