Resenha
O tráfico de drogas na Amazônia
Por Walter Pinto Foto Reprodução
Na introdução de seu livro, resultante do Doutorado em Relações Internacionais, João Cauby de Almeida Junior deixa explícita a gravidade e a atualidade do tema que o leitor encontrará nas 282 páginas seguintes: “o tema das drogas no Brasil ganhou proporções preocupantes. Disputas, confrontos e mortes em presídios e comunidades ocupadas do país representam somente a parte mais visível de uma ameaça que se fortalece em faixas de fronteira pouco assistidas pelo Estado brasileiro. Uma área geográfica do país, a Amazônia, desponta como motivo de inquietação nesse contexto (...)”.
O livro Integração interagências – O enfrentamento ao tráfico internacional de drogas na Amazônia setentrional brasileira aborda o problema das drogas na região, agravado pela partilha de uma extensa faixa de fronteira com outros sete países, abrangendo mais de cinco milhões de km². Apoiado em densa quantidade de fontes e referências, o autor sintetiza as atuações e as relações de agências e organismos institucionais no combate ao tráfico na Amazônia.
O estudo de João Cauby integra um projeto de formação de pessoal na área de Relações Internacionais na Amazônia Brasileira, compartilhado entre a Universidade de Brasília e a Universidade Federal do Pará. A tese foi orientada pelo cientista político Daniel Jatobá, do Instituto de Relações Internacionais da UnB. O pesquisador faz uma análise integrada das áreas de segurança e defesa, partindo do contexto internacional e abordando os aspectos relacionados à agenda de segurança e defesa do Brasil para a América do Sul, em contraponto à visão unilateral norte-americana.
No segundo capítulo, o autor discute as políticas de defesa interna e externa brasileiras, desde a primeira versão da Política de Defesa Nacional, de 1996. No capítulo seguinte, com base em uma reflexão conceitual sobre fronteira, Cauby oferece aos interessados no estudo do tráfico internacional de drogas um levantamento sistematizado de documentos, planos e programas de fronteiras. Entre as considerações acerca deste terceiro capítulo, afirma que o papel das Forças Armadas, neste contexto, precisa ser discutido na sociedade, que o desconhece em grande medida. Por fim, no quarto capítulo, o pesquisador analisa a inserção do narcotráfico no extremo norte da região, área ocupada pelos estados do Pará, do Amapá e de Roraima.
O autor ressalta que esses estados amazônicos se tornaram estratégicos para o tráfico internacional de drogas, com cidades incorporadas pelas redes ilegais servindo à economia do crime organizado, da produção à distribuição aos mercados consumidores. Tal situação, afirma o autor, decorre também da fragilidade das fronteiras da Amazônia com os países vizinhos. A face mais visível do problema nos três estados é o aumento das taxas de homicídios entre 2006 e 2016. Outra visibilidade dá-se por meio das violentas e constantes “rebeliões nos presídios, sob controle de facções criminosas ligadas ao narcotráfico”.
João Cauby enfatiza que, na Amazônia, a política de guerra às drogas passa ao largo da questão central, ao permitir que “verdadeiros chefes das organizações criminosas, vinculadas ao tráfico internacional, se mantenham bem distantes dos cárceres brasileiros, comandando seu lucrativo e bem organizado empreendimento, cujos tentáculos de atuação materializam-se em redes”.
Um novo agente surgiu mais recentemente neste contexto: os milicianos. Eles atuam em espaços de disputa com pequenos e médios traficantes. “Nos últimos anos, tornaram-se atores com relativos poderes nas zonas de mercancia de drogas”, chegando, inclusive, a atuar de forma consorciada com os traficantes. Integração Interagências é um livro que tende a se tornar uma referência na sua área de estudo ao sistematizar informações sobre o que se fez, o que se faz e o que pode ser feito em matéria de política pública no combate ao tráfico de drogas na Amazônia brasileira e internacional.
Serviço: Integração Interagências – O enfrentamento ao tráfico internacional de drogas na Amazônia setentrional brasileira. Autor: João Cauby de Almeida Júnior. Editora: NAEA. 282 páginas. À venda na Livraria do NAEA, Campus Guamá.
Beira do Rio edição 157
Redes Sociais