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Resenha

Publicado: Quarta, 12 de Maio de 2021, 17h08 | Última atualização em Quarta, 12 de Maio de 2021, 18h18 | Acessos: 781

Formação de trabalhadores/as na Amazônia: o desafio das universidades públicas

Por Jane Felipe Beltrão Foto Reprodução

O ano de 2020 foi desastroso para a educação superior no Brasil. Para a comunidade universitária, em função da pandemia da COVID-19, na Amazônia, não foi diferente. Entretanto os/as pesquisadores/as das universidades públicas resistem bravamente às mudanças e adaptações que fomos obrigados/as a realizar. O desafio alcançou a comunidade universitária e “feriu a ferro e a fogo” nossas tradições.

O lançamento de livros é uma das tradições mais caras às comunidades universitárias e constitui-se em momento de congraçamento, pois significa trabalho, colaboração e comunicação de resultado de investimento em ciência. Em 2020, os eventos que trouxeram a lume novos livros foram raros, realizados apenas em janeiro e fevereiro do referido ano. Inventamos os lançamentos virtuais, mas faltaram abraços e comensalidade.

O “não lançamento de livros” impõe a nós uma obrigação acadêmica de maior responsabilidade, resenhar os trabalhos de colegas para divulgá-los e garantir a circulação destes entre os/as interessados/as, compartilhando com o público leitor a crítica que alimenta a formação e o conhecimento dos problemas que consomem nossas preocupações intelectuais, tanto acadêmicas como orgânicas.

Por meio do Beira do Rio, jornal de divulgação científica, venho a público compartilhar com os/as leitores/as minhas observações sobre o livro Universidade e Trabalho no Brasil: a formação do trabalhador amazônida em foco, organizado por João Batista do Carmo Silva e Gilmar Pereira da Silva, que se reuniram a outros/as pesquisadores/as para discutir a formação de trabalhadores/as na Amazônia, sistematizando e problematizando a formação que fica entre a estrita observação de normas educacionais e a formação crítica necessária aos/às educadores/as para produzir conhecimentos e gerar tecnologias dentro do processo educacional, em busca de estabelecer relações que ampliem os efeitos sociais requeridos pela sociedade que deposita nas universidades públicas suas expectativas de transformação, como diz o prefaciador da obra. (Tourinho 2020:7).

Os Silva que diligentemente organizaram o livro buscaram problematizar o projeto de desenvolvimento que, ao ser “oferecido” à Amazônia, não nos consulta e desumanizadamente pensa/tenta impor o “pêndulo da regressão social”, como informa Frigotto (2020:15).

Na sequência, os Silva, com base em experiências de trabalho empírico e cotidiano, estruturado considerando a vivência dos/as pesquisadores/as que desenvolvem suas atividades nas Instituições de Ensino Superior tentam apresentar “os sentidos do trabalho”, considerando diversos momentos históricos, auxiliando sobremaneira a reflexão sobre o projeto de universidade pública adequada à Amazônia, projeto que exige do/a trabalhador/a constante engajamento. (2020: 13)

O engajamento, acima referido, é fundamental, pois “[n]o caso brasileiro, somos herdeiros de uma tradição política marcada por ditaduras e [sucessivos] golpes, cujo escopo é manter a estrutura de classe e de concentração de poder e renda. Não por acaso, somos uma das sociedades mais desiguais do mundo.” (Frigotto 2020: 15)

Percorrendo a obra, as preocupações políticas dos autores se fazem presentes discutindo temas fundamentais aos/às docentes e discentes em formação na Amazônia, pois urge se manifestar a respeito da educação frente ao mundo do trabalho e ao chamado “desenvolvimento” na Amazônia, que jamais pode olvidar os movimentos sociais como alternativas para a formação de trabalhadores/as  que considere, de maneira crítica,  a institucionalidade da ciência e da tecnologia dentro da proposta de universidade tecnológica.

O trabalho traz reflexões sobre a interiorização das universidades na Amazônia, que começa com nuances acentuadas de “colonialismo interno” nos anos setenta do século XX, com a implantação de campi universitários das universidades do sul e sudeste como áreas experimentais no Norte do país. Aos poucos, a Universidade Federal do Pará retomou os diversos campi e chamou a si a responsabilidade de interiorizar a maior universidade da Pan-Amazônia. No trabalho se apresenta a exitosa experiência do Campus do Tocantins/Cametá. O trabalho se encerra com a discussão sobre a qualificação de trabalhadores/as para o serviço público que tem como imperiosa tarefa atender os/as usuários/as e que  sustenta estruturas que devem estar a serviço da inclusão social.

Por último, considero extremamente importante a leitura do trabalho para conhecer os desafios e creio que os Silva, ao organizarem e incentivarem os/as colegas à reflexão, contribuíram para registrar o esforço e a dedicação daqueles/as que, no dia a dia, se desafiam ao trabalhar na/para a Amazônia. O livro é também uma contribuição à História da Educação na Amazônia.

Serviço: Universidade e Trabalho no Brasil: a formação do trabalhador amazônida em foco. Organizadores: João Batista do Carmo Silva e Gilmar Pereira da & Silva. Editora Appris. Nº de Páginas: 159. Venda no site da editora.  

Jane Felipe Beltrão – Professora titular da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nível 1B. E-mail: janebeltrao@gmail.com

Beira do Rio edição 158

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