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Resenha

Publicado: Terça, 25 de Maio de 2021, 23h34 | Última atualização em Terça, 25 de Maio de 2021, 23h34 | Acessos: 1326

Trabalho doméstico, gênero, comunicação e racismo estrutural no Brasil

Por Danila Cal e Rosaly de Seixas Brito Foto Reprodução

O livro Comunicação, Gênero e Trabalho Doméstico: das reiterações coloniais à invenção de outros possíveis, organizado por nós, nasce da motivação de pensar a trabalhadora doméstica e sua atividade como elementos que, de maneira exemplar, permitem investigar as desigualdades interseccionais (CARNEIRO, 2015), no entrecruzamento de discriminações de classe, gênero e raça.  Pode-se dizer que, ao focalizar o trabalho doméstico, buscamos compreender a própria sociedade brasileira, contribuindo para desvelá-la diante de si mesma.

O trabalho doméstico remunerado no Brasil evidencia, por um lado, o que chamamos de reiterações coloniais, ou seja, a atualização de uma lógica de dominação que remonta ao nosso passado escravagista e que fundou as bases do racismo estrutural, um dos pilares da desigualdade no país. Por outro lado, como aponta o subtítulo, é possível apontarmos horizontes de emancipação a partir, entre outros caminhos, da luta política das mulheres trabalhadoras, que levou à conquista de seus direitos trabalhistas, e dos feminismos negros. O livro pretende, por meio das chaves analíticas que traz na leitura desse fenômeno, provocar deslocamentos de olhares e tensionamentos capazes de incidir para transformar uma realidade com a qual já não é mais possível compactuar.

No que tange à Comunicação, campo de origem das organizadoras do livro e de vários pesquisadores que dele participam, interessa-nos pôr em relevo como a esfera midiática, dimensão simbólico-discursiva central na vida contemporânea, produz e faz circular, ampla e decisivamente, sentidos que, na maior parte das vezes, contribuem para reafirmar preconceitos e estigmas em torno do trabalho e das trabalhadoras domésticas.

Um marco recente nesse contexto é a aprovação da proposta de emenda constitucional que ficou conhecida como a “PEC das Domésticas”. Aprovada em 2013, após intensa luta dessa categoria de trabalhadoras pela equiparação dos direitos aos dos demais trabalhadores, deu origem à Emenda Constitucional nº 72/2013 e à Lei Complementar nº 150/2015. As discussões públicas em torno desse processo mostraram os resquícios coloniais nos tensionamentos sobre o lugar da trabalhadora doméstica na família empregadora e, de forma clara, o conflito entre a garantia de direitos para essa categoria e a vontade de manutenção de privilégios, por parte tanto da classe média quanto das elites econômicas brasileiras. Por outro lado, é extremamente revelador que o trabalho doméstico só tenha sido regulamentado 70 anos depois da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de 1943, hiato temporal que fala por si só.

Analisar as teias simbólicas e sociais das relações de poder que enredam trabalhadoras domésticas é o objetivo da pesquisa “Mídia, debate público e negociação de sentidos sobre o trabalho doméstico”(*), na qual estamos atuando desde 2017, com financiamento pelo Edital Universal 2016 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Antes dela, desenvolvemos uma trajetória de pesquisa sobre trabalho infantil doméstico (CAL, 2016; 2007) e sobre juventudes e subalternidades (BRITO, 2014).

É com base nesta pesquisa que este livro se organiza. Embora seja uma coletânea, reunindo pesquisadores com diferentes olhares na investigação da temática, os capítulos interagem e complementam-se, oferecendo uma lente complexa que problematiza o trabalho doméstico como eixo explicativo da nossa realidade social. Esse olhar é construído por meio das pesquisas realizadas por pesquisadoras e pesquisadores que integram o projeto, por convidados da área de Antropologia e da Comunicação e por trabalhadoras e ex-trabalhadoras domésticas.

No total, são 14 capítulos, divididos em duas partes: a primeira, “Sob o véu das opressões interseccionais”, apresenta chaves analíticas que permitem compreender o trabalho doméstico e a condição de vulnerabilidade interseccional das trabalhadoras, a partir de marcadores de raça, gênero e classe. A segunda parte, “Trabalhadoras Domésticas em Cena”, compõe-se de capítulos que discutem o trabalho doméstico desde diferentes olhares e em distintas ambiências comunicacionais. Além disso, são discutidas também as relações entre trabalho doméstico e pandemia e são apresentadas perspectivas futuras desse tipo de trabalho.

Serviço: Comunicação, Gênero e Trabalho Doméstico: das reiterações coloniais à invenção de outros possíveis. Org. Danila Cal e Rosaly de Seixas Brito. Link para download gratuito do livro: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/handle/prefix/904

(*) Processo CNPq: 429074/2016-6. A pesquisa é coordenada pela professora Danila Cal, enquanto a professora Rosaly Brito integra a equipe do projeto, desenvolvido no âmbito da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia, da Universidade Federal do Pará.

Referências

BRITO, Rosaly de Seixas. Diferentes, desiguais e conectados (?) Vivências juvenis, representações midiáticas e negociação de sentidos na cena metropolitana. 2014. 251f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais/Antropologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará, Belém, 2014. Disponível em

https://www.academia.edu/32428017/PDF_TESE_FINAL_VERS%C3%83O_CAPA_DURA_pdf?auto=download . Acesso em 10 out. 2020.

CAL, Danila. Comunicação e Trabalho Infantil Doméstico: política, poder, resistências. Salvador: Edufba/Compós, 2016. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/19357>. Acesso em: 15 jul. 2020.

CAL, Danila. Entre o privado e o público: contextos comunicativos, deliberação e trabalho infantil doméstico. 2007. 152f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) -  Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

CARNEIRO, Sueli. Apresentação. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze. Saberes subalternos e decolonialidade: os sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil. Brasília: Editora da UnB, 2015, p. 7-12.

 Beira do Rio edição 158

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