Em Barcarena, o perigo mora ao lado
Plano emergencial padroniza ações em caso de acidentes em mineradoras
Por Matheus Luz Ilustração CMP
O município de Barcarena (PA) possui um grande complexo industrial portuário e é reconhecido por sua atividade mineradora. Entre as atividades, a extração do caulim, minério utilizado na fabricação de produtos como papéis, tintas e cerâmicas, é uma das principais. No entanto, entre 2004 e 2016, foram registrados nove acidentes com caulim na região, e os impactos incluem problemas socioambientais que atingem diretamente a vida da população local e trazem diversos prejuízos à natureza.
Neste contexto, o pesquisador Márcio dos Santos Avelar defendeu a dissertação intitulada Vulnerabilidade e percepção de risco de acidentes com barragens de Caulim em Barcarena, defendida no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Risco e Desastre na Amazônia (PPGGRD/IG) da UFPA, sob orientação da professora Milena Marília Nogueira de Andrade. A pesquisa baseia-se no Plano de Ação e Emergência já existente no município e analisa os possíveis impactos que podem ser ocasionados aos moradores da região, sobretudo os ribeirinhos, que cotidianamente utilizam os recursos hídricos locais.
A metodologia do trabalho incluiu pesquisa bibliográfica e atividades de campo em dois bairros do município. Em maio de 2018, foram realizadas 143 entrevistas: 73 no Bairro Industrial e 70 na Vila do Conde. Das 20 perguntas no questionário, 10 eram relacionadas a aspectos socioeconômicos; e as outras 10, à percepção de risco dos moradores. Os dados foram analisados estatisticamente, e, como produto da dissertação, foi desenvolvido um plano emergencial para rompimento de barragens e vazamentos de rejeitos de caulim em Barcarena, visando padronizar os procedimentos operacionais em eventuais acidentes com barragens.
Bairro Industrial e Vila do Conde estão na rota de maior impacto
Entre os principais impactos de um possível rompimento de barragem de caulim em Barcarena, Márcio Avelar destaca o impacto direto da onda e da inundação que atingiria o Bairro Industrial e a Vila do Conde, além da contaminação do solo e dos corpos d'água pelos rejeitos.
“O período do ‘inverno amazônico’ aumenta o perigo de acidentes com barragens, considerando não apenas o rompimento, que é o estado mais grave, mas também o transbordo delas, bem como potencializa a amplitude desses acidentes. Mas é importante notar que a maioria desses desastres envolvendo vazamento de caulim em Barcarena ocorreu fora do período chuvoso”, pontua o pesquisador.
Márcio Avelar ressalta alguns dos elementos que caracterizam a vulnerabilidade da população que vive próximo às barragens, destacando essa proximidade como um dos principais fatores de risco. Além disso, o pesquisador também elenca: “a falta de conhecimento sobre uma rota de fuga para chegar a um ponto de encontro seguro, a baixa escolaridade, a baixa renda, a falta de oportunidade de deslocamento para outras áreas, o elevado número de crianças no Bairro Industrial e o elevado número de idosos em Vila do Conde”.
Pensando em ações efetivas no caso de acidentes com barragens, o plano emergencial do pesquisador estabelece os procedimentos a serem adotados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Barcarena e por demais órgãos envolvidos na resposta a emergências e desastres. O objetivo do plano é padronizar os procedimentos (prevenção, alerta, alarme e resposta), incluindo o auxílio à população, e visa reduzir danos e prejuízos gerados pelo desastre, além de sensibilizar a população sobre a importância de treinamentos que podem garantir a sua segurança nessas situações.
“A proposta do plano emergencial foi apresentada à Defesa Civil durante a sua elaboração. Ela deveria integrar o plano de contingência do município”, explica Márcio Avelar. O pesquisador cita outras medidas de prevenção que poderiam ser tomadas pelo poder público, como a retirada das famílias de regiões muito próximas à barragem, impedindo novas ocupações na área, a realização de audiências públicas para informar sobre os riscos dessas ocupações. Além disso, Avelar ressalta que as simulações de acidentes são importantes para que os moradores possam conhecer os procedimentos e as rotas de fuga em caso de eles acontecerem.
Beira do Rio edição 159
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