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O risco da Covid-19 para pacientes com imunodeficiências primárias

Publicado: Segunda, 26 de Julho de 2021, 12h38 | Última atualização em Segunda, 26 de Julho de 2021, 12h38 | Acessos: 1612

Protocolo de triagem garante atendimento adequado e evita formas graves

imagem sem descrição.

Por Adrielly Araújo Foto CMP

As imunodeficiências primárias (IDPs) são defeitos genéticos inatos que afetam o funcionamento do sistema imune, ou seja, desenvolvem um sistema imune incapaz de eliminar infecções de maneira correta. Essas doenças costumavam ser consideradas condições raras, mas, hoje, sabemos que a sua prevalência na população mundial é bem mais alta do que se acreditava, afetando cerca de uma a cada 1.000 pessoas.

No contexto de pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, pessoas com IDP se enquadram no grupo de alto risco, possuindo maiores chances de desenvolver formas críticas da Covid-19 e, consequentemente, maior probabilidade de necessitar de hospitalização e tratamento intensivo.

Essas são informações que direcionaram Karita Lorena França Almeida em seu estudo Imunodeficiências primárias como principais atores no contexto da covid-19: sugestão de protocolo para triagem de IDP na população, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Análises Clínicas, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA), orientado pelo professor Eduardo José Melo dos Santos.

O objetivo da pesquisa foi demonstrar a relevância de imunodeficiências primárias (IDP) no prognóstico da Covid-19 e a sugestão de um protocolo que possa ser utilizado na triagem da população, visando à detecção dessas imunodeficiências.

“Acreditamos que a detecção da IDP seja de extrema importância, uma vez que ela pode representar um fator de risco para o desenvolvimento da forma grave da Covid-19, além de afetar a resposta desses indivíduos à vacina”, explica a biomédica.

Durante a revisão bibliográfica, Karita Almeida procurou por evidências da relação entre as imunodeficiências primárias (IDPs) e a evolução para a forma grave da Covid-19. “Surpreendentemente, vimos que vários genes envolvidos na etiologia das IDPs se encontram em regiões que recentemente foram consideradas importantes no desenvolvimento de severidade na doença causada pelo SARS-CoV-2, culminando na urgência do estudo”, afirma.

O segundo momento da pesquisa consistiu na adaptação de um algoritmo pré-existente para a detecção das imunodeficiências primárias em indivíduos. Foram adicionados uma pesquisa para detecção de mutações nos genes e um questionário desenvolvido a partir do estudo Os 10 sinais de alerta para IDPs em crianças e adultos, da Jeffrey Modell Foundation Medical Advisory Board, identificando, ao mesmo tempo, as mutações relevantes tanto para a Covid-19 quanto para as IDP.

Testes para Covid-19 não são adequados para pacientes IDP

Sobre as dificuldades do diagnóstico da imunodeficiência primária (IDP) demonstradas na pesquisa, esta reportagem entrevistou uma pessoa que preferiu não se identificar para evitar estigma ou preconceito. O entrevistado, de 54 anos de idade e funcionário público, conta que a IDP é frequentemente confundida com a imunodeficiência secundária, aquela causada por outra doença, como câncer, hepatite ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDs), por exemplo.

“Só depois de descartar qualquer outra doença é que se fecha o diagnóstico em IDP. Então, a dificuldade está nesse descarte. Foram muitos exames até o médico solicitar a dosagem de imunoglobulina e comprovar que era IDP, provavelmente de origem genética”, relatou nosso entrevistado.

A respeito da Covid-19, o funcionário público explica que alguém com IDP não pode garantir se teve ou não a doença, pois os exames desenvolvidos para esses pacientes, até o momento, não são confiáveis. “A dosagem de imunoglobulina utilizada nos testes para o coronavírus já é deficiente em paciente com IDP”, alerta. Para a identificação desse grupo, mais propício a desenvolver formas graves da Covid-19, o protocolo sugerido na pesquisa facilita o diagnóstico e será ferramenta indispensável na prática clínica.  

O protocolo de triagem é um algoritmo que direciona os profissionais da saúde na investigação para a detecção das imunodeficiências primárias (IDP). “Ele é constituído por diferentes etapas investigativas, que vão desde uma entrevista com o paciente para detecção de sinais e sintomas das IDP, histórico familiar, até testes laboratoriais específicos para a análise do sistema imune do paciente”, explica a biomédica Karita França Almeida.

De acordo com a pesquisa, os portadores de IDP também estão mais propensos a desenvolver reações adversas diante da aplicação de alguns imunizantes, como aquelas que usam vetores patogênicos ou o vírus SARS-CoV-2. Isso acentua a importância da identificação dos portadores de IDP para orientação do diagnóstico, da terapia e do controle da pandemia.

“O próximo passo do nosso grupo de pesquisa é enviar a sugestão desse protocolo em forma de nota técnica para as autoridades competentes. Assim ele ultrapassará os muros da Universidade e cumprirá seu fim, como ferramenta para os profissionais da saúde do país”, conclui.

BOX 1 - 10 sinais de alerta para IDP 

Em crianças

Em adultos

Quatro ou mais infecções no ouvido em um ano

Duas ou mais infecções no ouvido em um ano

Duas ou mais infecções graves causando sinusite em um ano

Duas ou mais infecções graves causando sinusite em um ano, na ausência de alergia

Dois ou mais meses de antibioticoterapia com pouco efeito

Um ou mais casos de pneumonia por ano ou por mais de um ano

Dois ou mais casos de pneumonias em um ano

Diarreia crônica com perda de peso

Deficiência no ganho de peso ou crescimento

Doenças virais recorrentes (gripes, herpes, verrugas, condiloma)

Abcessos recorrentes na pele ou nos órgãos

Necessidade recorrente de antibióticos endovenosos para debelar infecções

Persistência de candidíase oral ou micoses na pele

Abcessos recorrentes na pele ou nos órgãos

Necessidade de antibióticos endovenosos para debelar infecções

Persistência de candidíase oral ou micoses na pele ou em outros lugares

Duas ou mais infecções profundas, incluindo septicemia

Infecção com bactérias oportunistas do grupo das microbactérias

Histórico familiar de IDP

Histórico familiar de IDP

Fonte: Karita Almeida, 2021.

Beira do Rio edição 159

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