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Assertividade e comportamento

Publicado: Sexta, 13 de Agosto de 2021, 17h48 | Última atualização em Sexta, 13 de Agosto de 2021, 17h48 | Acessos: 1958

Experimento avalia respostas assertivas de mulheres perante diferentes interações em um relacionamento

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Por Matheus Luz Foto Acervo da Pesquisa

As interações humanas são cercadas de complexidades, muitas vezes moldadas em diferentes contextos e situações. A análise do comportamento observa padrões de comportamento que podem ser divididos em três principais categorias: agressivos, assertivos e passivos. Em síntese, enquanto os comportamentos agressivos e passivos representam dois extremos, o comportamento assertivo significa considerar a opinião do outro e expressar a sua própria opinião ou sentimento, sem desrespeitá-lo, podendo inclusive propor uma resolução para determinada situação ou conflito.

A psicóloga Roberta Coutinho Proença visualizou em seus atendimentos as dificuldades das mulheres na comunicação em seus relacionamentos amorosos, comumente adotando um comportamento passivo. Por esse motivo, a pesquisadora realizou um experimento que teve como objetivo ensinar comportamentos assertivos para mulheres em relacionamentos heterossexuais.

Os resultados do experimento estão presentes na dissertação Efeitos de justificativas sobre a aquisição de respostas assertivas, orientada pela professora Carla Cristina Paiva Paracampo, com coorientação da professora Regina Célia Gomes de Sousa. O trabalho foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Comportamento (PPGNC) do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento (NTPC), da UFPA, e foi parcialmente financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“O ensino se dava por meio de regras que descreviam o que era assertividade e de justificativas, que são motivos ou razões para seguir a regra. Assim, apresentamos as definições de assertividade, vantagens e desvantagens desse tipo de comunicação, justificativas que descreviam motivos para ser assertiva dentro do relacionamento, por meio de uma cartilha, de um vídeo e da história de uma mulher que deixava de apresentar respostas passivas e passava a se comunicar de maneira assertiva, melhorando o seu relacionamento. Depois dessas apresentações, verificamos se isso causou algum tipo de mudança nas respostas das participantes”, explica a pesquisadora.

Voluntárias eram jovens e mantinham relacionamentos de até três anos e 11 meses

A metodologia do experimento foi desenvolvida em três etapas: o pré-teste, a exposição a justificativas dos tipos 1 e 5 e o pós-teste. Participaram voluntariamente 36 mulheres heterossexuais, adultas, com ensino fundamental completo, com idade entre 19 e 30 anos, comprometidas (namorando ou casadas) com outra pessoa no mínimo há um ano e no máximo há três anos e 11 meses.

No pré-teste, as participantes respondiam a um questionário com perguntas pessoais (idade, estado civil, tempo de relacionamento etc.) e, em seguida, assistiam a três vídeos de interações entre casais heterossexuais que apresentavam situações de: recusar pedidos de familiares, lidar com críticas à aparência e pedir mudança de comportamento quando o outro era rude, respectivamente. Cada vídeo durava menos de um minuto e era pausado antes do desfecho, momento no qual era questionado às participantes o que elas fariam naquela situação.

Após a exibição, as voluntárias participavam de três simulações de interações entre um casal, com os mesmos contextos dos vídeos, nas quais as mulheres deveriam responder da mesma maneira que responderiam a seus parceiros. Ao final desta etapa, as mulheres respondiam a um inventário de habilidades assertivas que seria corrigido e pontuado de acordo com os níveis de assertividade das respostas escolhidas.

Com base na pontuação, as mulheres foram divididas aleatoriamente em dois grupos: Grupo Intervenção e Grupo Controle. Na segunda etapa, ao grupo intervenção, eram apresentadas as justificativas do tipo 1 e do tipo 5, por meio de uma cartilha, um texto e de um vídeo, e eram feitas perguntas sobre tal material. As justificativas do tipo 1 descrevem as consequências de seguir regras, enquanto as do tipo 5 descrevem aspectos que a pessoa que está ouvindo a regra deve observar e levar em consideração. O grupo controle não foi exposto ao material, sendo realizada somente a leitura de três poemas que não tratavam do tema assertividade nem relacionamento amoroso.

A última etapa, o pós-teste, teve como objetivo comparar e analisar o comportamento das participantes antes e depois do experimento. Por isso as voluntárias passaram novamente pelos procedimentos do pré-teste: a exibição dos vídeos (com novos contextos, mas com a mesma classe de comportamentos), as simulações e o preenchimento do inventário de assertividade.

A pesquisadora explica que a divisão dos grupos foi feita para facilitar a visualização do efeito das regras e justificativas durante a análise dos dados e das variáveis. "Com dois grupos, poderíamos analisar os resultados em conjunto de mulheres que foram expostas à intervenção e de mulheres que não foram expostas. Se houvesse diferenças entre os grupos, aumentaria a probabilidade de a mudança ter ocorrido devido à exposição às regras e justificativas", explica Roberta Proença.

Resultados mostram mudança de comportamento

Os principais resultados quantitativos obtidos com o experimento mostram que sete das 18 participantes do grupo intervenção aumentaram a emissão de respostas assertivas, um aumento entre 31,77% e 59,72%. Já no grupo controle, também houve um aumento de sete participantes, mas entre 1,57% e 26,38% de respostas. Nesse sentido, Roberta Proença avalia que algumas variáveis podem ter interferido nos resultados do grupo controle, como a exposição prévia ao pré-teste em que já discutiam respostas assertivas. “Ainda consideramos que as justificativas foram eficazes nesse aumento significativo nas mulheres do grupo intervenção, foi possível observar mulheres que saíram de 18% e foram para 79% de respostas assertivas”, pontua a pesquisadora.

Apesar de o caráter central da pesquisa ser de viés quantitativo, a psicóloga destaca a observação do resultado qualitativo do experimento. Ao final da aplicação do pós-teste, a pesquisadora conta que as mulheres demonstraram como gostaram do aprendizado sobre assertividade, inclusive já utilizando o comportamento na comunicação com seus parceiros. Além disso, até mesmo as mulheres que não demonstraram aumento quantitativo no teste reconheceram a importância de aprender sobre o tema e solicitaram indicações para terapia.

A pesquisadora avalia os resultados obtidos com seu experimento como uma ferramenta que traz uma nova abordagem para terapeutas e pesquisadores. Roberta chama atenção para a importância de múltiplas ferramentas capazes de atender à complexidade de cada indivíduo. A psicóloga ainda destaca a necessidade de aprimorar e expandir seu estudo, visando englobar outros tipos de público, como mulheres lésbicas, mulheres com tempos diferentes de relacionamento, solteiras, com filhos, entre outras, para poder oferecer um instrumento refinado para a aplicação dos profissionais da área.

Beira do Rio edição 159

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