Ir às compras com mais autonomia
Protótipo deve auxiliar rotina de pessoas com deficiência visual
Por Adrielly Araújo Foto Acervo da Pesquisa
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, havia cerca de 40 milhões de pessoas cegas no mundo. No Brasil, esse número chega a 1,5 milhão, segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Tais dados ressaltam a necessidade de tecnologias que atendam às pessoas com essa deficiência, como garante o artigo 2° da Lei n° 7.853, instalada no Brasil em 1989, que assegura, em todas as áreas sociais, a integridade da pessoa com deficiência.
Com esse propósito, o pesquisador Andrei Luiz Demétrio e Silva desenvolveu uma ferramenta capaz de auxiliar a pessoa com deficiência visual a realizar tarefas de seleção (compras), disponibilizando, por áudio, informações referentes aos produtos. A dissertação intitulada Proposta e avaliação de um sistema assistivo para auxílio da pessoa com deficiência visual na seleção de produtos foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada, no Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia, Campus Tucuruí/UFPA, com orientação do professor Heleno Fülber e coorientado pelo professor Bruno Merlin.
Na dissertação, Andrei Silva lista o passo a passo para o desenvolvimento da ferramenta e explica que uniu conceitos de outros trabalhos na área de tecnologias assistivas para, fundamentado neles, construir o protótipo. “Esses conhecimentos foram agrupados e criamos um modelo de como o sistema iria funcionar. Com base nessa amostra, definimos a arquitetura do protótipo. Em seguida, elaboramos uma ficha de avaliação para testar e verificar a eficácia do sistema junto aos usuários”, revela o autor.
Sistema converte em áudio informações sobre os produtos
O leitor, colocado na mão do usuário, faz a leitura do código de barras armazenado em uma etiqueta especial, chamada de Tag NFC (Near Field Communication ou Comunicação de Campo Próximo). Então, há uma consulta ao servidor do supermercado que verifica à qual produto pertence o código lido, converte as informações em áudio e envia ao dispositivo, que reproduzirá para a pessoa cega. “Tudo ocorre de maneira rápida, dando ao usuário a percepção de que as informações estão armazenadas no próprio dispositivo”, explica Andrei Luiz Demetrio e Silva.
“O protótipo utiliza um microcontrolador (espécie de computador em miniatura), uma placa de wireless (componente que possibilita a troca de informações sem fio e a conexão em rede), uma placa de áudio com conector do tipo p2 para a utilização de fones de ouvido, um leitor de RFID para realizar a leitura das etiquetas com a tecnologia Tag NFC e uma bateria para manter o sistema funcionando”, descreve Andrei.
Para o estudo de caso, foram selecionadas 10 pessoas: cinco com deficiência visual e cinco sem deficiência. Estas realizaram os testes vendadas, simulando deficiência recém-adquirida. “Os testes foram realizados em um supermercado, no qual foi escolhida uma prateleira de biscoitos (em virtude da semelhança tátil). Cada participante buscou quatro itens dessa prateleira (de forma aleatória). Em seguida, registrou-se: o tempo desse procedimento, se o produto correspondeu ao que foi solicitado e se o participante desistiu da sua busca pelo item”, conta o autor da dissertação.
Os resultados alcançados foram classificados como “bem satisfatórios”, tendo em vista que quase 100% das pessoas submetidas ao experimento conseguiram fazer as compras sem problemas. Após o teste de compras, aplicou-se um questionário de avaliação social e usabilidade para coletar impressões referentes à experiência, sendo classificada como “boa” ou “excelente” por todos os participantes.
Para o futuro, Andrei Luiz Demetrio e Silva espera que a ferramenta possa ser vista com ‘bons olhos’ por indústrias e empresas, produzida em larga escala e acessível às pessoas. “No momento, não estou trabalhando em algo novo para o protótipo, mas, no futuro, gostaria de interligá-lo a uma Smart House (casa inteligente) para tornar esse conceito acessível às pessoas com deficiência visual”, conclui.
Beira do Rio edição 160
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