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Meninas na Ciência

Publicado: Sexta, 25 de Fevereiro de 2022, 14h00 | Última atualização em Sexta, 25 de Fevereiro de 2022, 17h18 | Acessos: 1174

Por trás dos 30%: o uso do Instagram por candidatas mulheres

#ParaTodosVerem Fotografia mostra uma mulher negra, jovem, de cabelos castanhos e olhos pretos. Ela está sorrindo para nós. Veste calça na cor preta e blusa na cor bege. Usa óculos e colar colorido. Está com as costas apoiadas em uma parede ilustrada com grafite que retrata uma jovem negra.
#ParaTodosVerem Fotografia mostra uma mulher negra, jovem, de cabelos castanhos e olhos pretos. Ela está sorrindo para nós. Veste calça na cor preta e blusa na cor bege. Usa óculos e colar colorido. Está com as costas apoiadas em uma parede ilustrada com grafite que retrata uma jovem negra.

Por Antonia Ribeiro, especial para o Beira do Rio Foto Alexandre de Moraes

O voto é um dos principais meios para exercer a democracia. Numa época na qual a tecnologia tem influenciado as decisões políticas, fica claro que estar nas redes sociais para promover sua própria candidatura é essencial.  De acordo com pesquisa do Instituto DataSenado (2019), nas eleições de 2018, 45% da população decidiu seu voto levando em consideração informações compartilhadas nesse tipo de mídia.

Contudo, apesar de serem propulsoras, as mídias digitais ainda não são tão utilizadas pelas mulheres paraenses em suas campanhas, principalmente as candidatas à Câmara Municipal de Belém, como observou a estudante de Direito da UFPA, Cristiane Gonçalves, que participou do Programa de Iniciação Científica, por meio do Pibic Voluntário. A pesquisa intitulada Representação, raça e gênero: análise das campanhas de candidatas nas mídias digitais analisou as campanhas eleitorais das candidatas, observando a veiculação de propostas voltadas às mulheres, sobretudo as mulheres negras.

Além disso, a pesquisa orientada por Danila Cal, docente do Instituto de Letras e Comunicação (ILC), criou um banco de dados baseado nas informações disponibilizadas na plataforma digital do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre as candidaturas deferidas: dados socioeconômicos, prestações de contas, redes sociais e quantidade de votos que as pleiteantes tiveram. Também foram incluídos dados coletados sobre a utilização das mídias digitais por essas candidatas.

Em trabalho conjunto com a professora Danila Cal e a doutoranda Nathália Kawhage (PPGCOM/UFPA), Cristiane Gonçalves fez um recorte para pesquisar, de modo qualitativo, o uso do Instagram pelas candidatas eleitas no último pleito municipal. Foram selecionadas as postagens que elas fizeram no feed do Instagram durante os últimos 15 dias de campanha eleitoral.

Resultados e utilização do Instagram pelas candidatas eleitas

De acordo com dados da pesquisa, o número de mulheres candidatas era duas vezes menor que o de homens. As candidaturas femininas correspondiam a apenas 30,9% do total. Cristiane também relata que esse dado foi recorrente tanto em partidos de esquerda quanto em partidos de direita. Os únicos partidos que tiveram resultados diferentes foram o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e Unidade Popular (UP), que apresentaram mais candidaturas femininas. "Diante disso, concluímos que a maioria das candidaturas só foi lançada para cumprir a cota de 30% fixada pela Lei nº 9.504/1997, não havendo, portanto, real interesse dos partidos nessas candidaturas", avalia Cristiane Gonçalves.

Sobre o perfil socioeconômico das candidatas aptas, a maioria tinha o ensino médio completo e 43% possuíam ensino superior. Quanto à identificação de raça, 53,3% eram candidatas autodeclaradas pardas; 17,8%, pretas; 25,7%, brancas; 2,9% não informaram cor/raça e apenas uma mulher indígena era candidata à vereança.

Quanto ao uso do Facebook e do Instagram, 70 candidatas não tiveram nenhum perfil identificado e 41 não fizeram menção à campanha em suas redes sociais. 115 mulheres utilizaram as duas redes sociais para divulgar sua campanha e oito candidatas utilizavam ao menos uma rede social para fazer campanha para outro candidato, sem mencionar a sua. Dos demais perfis, 65 faziam campanha apenas no Facebook; e 22, apenas no Instagram.

“O Instagram, com os seus recursos imagéticos, se torna uma ótima ferramenta para gerenciar a imagem pública das candidatas, que, ao compartilharem momentos privados, por exemplo, proporcionam uma maior identificação do eleitorado com a sua candidatura”, observa a estudante sobre a escolha do Instagram como ambiência para a pesquisa.

Sobre as postagens analisadas, as candidatas alinhadas à esquerda foram as que mais publicaram no período analisado e também as que apresentaram propostas exclusivamente para as mulheres e para a população negra. Um dado comum entre todas as vereadoras estudadas é a presença de uma figura masculina na campanha eleitoral, o que reforça os estereótipos de gênero na cultura política: a aceitação e a legitimação da campanha eleitoral feminina estão condicionadas à conexão prévia com um homem político. “A continuação da pesquisa buscará compreender como os marcados de raça, classe e gênero estão imbricados nesse processo de recrutamento e campanha eleitoral", finaliza a pesquisadora.

Sobre a Cristiane: Tem 22 anos e é graduanda em Direito. “Pretendo atuar na advocacia popular e orientar juridicamente candidatas(os) negras(os) no processo eleitoral. Além disso, almejo ingressar na pós-graduação e continuar com os estudos sobre a participação de grupos marginalizados na política formal”, fala sobre a carreira.  Quando não está trabalhando na pesquisa, costuma tocar instrumentos de cordas (violão, contrabaixo e guitarra), assiste a séries e lê principalmente os clássicos da Literatura brasileira. No momento, a jovem pesquisadora se dedica à obra de Carolina Maria de Jesus. Um conselho para quem está começando: “Conhecer o seu campo de interesse, baseada em observações, leituras, conversas com quem já estuda sobre o tema. É um processo sensorial até a delimitação/construção do objeto de pesquisa”.

Sobre a pesquisa: Este estudo foi apresentado no XXXII Seminário de Iniciação Científica da UFPA, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), e agraciado com o Prêmio Horacio Schneider Destaque na Iniciação Científica da UFPA (edição 2021). Orientação: professora Danila Gentil Rodrigez Cal Lage (Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia – ILC/UFPA). Financiamento: Pivic/UFPA

Beira do Rio edição 161

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