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Opinião

Publicado: Terça, 15 de Março de 2022, 17h55 | Última atualização em Quinta, 31 de Março de 2022, 19h55 | Acessos: 2481

Quilombolas: Identidade e resistência

Por Elanne Natividade Odorizzi Foto Acervo Pessoal

A pesquisa que originou o estudo sobre as dimensões da identidade de resistência em território quilombola surgiu dos meus questionamentos e das curiosidades sobre o processo de desconstrução do modo de vida das populações tradicionais no Pará. Com o propósito de desvelar esse processo, foi pensada e executada a pesquisa intitulada Culturas e Memórias na Comunidade Nossa Senhora das Graças em Moju-PA: identidades e resistências.

O estudo foi apresentado como dissertação no Programa de Pós-Graduação em Cidades: Territórios e Identidades (PPGCITI), sob orientação do professor Dedival Brandão da Silva, tendo como propósito identificar aquela cultura de resistência, avaliando suas dimensões políticas e simbólicas, para dar resposta ao seguinte questionamento: Como se constituem os processos das relações sociais no âmbito da cultura quilombola local capazes de informar um discurso de resistência?

Parto de uma abordagem etnográfica, de cunho qualitativo, por meio da qual foi possível entender como tais relações sociais são construídas no cotidiano marcado de tensões, questionamentos, posicionamentos políticos que se refletem tanto nas representações como na realidade local vivida e têm, na tradição cultural e no território, os elementos fundamentais da resistência.

A pesquisa demonstrou que, em sua reprodução social como grupo tradicional, a comunidade experimenta um dilema existencial permanente ao dialogar com a sociedade envolvente, orientada pela dinâmica da sociedade de consumo. Sozinho e predestinado a viver enfrentamentos constantes com os mecanismos de poder, o grupo busca encontrar uma saída para si diante da carência de uma política de Estado que revigore as culturas de seu corpo social e de seus interesses como sociedade tradicional.

Um aspecto importante tratado na pesquisa diz respeito à memória. Esta é analisada para mostrar a maneira como a memória emoldura a tradição quilombola, mediada pelos seus saberes e por suas relações com outros espaços, como a relação campo-cidade, que vai além de limites territoriais, transgride a concepção de cultura fechada e reforça a concepção de uma cultura em movimento e que, no processo de resistência, se reinventa de acordo com interesses da própria comunidade.

Devo observar que as representações dos discursos de resistência convergem para a construção de um imaginário sobre a prática de dominação, cujo discurso é composto por enfrentamentos políticos, afirmação da identidade individual, social ou étnica e pela luta por territorialização.

Segundo a pesquisa, a comunidade é reconhecida e respeitada por sua posição política de não aceitar passivamente a dominação, de reivindicar direitos irrevogáveis como a permanência no território, os direitos à educação e às ações afirmativas, todos fundamentados em traços étnicos amparados na tradição.

Os resultados da investigação revelaram que existem diferentes formas de resistência diante da invasão dos projetos agroindustriais e da interação campo-cidade. Nesse sentido, a comunidade reage fortalecendo sua tradição com ações de conscientização e cuidado com o território, tratando-o como um espaço de reprodução cultural. A organização coletiva e a participação política buscam reforçar a identidade étnica local caracterizada como remanescentes quilombolas.

O recente noticiário das emissoras de televisão da capital sobre a tensão existente na região do Acará, envolvendo a reivindicação de territorialidade entre a comunidade quilombola Nossa Senhora da Batalha e a empresa Agropalma, reforça a atualidade da temática e a importância social da pesquisa.

Elanne Natividade Odorizzi - É graduada em História (UFPA) e mestre em Cidades, Territórios e Identidades (PGCITI/UFPA). Áreas de atuação: docência, gestão escolar e laboratório de Informática. E-mail: ennale@hotmail.com

Beira do Rio edição 162

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