Videomodelação com bons resultados
Ferramenta amplia habilidades de crianças diagnosticadas com TEA
Por Bruno Roberto Fotos Acervo da Pesquisa
As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam dificuldade em realizar atividades cotidianas, como tomar banho e escovar os dentes. Isso impacta a qualidade de vida e a integração delas na sociedade. Dessa forma, são necessários métodos e ferramentas que auxiliem os indivíduos com TEA a desenvolverem habilidades para o dia a dia e treinamento para os profissionais que atuam com essas crianças.
Diante dessa necessidade, a terapeuta ocupacional Mariane Sarmento da Silva Guimarães analisou os efeitos da videomodelação (VM) na tese Videomodelação como ferramenta para treino de profissionais e ensino a crianças com Transtorno do Espectro Autista, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento (PPGTPC/NTPC), da Universidade Federal do Pará, com orientação do professor Romariz da Silva Barros.
A videomodelação consiste no aprendizado de habilidades por meio de um vídeo. Nele, uma pessoa (modelo) executa um comportamento para o aprendiz observar e tentar reproduzi-lo. Esse recurso é justificado para o ensino de crianças com TEA tendo em vista que, segundo a pesquisa, elas demonstram uma preferência por estímulos visuais em comparação aos auditivos. Vale ressaltar que, com recursos de edição de vídeo, é possível retirar os estímulos do ambiente, que podem distrair a criança, focando no essencial.
Contudo, de acordo com a pesquisa, estudos sobre a videomodelação divergem sobre a sua efetividade. Assim a autora investigou se o treino de videomonitoramento ajuda a melhorar o desempenho do ensino via VM. “Videomonitoramento é quando a criança observa um comportamento e consegue dizer se ele foi feito de forma correta ou incorreta, com base nas consequências que resultam desse comportamento”, explica Mariane Sarmento.
Experimento envolveu pacientes e terapeutas
A tese é dividida em dois experimentos. No primeiro, avalia-se o efeito do videomonitoramento no ensino via videomodelação. No segundo, testa-se a eficácia e a eficiência de um pacote de ensino (composto pela VM, entre outros métodos) para treinar profissionais a implementarem tentativas discretas (DTT, do termo em inglês Discrete Trial Teaching) no ensino de habilidades para crianças com TEA. A DTT é um método sistemático, planejado e controlado que se caracteriza por instruções simples, divididas por etapas, em uma série de tentativas.
No primeiro experimento, Mariane Sarmento conduziu testes com duas crianças com TEA. Durante o processo, aplicou o treino de videomonitoramento. Antes e depois desse momento, houve a verificação da aprendizagem observacional de habilidades da vida diária via VM. “Por fim, um teste de generalização verifica se a habilidade aprendida também serve para outras habilidades. Por exemplo, se nós ensinamos essas crianças a escovarem os dentes via VM, na generalização testamos a preparação de achocolatado”, completa a terapeuta ocupacional.
Os resultados mostram que o videomonitoramento parece contribuir para o aumento da eficiência da VM como ferramenta de ensino de habilidades diárias. As crianças com TEA precisaram de duas a três sessões para o treino das habilidades via VM. Na fase de generalização, houve a aprendizagem de outros repertórios. A pesquisadora faz um alerta: “Outras questões, como o diagnóstico e o perfil individual, podem influenciar na aprendizagem via VM. Por isso é importante o atendimento individualizado e a avaliação criteriosa da criança”.
De acordo com a tese, dados de um estudo-piloto feito no Brasil, em 2011, informam um caso de Transtorno do Espectro Autista para cada 370 habitantes, porém o número de profissionais treinados não atende a essa demanda. Pensando nisso, o segundo experimento teve a participação de quatro profissionais. A primeira fase contou com uma “sonda” inicial, na qual os participantes aplicaram a DTT sem nenhuma orientação. Depois disso, houve uma etapa com instruções escritas, sessão de vídeo e novas tentativas de aplicação da DTT. Em seguida, o grupo realizou uma “sonda” final com os mesmos procedimentos da inicial. Por último, os participantes observaram um profissional treinado aplicando o método de tentativas discretas em duas crianças com TEA para reproduzir o mesmo feito com elas.
Os dados evidenciam a eficácia do pacote de ensino utilizado. Houve uma melhora de 95% no desempenho dos profissionais, entre os testes feitos nos períodos pré e pós-videomodelação. Vale destacar que as crianças apresentaram manutenção ou melhora das habilidades a partir do ensino por DTT aplicado pelos participantes do segundo estudo.
Beira do Rio edição 162
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