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Resenha

Publicado: Terça, 15 de Março de 2022, 17h55 | Última atualização em Quinta, 31 de Março de 2022, 19h55 | Acessos: 1469

Ecletismo e modernidade de Sidrim

Por Walter Pinto Foto Reprodução

Ao publicar em livro a tese sobre a arquitetura produzida por José Freire Sidrim (1881-1969), a arquiteta Ana Léa Nassar Matos torna acessível aos leitores a história de um dos mais criativos e importantes arquitetos que atuaram no Pará, cuja obra passa pela fase de modernização de Belém ao tempo do intendente Antônio Lemos e se estende por mais seis décadas de profícua produção. JOSÉ SIDRIM Os Sinos do Ecletismo em Belém do Pará é um livro que veio a lume já como obra de referência não só pela relevância do tema, como também pela ausência de informações sistematizadas sobre a história da arquitetura e dos profissionais que a produziram na Amazônia, à exceção de Antônio José Landi e Francisco Bolonha, em épocas distintas.

Mesmo diante de tantos atentados cometidos contra o patrimônio arquitetônico ao longo dos anos, a arquitetura de Sidrim é uma permanência na cidade, o que diz muito sobre a qualidade e solidez dos seus projetos. Sua obra mais conhecida, no cruzamento da avenida Magalhães Barata com a 3 de Maio, por onde passam milhares de pessoas diariamente, o Palacete Aurélia Passarinho, mantém suas linhas ecléticas desde 1925, quando começou a ser construído no centro de um terreno de 3.600 m², em meio a jardins franceses, por encomenda do farmacêutico Benedicto Cesar Santos Passarinho. O projeto buscou reunir, em um mesmo edifício, a sensação de morar no campo e na cidade.

Outra obra de Sidrim muito conhecida está localizada no cruzamento da avenida Castelo Branco com a José Bonifácio. O Santuário de São Francisco de Assis (Igreja dos Capuchinhos) começou a ser construído em 1919 e foi concluído em 1922. Dois anos depois, Sidrim concluiu o Palacete Guilherme Paiva, na avenida Dr. Moraes, entre Nazaré e Governador José Malcher. Hoje o prédio pertence ao Exército brasileiro.

A última obra de construção civil do arquiteto foi a Escola Industrial ou Escola de Aprendizes Artífices, na avenida Jerônimo Pimentel, esquina com a travessa Dom Romualdo de Seixas, prédio atualmente pertencente à Escola de Teatro e Dança da UFPA. Os leitores do livro de Ana Léa serão informados que, naquela obra, foi empregada, pela primeira vez, a tecnologia do concreto armado no Pará. Há outros exemplares do ecletismo de Sidrim, não só na capital como também no interior do estado, com destaque, neste caso, ao suntuoso mercado municipal de Óbidos.

O arquiteto tinha perfeita noção da importância do seu trabalho para a modernização de Belém, como se observa na entrevista que concedeu ao Jornal O Estado do Pará, em setembro de 1925. Nela, diz que era conveniente pôr fim ao tipo de construção arcaica na cidade: “Belém é uma grande cidade e não desejo que fique em plano inferior ao de outras cidades, contribuindo com todo o meu esforço, com todo o meu carinho para o embelezamento da construção civil, ousando em estilo arquitetônico moderno, como se faz no Rio e em outras capitais adiantadas”. O ecletismo das linhas arquitetônicas de José Sidrim está relacionado à amplitude dos seus interesses, como a autora percebeu ao consultar os muitos livros da biblioteca formada pelo arquiteto ao longo da sua vida.

José Sidrim nasceu no Ceará e veio para o Pará em 1900, passando a atuar como desenhista do Setor de Obras da Intendência Municipal. Segundo Ana Léa Matos, Belém, naquele tempo, era um verdadeiro canteiro de obras, que recebia profissionais do mais alto prestígio contratados na Europa. A Seção de Obras era um lugar privilegiado no qual tramitavam inúmeros projetos e se fiscalizavam construções de todo porte. Uma das contribuições do desenhista desse período é a Planta da Cidade de Belém, de 1905, já com o traçado de ruas e bairros do subúrbio da capital, apesar de ainda não totalmente implantada.

O livro JOSÉ SIDRIM Os Sinos do ecletismo em Belém do Pará foi estruturado em três capítulos. No primeiro, a autora segue os passos do arquiteto desde Fortaleza até sua chegada em Belém, numa tentativa de reconstruir as condições sociais em que vivia sua família e o processo de formação das raízes que o personagem consolidaria em Belém. No segundo, analisa o crescimento profissional de Sidrim como funcionário municipal, com ênfase nos cursos realizados e na formação da grande biblioteca que também serviu de fonte para a pesquisa empreendida pela autora. O terceiro capítulo é fundamental para a construção histórica e social do personagem, pois volta-se à reconstituição da sua produção arquitetônica. Segundo Ana Léa, “a análise de um conjunto de obras permitiu-lhe visualizar não apenas o desenhista, o engenheiro arquiteto, o funcionário público, mas também o homem e o intelectual articulado com o seu tempo e muito firme diante da sua compreensão do fazer arquitetônico”.

Livro: JOSÉ SIDRIM Os sinos do Ecletismo em Belém do Pará. Editora Appris, 354 páginas. Vendas com a autora (analea04@gmail.com)

Beira do Rio edição 162

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