O novo e o antigo de mãos dadas
Estudo discute bairro histórico para além dos casarões
Por Leandra Souza Foto Bruno Cecim/Agência Pará
Belém é marcada pelo contraste entre a arquitetura moderna e contemporânea e os conjuntos de prédios históricos. É longa a conversa entre o passado e o presente na região central da “Cidade das Mangueiras”, especialmente na área responsável pelo processo de fundação da capital: o bairro Cidade Velha.
No entanto nem sempre há acordo entre o novo e o antigo quando se ouve falar sobre o bairro. A região é constantemente apresentada pelos meios de comunicação como aquela que concentra a história e a memória da capital, o que enfraquece a ideia de que existam espaços com traços modernos expressivos.
Esse contexto curioso chamou a atenção de Sidney Pery da Silva Costa Filho, morador do bairro, desde a sua graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFPA. E, assim, o jovem arquiteto foi procurar entender as razões que contribuem para a frequente associação da arquitetura da Cidade Velha com o predicado “antigo”, que costuma definir a região como um todo. Daí surgiu a dissertação “A Nova” Cidade Velha: arquitetura e percepções no entorno do centro histórico de Belém, Pará’’, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/ITEC), com orientação da professora Cybelle Salvador Miranda.
Morador da região que classificou como “nova” Cidade Velha, Sidney Costa Filho afirma não haver muitos estudos sobre a área, em virtude da grande visibilidade dada à porção do bairro que concentra o centro histórico. No estudo, Sidney demonstra que o setor em foco dispõe de características contemporâneas, como serviços essenciais (hotelaria, culinária e lazer), tal como a parte inicial do bairro. “Existe uma área localizada após o canal da Tamandaré, no sentido de quem vem do Comércio, que muitos nem imaginam pertencer à Cidade Velha, acreditando ser Jurunas, pela proximidade com o bairro vizinho”, afirma.
Quem mora na “nova” Cidade Velha ou a frequenta?
Mas o que constitui essa “nova” Cidade Velha? Como reconhecer e classificar as pessoas que utilizam esses espaços? Essas perguntas são fundamentais para compreender o processo de identificação e pertencimento de quem é morador ou visitante assíduo dos lugares que compõem essa região. Por isso Sidney Costa Filho resolveu entrevistar 32 pessoas, de diferentes faixas etárias, que pudessem contribuir com a análise. Os dados indicam uma população “predominantemente jovem”, assim como consta no censo realizado em 2010.
A pesquisa etnográfica permitiu coletar as percepções dos moradores e dos frequentadores sobre essa “nova” Cidade Velha: a relação dessas pessoas com o patrimônio existente na área, com os novos empreendimentos etc. Além disso, com base nesses relatos, foram definidos pontos que marcaram, de alguma forma, a vida dos moradores e/ou dos frequentadores, os quais foram chamados na pesquisa de “pontos de ancoragem da memória”.
Os dados ajudam a entender que os títulos de “antigo”, “histórico” ou “velho” não passam de estereótipos ligados ao bairro. “Boa parte do público pensa que a Cidade Velha está limitada ao centro histórico, onde estão as igrejas, os casarões e a Casa das Onze Janelas. Fica difícil até mesmo definir o que deve ser preservado nessa ‘nova’ Cidade Velha, pois existem construções e edificações localizadas nessa área asseguradas pela legislação do município”, explica o autor da dissertação.
Outra particularidade do bairro é ele ser considerado uma área residencial de classe média e, ao mesmo tempo, contar com locais com características de periferia, como o Beco do Carmo e os arredores do Portal da Amazônia. Isso exemplifica a estratificação social inserida em uma única localidade, como ocorre em boa parte de Belém. Uma das entrevistadas da pesquisa, moradora da Cidade Velha desde o nascimento, afirmou ter notado “mudança estética” em relação à “aparência do bairro”: trechos que antes eram muito humildes (com construções de madeira) passaram a adotar “casas de alvenaria”.
Novos negócios devem “somar” com a dinâmica local
Um bairro complexo, com esse tipo de especificidade, precisa ser exposto em sua totalidade, ou seja, é necessário apresentar o passado e, mais do que isso, preservá-lo. Entretanto também é preciso entender que todos os espaços estão sujeitos ao processo de globalização e podem sofrer mudanças em suas estruturas territoriais.
A pesquisa deixa claro que os novos empreendimentos devem contribuir com a dinâmica do bairro, principalmente com as construções mais antigas, pois todos os cenários que compõem a Cidade Velha coexistem um em função do outro. Para o pesquisador, o uso e o manejo da área dependem da fiscalização de instituições como a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel).
Lazer, culinária e compras na “nova” Cidade Velha
Para pedalar ou fazer atividades físicas, o Portal da Amazônia (1) é excelente. Agora se o objetivo é ter um contato com a fauna e a flora local, é indispensável uma visita ao Parque Zoobotânico Mangal das Garças (2), ambos os espaços são gratuitos.
A região ainda abriga bares e restaurantes, como o Don Barriga Restô (3), a Casa do Saulo Quinta de Pedras (4), o Hang Burgs (5), o Point do Açaí (6), o Bar e Churrasquinho Dois Irmãos (7), o Boteco do Bacú (8), o Bar do Arsenal (9), o Bar The Beatles Yellow Submarine (10), o Quintal Meraki Bar & Restô (11) e o Mormaço Bar e Arte (12), além do hotel Atrium Quinta de Pedras (13).
Quem gosta de futebol também tem a opção de frequentar os estabelecimentos Sabino Futebol Society (14) e Arena Vindi (15). Para acesso rápido a locais de compras e abastecimento doméstico, duas grandes redes de supermercados estão presentes na área: Líder 24h (16) e Atacadão (17).
Beira do Rio edição 165
Redes Sociais