Um clube de encontros e descobertas
Escola cria estratégia para incentivo e formação de leitores
Por Rebeca Amaral Ilustração Walter Pinto
Já parou para pensar quantos livros você leu este ano? Nenhum, entre dois e cinco, entre cinco e dez ou mais de dez? A leitura pode não ser a sua praia, assim como não é o hobby da maioria dos brasileiros, mas será que é possível adquirir esse hábito por meio de alguma ferramenta, como um clube de leitura? A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2020, (retratando o ano de 2019) mostrou um país dividido: são 52% leitores e 48% não leitores (considerando pessoas a partir dos cinco anos).
A dissertação da professora Ruanne Fabrícia Torres Ribeiro procurou verificar de que maneira a implementação de um clube de leitura, como instrumento pedagógico, contribuiu para a formação de novos leitores literários em uma escola de Belém (PA). O estudo O Clube de Leitura e a formação de leitores literários: Um estudo sobre as práticas do Grupo de Pesquisa Gelafol-UFPA foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/ICED), com orientação do professor Nilo Carlos Pereira de Souza.
A pesquisadora coletou e analisou dados das práticas de leitura do Projeto “Mediação de leitura: teoria e prática”, do Grupo de Estudos Literários na Amazônia e Formação de Leitor (Gelafol). Os alunos do 7º ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Augusto Olímpio tiveram as práticas de leitura analisadas por meio de entrevistas semiestruturadas durante o período de execução do projeto.
A idade escolar é um período dinâmico, durante o qual, crianças e adolescentes dividem a sua atenção entre disciplinas, amizades, redes sociais e atividades extracurriculares, além da obrigatoriedade da leitura. “Boa parte dos brasileiros não considera a leitura uma atividade para si, muitos não têm a oportunidade de ‘degustar’ um livro sem a obrigação de uma atividade escolar. Nos clubes de leitura, as reuniões são democráticas, valorizam a participação e a colaboração de todos os envolvidos”, explica a professora.
Quem é usuário das redes sociais como TikTok e Instagram tem a possibilidade de conhecer um pouco esse mundo literário por meio das comunidades que se autointitulam BookStagram e BookTok. Os participantes usam as redes para resenhar e comentar livros de forma dinâmica e natural. Essa partilha atinge tanto leitores quanto não leitores e também pode ser considerada um clube de leitura. A adesão a esse formato não é diferente nas escolas. Ruanne Torres Ribeiro avalia que os clubes funcionam muito bem no ambiente escolar porque aproximam a leitura da vida dos alunos. “É uma atividade natural, que envolve descobertas, encontros consigo e com os outros”, diz a professora.
Jovens leitores preferem aventura e fantasia
Um dos desafios é acertar o formato adequado para gerar maior adesão dos leitores. A tendência é que crianças e adolescentes prefiram histórias em quadrinhos e livros com temas mais dinâmicos como aventura e fantasia, mas a pesquisadora ressalta que, “sem dúvida, é necessário deixar o aluno expressar suas preferências, como livros adaptados para filmes e jogos. No entanto acredito no professor como um mediador por excelência, capaz de oferecer leituras que talvez o aluno não busque sozinho”.
Para Ruanne Torres Ribeiro, a perda de leitores tem diversos fatores que envolvem cultura e ausência de políticas públicas. A professora diz que uma das formas de incentivo é o exemplo. Assim como as famílias sentam em frente à televisão para assistir a um programa ou filme, fazer um momento de leitura em família pode ser crucial para instigar o interesse das crianças pela leitura.
“Posso dizer que ter livros por perto e alguém que os lesse para mim todos os dias, antes de dormir, foi algo que mudou a minha vida”, revela a autora. Isto nos leva para os resultados positivos da pesquisa: a relação de confiança entre mediador e aluno é essencial para formar leitores, assim como um espaço livre para expor ideias. Então temos o cenário ideal para a construção de um hábito prazeroso.
Clubes para conhecer
A seguir, indicações da autora e os perfis no Instagram
- Clave do Poético (organizado pela Fafil/UFPA): @clavedopoetico
- Clube de leitura do Gelafol (Organizado pelo professor Nilo Souza, FAED/UFPA): @gelafol
- PA Book Club (mediado pelo Blog Garota Pai d’Égua): @garotapaidegua
- Tempero de Palavras (Clube de leitura sobre comida): @temperodepalavraspa
- Círculos de leitura no Espaço Cultural Nossa Biblioteca (ECNB): @ecnossabiblioteca
- TAG Experiências Literárias Belém: @tagbelem
- Liter UFRA (Idealizados por técnicos da UFRA/Capitão Poço): @literufra
- Leia Mulheres Belém (exclusivo para leitura de autoras mulheres): @leiamulheresbelem
Beira do Rio edição 165
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