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Queimadas e doenças respiratórias

Publicado: Quinta, 29 de Dezembro de 2022, 13h33 | Última atualização em Terça, 03 de Janeiro de 2023, 13h44 | Acessos: 2038

Crianças entre 1 e 9 anos de idade são os que mais sentem os efeitos 

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Por Adrielly Araújo Foto Agência Brasil/Jose Cruz 

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento na Amazônia no mês de novembro alcançou 555 km², um aumento de 123% em relação ao mesmo período de 2021. Em dados recentes do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, foi apontado que a área amazônica vem sendo devastada no maior ritmo dos últimos 15 anos, e o Pará foi o estado mais desmatado no último mês: 276 km², quase metade de toda a devastação registrada na região (47%).

O aumento do desmatamento no Brasil impacta diretamente o crescimento da poluição do ar, já que representa grande presença de queimadas no nosso país. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada quatro mortes de crianças abaixo de 5 anos, uma está relacionada com a poluição do meio ambiente, o que equivale a 93% das crianças vivendo em lugares de baixa qualidade do ar.

A informação foi discutida pelo pesquisador Maurício do Nascimento Moura, na tese de doutorado Aerossóis de queimadas e internações hospitalares por doenças respiratórias em crianças no estado do Pará, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Pará (IG/UFPA), orientada pela professora Maria Isabel Vitorino e coorientada pelo professor Glauber Cirino.  

O objetivo do trabalho foi investigar e analisar os efeitos dos aerossóis de queimadas florestais na saúde humana e também enfatizar a preservação do meio ambiente. O grupo populacional escolhido para análise foi o de crianças de 1 a 9 anos de idade, nas cidades de Santarém (fora do arco do desmatamento) e Marabá (dentro do arco do desmatamento). 

“Nós trabalhamos com uma série temporal de quase 20 anos, para diversas variáveis, incluindo desmatamento, focos de queimadas, aerossóis de queimadas, material particulado fino (aerossol com diâmetro menor que 2.5 micrômetros), internações hospitalares por doenças respiratórias, índices climáticos e algumas variáveis meteorológicas, como umidade, temperatura e precipitação (chuva)”, relata o pesquisador.

“Primeiro, foi feito um estudo ecológico de caráter epidemiológico, que é quando se separa apenas um grupo específico dentro de uma população geral. Por último, separamos nossas análises em várias escalas de tempo: diária, mensal, sazonal e decadal, para observarmos o efeito desses aerossóis, potencializado pela variabilidade do clima, na saúde humana em diferentes escalas temporais”, conta Maurício Moura. 

Além das queimadas, atividades industriais têm impacto direto sobre o aumento da poluição atmosférica

“Existe uma grande preocupação com a questão do aumento das queimadas florestais em todo o mundo. Nós temos acompanhado incêndios cada vez mais devastadores na parte oeste dos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Califórnia, na Austrália, no Pantanal e aqui na Amazônia, o que já se observa há décadas. Quando essas queimadas passam a influenciar a saúde das pessoas, o assunto torna-se ainda mais preocupante. Além de danos à saúde respiratória, o aerossol de queimada pode causar câncer de pulmão e importantes alterações genéticas a longo prazo, principalmente o aerossol com diâmetro menor que 2.5 micrômetros (material particulado fino), o qual consegue adentrar com mais facilidade no trato respiratório e chegar aos alvéolos pulmonares”, explica Maurício Moura, autor da tese.  

É importante sempre enfatizar que as ações humanas podem trazer consequências graves para o ambiente em nossa volta, e consequências diretas para o próprio indivíduo, como é o caso da saúde. O estudo mostrou que o pico de poluição por queimada acontece sempre no mês de setembro, em Marabá, e em novembro, em Santarém. O pesquisador alerta que além das queimadas outras atividades industriais, como as siderúrgicas e as mineradoras, também contribuem de forma significativa para o aumento da poluição atmosférica.

Em todas as escalas de tempo analisadas, o aumento da poluição por queimadas esteve acompanhado de aumento de internações por doenças respiratórias. “Constatou-se que as queimadas têm importante contribuição para o aumento das internações hospitalares, pois a análise de regressão linear mostrou associação estatisticamente significante entre a taxa de internação hospitalar e a poluição causada pela queimada, para os dois municípios estudados, porém com maior correlação em Marabá  ̶  acima de 60%”. 

A pesquisa revela, que ao longo do período seco, quanto maior o número de focos de incêndio florestal, maior a taxa de internação por doenças respiratórias em crianças até 9 anos de idade, tanto para toda a série temporal (2000-2017), como para um ano analisado especificamente (2017).

De acordo com Maurício Moura, o crescimento do desmatamento no município de Santarém, uma região constituída por muitas unidades de conservação ambiental e áreas indígenas, é extremamente preocupante, já que o desmatamento vem sendo acompanhado do crescente número de queimadas e, consequentemente, de poluição do ar, o que acaba denunciando crimes ambientais graves na região.

Beira do Rio edição 165

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