Entrevista
Nova direção expõe planos para a Escola de Aplicação
Por: Walter Pinto Foto: Alexandre de Moraes
Eleito e empossado diretor da Escola de Aplicação (EA) da UFPA, em 2022, o mestre e doutorando em Matemática Edilson dos Passos Neri Junior ingressou na Escola de Aplicação em 2011, onde desenvolve projetos de ensino, pesquisa e extensão. Atuou como coordenador de Ensino Médio (2014 a 2017) e coordenador de Pesquisa e Extensão (2020 a 2022). É autor de livros e de artigos na área do ensino de Matemática. Durante os próximos quatro anos (em março, completa o primeiro deles), terá como diretora-adjunta, a doutora em Química Luiza Helena de Oliveira Pires, professora da EA desde 2011. Nesta entrevista, o professor Neri Junior fala nos desafios de “lutar contra os ataques e desmontes de políticas públicas educacionais que enfraquecem a educação básica, com impactos na qualidade do ensino e da aprendizagem” e da disposição da sua gestão em “ampliar a oferta de vagas de forma planejada”, considerando que qualquer ampliação deve estar em conformidade com fatores como infraestrutura, alimentação escolar, número de servidores, recursos didáticos disponíveis, entre outros”. A nova direção pretende trabalhar para ampliar o programa de bolsas de iniciação científica no ensino médio e criar um programa de bolsas de extensão para estudantes da Escola.
De Escola Primária à Escola de Aplicação
Nestas quase seis décadas passamos por muitas mudanças, como exemplo a abertura da Escola para a sociedade em geral, uma vez que inicialmente a Escola atendia apenas a filhos de servidores da UFPA; a mudança da carreira docente para EBTT (Ensino Básico, Técnico e Tecnológico; a aprovação do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC); a desvinculação do Instituto de Ciências da Educação; mudanças no próprio nome: Escola Primária da UFPA, depois Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) e hoje, Escola de Aplicação da UFPA. Tivemos mudanças no âmbito pedagógico, sobretudo a partir da aprovação do nosso Regimento Interno em 2009 e do Projeto Político Pedagógico em 2017, que fomentaram a reorganização das coordenações pedagógicas, incluindo profissionais para atendimento psicossocial, além do atendimento pedagógico, a criação da Coordenação de Educação Inclusiva, a oferta de disciplinas como Informática Educativa, Alemão e Francês (além do Inglês e Espanhol) e em breve LIBRAS. Nossa estrutura acadêmica e administrativa é um tanto complexa e isso se reflete, dentre outras coisas, em mais de 200 servidores, das duas categorias, que atuam diariamente no espaço escolar.
Desafios a serem superados
Como em toda instituição de ensino pública, a Escola de Aplicação possui diversos desafios que precisam ser superados. Nosso maior desafio está na luta contra os ataques e desmontes de políticas públicas educacionais que enfraquecem a educação básica e, consequentemente, impactam qualidade do ensino e aprendizagem. Naturalmente, esta realidade não é exclusiva da EA, mas atinge todo o contexto educacional no país. Especificamente em nossa escola, acredito que nossos desafios perpassam pela integração plena entre todos os níveis de ensino e a própria Universidade, a atualização do nosso Regimento Interno e do projeto político pedagógico, que precisam estar em consonância com a atual realidade e com os novos marcos legais para a educação básica, técnica e tecnológica.
Propostas para o quadriênio
Nosso programa foi uma construção coletiva e envolveu vários atores da comunidade (docentes, técnicos e estudantes) e se baseou em princípios como a gestão democrática, transparência, a participação integral de toda Escola no planejamento, no compromisso com inclusão, pluralidade e diversidade, entre outros. Para os próximos quatro anos, desejamos ampliar o programa de bolsas de iniciação científica para o ensino médio e criar um programa de bolsas de extensão voltado para estudantes da escola. Desejamos também revitalizar laboratórios e espaços de convivência para estudantes e servidores, ampliar o atendimento psicossocial para os estudantes, estimular projetos que envolvam cultura, esportes e lazer para a comunidade escolar e fortalecer e ampliar ações voltadas para a inclusão e diversidade.
Qualificação de docentes e de servidores
Atualmente temos 158 docentes, dentre os quais, cerca de 70% possuem mestrado ou doutorado. Temos um grande quantitativo de docentes que estão cursando pós-graduação strictu sensu, ou seja, em um curto período, este percentual será ampliado. Preciso dizer também que não somente nosso quadro de docentes é diferenciado, nosso quadro de técnicos também é. Temos hoje na escola muitos técnicos que se qualificaram em termos de graduação e pós-graduação e isto, para todos nós, é motivo de orgulho. Toda essa qualificação se reflete positivamente no dia a dia da escola, pois temos diversidade de projetos de ensino, pesquisa ou extensão desenvolvidos com nossos alunos e suas famílias. Nosso objetivo é garantir aos servidores da nossa escola condições satisfatórias para que eles avancem em sua formação continuada.
Estágio e experimentação científica
Ser um campo de estágio e experimentação científica é um dos nossos diferenciais em relação às outras escolas, e isso advém, essencialmente, da qualificação dos professores e do amplo diálogo da EA com as licenciaturas. Quando nossos professores se qualificam e retornam de seus cursos de pós-graduação, trazem para a comunidade escolar novas ideias e propostas a partir de todo o seu amadurecimento e formação teórica. Toda essa formação se materializa em práticas pedagógicas inovadoras, que são desenvolvidas na EA e trazem um retorno positivo para nossos estudantes e para os licenciandos que estagiam conosco. O estágio supervisionado é um dos canais de diálogo com as licenciaturas, uma vez que, anualmente recebemos centenas de estagiários e seus respectivos orientadores que, colaborativamente com nossos professores, desenvolvem propostas didático-pedagógicas para a EBTT e as implementam nos diversos níveis de ensino da EA. Entendemos que precisamos fortalecer a ampliar esse diálogo com os diversos cursos de graduação e não somente com as licenciaturas, com vistas a desenvolver com a comunidade escolar práticas pedagógicas inovadoras, criativas e, fundamentalmente, que contribuam para que nossos estudantes façam suas escolhas de vida com liberdade, autonomia e criticidade. Além disso, precisamos encorajar a comunidade escolar e os licenciandos a divulgarem todas essas experiências, bem como construir uma rede de colaboração com outras instituições de ensino, para que possamos compartilhar estas experiências exitosas.
Acesso à comunidade
A EA tem hoje 1347 alunos matriculados nos diversos níveis de ensino. O ingresso na instituição ocorre a partir de um sorteio público, uma vez que a demanda da comunidade é muito superior ao número de vagas que ofertamos anualmente. Compreendo que a escola não pode se isolar e fechar suas portas para o público, pelo contrário, penso que precisamos ampliar esta oferta de vagas, bem como garantir a democratização do acesso dos estudantes. Contudo ratifico que a ampliação da oferta deve ocorrer de forma planejada, pois o número de alunos matriculados está em relação com elementos importantes como a infraestrutura, alimentação escolar, número de servidores, recursos didáticos disponíveis, entre outros. Todos esses itens balizam nosso planejamento em direção à oferta das vagas e esta ampliação que desejamos deve ocorrer de forma a manter o ensino de qualidade que ofertamos e permitindo que nossos docentes e corpo técnico continuem a desenvolver suas atividades no tripé ensino, pesquisa e extensão.
Biblioteca e laboratórios
A biblioteca e os laboratórios são espaços fundamentais para muitas das nossas atividades pedagógicas e as condições destes espaços são um dos desafios que precisaremos superar, uma vez que os recursos financeiros não são suficientes para atender todas as demandas em única vez. Além de investir na melhoria dos espaços físicos, precisamos equipá-los com livros, materiais didáticos e recursos tecnológicos que atendam às necessidades da biblioteca e dos laboratórios. Desejamos também incentivar docentes e técnicos a desenvolverem projetos para concorrer aos editais quem financiam a implementação e/ou readequação dos laboratórios. Além de revitalizar estes ambientes que já possuímos, desejamos implementar novos espaços para o desenvolvimento de atividades como a robótica educacional, produção de recursos de tecnologia assistiva, educomunicação, entre outros.
Beira do Rio edição 165
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