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Silenciosa e negligenciada

Publicado: Segunda, 03 de Julho de 2023, 21h33 | Última atualização em Segunda, 10 de Julho de 2023, 16h06 | Acessos: 1233

Vírus HTLV segue desconhecido pela maioria da população

#ParaTodosVerem: Fotografia destaca, no plano central, um suporte azul, com vários tubos de ensaio com soluções na cor vermelha e reflexo de cor azul. À frente, dois tubos coletores de sangue preenchidos.
#ParaTodosVerem: Fotografia destaca, no plano central, um suporte azul, com vários tubos de ensaio com soluções na cor vermelha e reflexo de cor azul. À frente, dois tubos coletores de sangue preenchidos.

Por Jambu Freitas Foto: Karolina Grabowska (Pexels)

Você sabia que o estado do Pará está entre os três estados brasileiros com maior ocorrência de infecção pelo HTLV? O vírus T-linfotrópico humano, também chamado de HTLV, foi isolado, pela primeira vez, no começo dos anos 80 e é dividido entre os tipos 1 (HTLV-1) e 2 (HTLV-2). O desenvolvimento de décadas de pesquisa permitiu a ligação da infecção do HTLV-1 com doenças que surgem entre 3% e 5% dos infectados, como inflamações no sistema nervoso, nas articulações, na pele, nos pulmões, nos olhos, ou, mais raramente, nos casos de leucemia-linfoma de células T do adulto (ATL).

Classificado como um retrovírus, os HTLV- 1/2 apresentam transmissão semelhante à de outros vírus da família Retroviridae, como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Assim, a transmissão pode acontecer por via sexual, quando não há a utilização de preservativo; por via vertical, com a contaminação da mãe para o fi lho, de maneira intrauterina, durante o parto, ou por meio da amamentação; ou por via sanguínea, com o compartilhamento de objetos perfurocortantes, ou pelo recebimento de doação de sangue de pessoa infectada. Com a falta de diálogo e de debate sobre a doença, muitos dos infectados não têm conhecimento de sua contaminação, dificultando o controle da enfermidade e a conscientização sobre o problema. No Pará, a doença é encontrada entre candidatos à doação de sangue, populações indígenas e usuários de drogas, mas a prevalência dela na capital, Belém, ainda precisa ser melhor avaliada.

Marcada pela dificuldade na prevenção, no controle e no diagnóstico, especialmente em países subdesenvolvidos, a infecção pelo HTLV permanece sem vacina ou cura defi nitiva conhecidas. A principal arma de combate segue sendo a divulgação de informações essenciais sobre a doença, a oferta de diagnóstico e acompanhamento, além da produção de pesquisas que monitoram a progressão da doença em determinadas regiões.

Em Belém, para compor a avaliação dos HTLV-1/2 na cidade, o acadêmico do curso de Farmácia da Universidade Federal do Pará (UFPA) Bruno José Sarmento Botelho desenvolveu, com a equipe do Laboratório de Virologia (LabVir/ICB), o trabalho Avaliação do perfi l epidemiológico da infecção pelo HTLV na cidade de Belém-Pará. A pesquisa foi orientada pelo professor Antônio Carlos Rosário Vallinoto e está ligada ao Projeto de Pesquisa “Marcadores epidemiológicos de frequência dos HTLV-1/2, seus subtipos moleculares e aspectos sociocomportamentais de risco para a infecção em populações humanas das Regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil”.

Pesquisa ajuda a mapear cenário da doença em Belém

Desenvolvido no período de agosto de 2021 a agosto de 2022, o trabalho teve como objetivo traçar um perfil soroepidemiológico da infecção de acordo com sexo e faixa etária, observar a prevalência dos tipos de HTLV encontrados e descrever os principais fatores comportamentais de risco daqueles com diagnóstico positivo, considerando relações sexuais desprotegidas, uso de drogas injetáveis, realização de transfusão sanguínea e aplicação de piercings ou tatuagens.

A pesquisa envolveu uma abordagem populacional, com a análise de 1.572 indivíduos moradores da cidade de Belém. A maioria dos estudos sobre esse tema considera populações específicas. Do total de participantes, 6 indivíduos testaram positivo para a presença de anticorpos para HTLV, sendo 4 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Metade dos analisados foi diagnosticada com HTLV-1 e a outra metade, com HTLV-2. Para o jovem pesquisador, a pesquisa ajuda a traçar o curso da infecção na população belenense, podendo relacionar fatores de risco com a infecção.

“Todo estudo de corte transversal, de prevalência, possui a finalidade de analisar a infecção em uma população em determinado corte de tempo e serve para realizarmos comparações sobre o comportamento do vírus em outros períodos, em que foram realizados estudos transversais semelhantes. Quando se aplica um método analítico, é possível inferir associações relacionadas às causas ou consequências da infecção de maneira mais rápida e, a posteriori, gerar novas hipóteses para estudos futuros. Em outras palavras, é uma espécie de fotografia em que se pode analisar o contexto da situação de saúde naquele momento e prospectar novas pesquisas”, destaca Bruno José Sarmento Botelho.

Estudos anteriores, realizados na Região Metropolitana de Belém, comprovaram a prevalência, na área, do tipo mais raramente associado a outras doenças, o HTLV-2. Uma das variantes moleculares do vírus também foi encontrada nas populações indígenas isoladas na Amazônia, bem como na população urbana de Belém. A teoria debatida pelo Grupo de Virologia da UFPA, desde a década de 90, considera o processo de miscigenação o responsável pela presença da variante HTLV-2 entre a população da região.

Embora o HTLV-2 esteja pouco conectado ao desenvolvimento de doenças, os estudiosos apontam que é importante que se proponham pesquisas cada vez mais abrangentes para que se mantenha o controle da porcentagem de infectados e do desenvolvimento de doenças que possam estar ligadas à infecção. A escassez de pesquisas sobre as dinâmicas de adoecimento de pessoas vivendo com HTLV-1/2 pode ocultar os números reais da doença.

Iniciativa da UFPA oferta atendimento para pessoas com HTLV

Como parte de um projeto que busca dar mais visibilidade à infecção de HTLV-1/2, o LabVir da UFPA desenvolve o Serviço de Atendimento à Pessoa Vivendo com HTLV (SAPEVH). A ação une profissionais de diversas áreas da saúde para promover um serviço de triagem e diagnóstico da infecção, acolhimento e aconselhamento dos pacientes, bem como monitoramento das condições de saúde do indivíduo infectado, com um calendário de consultas, exames e métodos terapêuticos em caso de detecção de patologias relacionadas à doença.

O diagnóstico é realizado por meio de dois testes laboratoriais que analisam amostra de sangue coletada em laboratório. No primeiro deles, é verificada a presença de anticorpos contra o vírus e, no segundo, em caso de resultado positivo, é verificada a presença do material genético do vírus.

A ação busca ofertar um serviço de ambulatório específico para oferecer melhor suporte ao paciente. Os atendimentos são realizados no Laboratório LabVir, no Campus Guamá da UFPA, sempre às sextas-feiras, das 8h às 12h. É necessário apresentar o encaminhamento médico que solicita o exame de pesquisa de infecção pelo HTLV. Caso haja confi rmação de diagnóstico, o paciente é encaminhado para atendimento na Unidade Municipal de Saúde do bairro Jurunas.

Saúde e Informação Estudantes da Faculdade de Medicina da UFPA desenvolveram um aplicativo que amplia o acesso a informações sobre o vírus HTLV. A ferramenta foi pensada em parceria com o LabVir da UFPA. O HTLV Info, como foi batizado o aplicativo, apresenta informações de prevenção, sintomas e modos de transmissão da doença, bem como acesso a informações sobre os Centros de diagnóstico da infecção na Região Metropolitana de Belém. Pelo software, o usuário também consegue agendar, no SAPEVH, o teste rápido para detecção do vírus. O App HTLV Info está disponível para download gratuito no Google Play.

Beira do Rio edição 167

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